Bela Lugosi's Dead

"Ciclo"

"Os índices de suicídio entre jovens têm aumentado nos últimos meses..."

Assistia o noticiário com aqueles olhos estreitos, profundos e lacrimejantes enquanto mascava um chiclete segurando uma corda.
Pegou sua jaqueta, saiu de seu quarto de hotel e andou pela cidade com aquela corda, até encontrar a árvore mais alta do parque...

"Uma jovem foi encontrada pendurada em uma árvore no parque que fica no centro da cidade..."

Um casarão distante do centro da cidade, um pouco abandonado, mas que abrigava vários hóspedes, entre eles, estava Marlowe se sentindo em um ciclo ou loop infinito, sentada na cadeira de seu quarto em frente a uma máquina de datilografia tentando sair de seu bloqueio criativo. Mordia uma unha pensando na próxima palavra que iria escolher... Tinha a sensação de que estava vivendo toda aquela composição musical novamente...
O cenário tedioso em que me encontro é de enlouquecer a qualquer um... Tudo a minha volta parece estar morto... Eu também estou... Estou há muito tempo. - Amassa o terceiro papel na tentativa de compor uma nova música. - Existir na tentativa de viver... - Hesitou em escrever um texto na máquina, rasgou dramaticamente o papel, fazendo tilintar o rolo, deslizando-o raivosamente para lá e para cá.
Arrastou-se na cadeira, logo, se levantou, pegou seu contrabaixo, fez uma melodia com simples notas enquanto sacudia a cabeça com os longos cabelos caídos em seus olhos e que chegavam até seu antebraço. Os graves do instrumento parecia envolver seu corpo que estava em perfeita harmonia com o ritmo.

- "Undead, undead, undead. Undead,undead, undead"- cantou. - Oh, não... Falta algo... Alguém... Bela! Oh, Bela! "Bela Lugosi's Dead" - cantou tocando.

Rodopiou com o contrabaixo enquanto dava ritmo a sua cantoria.

A música tocada, é fácil de ser escutada, o difícil é poder ouvir sua consciência...

Saiu de seu quarto, desceu as escadas e no salão principal pôde observar as pessoas, estavam pálidas e ao mesmo tempo descontentes, pareciam estar vagando em suas próprias vidas.
Nas ruas, tudo estava calmo, um pouco de neblina e garoa. Tinha a mania de às vezes mudar o peso do corpo de um pé para o outro enquanto andava.
De repente viu algumas pessoas em volta de um prédio alto, se aproximou, em cima do prédio havia uma mulher de braços abertos prestes a se jogar e todos em volta estavam em silêncio apenas observando a situação.

- Ajudem ela! Façam alguma coisa! Não fiquem apenas olhando! Ei, não faça isso! - Gritou Marlowe.

- Ela ainda não entendeu... Quando se der conta seu verdadeiro sofrimento irá começar... - Falou uma mulher para outra ao lado.

- Como assim? Do que estão falando...?

Logo, a mulher se jogou do prédio e as pessoas apenas assistiram, enquanto Marlowe gritava.

- O que há com vocês?! - Disse ao ver as pessoas indo embora depois de ter assistido um suicídio como se fosse um espetáculo.