capitulo único

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  Fraco, sempre fraco, não importa como, mesmo que goste de pensar que é forte por enfrentar tudo sozinho sempre dizendo que tudo está bem mesmo que não esteja. Já era normal ficar fraco e passar mal, era como uma rotina, ao levantar tudo escurecia, tontura batia e pernas fraquejavam, sempre se segurando em algo para não cair, enjoo também era muito presente, muitas vezes pensava que ia colocar tudo que tinha no estômago para fora, o que não é muita coisa já que as vezes nem comia.

  Coisas básicas do cotidiano viraram uma guerra. Levantar todos os dias virou uma luta e havia dias que nem isso conseguia, como deixou-se chegar a esse ponto ele se perguntava, mas as respostas imediatas que vinham em sua mente, eram as mesmas de sempre que parava para pensar nessas coisas. Nunca quis ficar assim. Estou doente e a culpa não é minha. Eram as primeiras coisas que vinham, mas seguidas delas estavam frases totalmente diferentes. Sim, a culpa é sua, se está assim é porque quis. Isso é drama, deveria valorizar mais o que você tem. Muitas pessoas dariam tudo para ter sua vida. Aquilo o sufocava, só queria se ver livre de toda aquela pressão, julgamentos e culpa.

   Era domingo e tudo caminhava normalmente, aquele dia até que estava indo bem, já que havia passado mal apenas três vezes antes de sair de casa, o que era um alívio porque geralmente passava mal no mínimo cinco, e quando comia algo eram mais, achava que isso era resultado de ter ficado sem comer desde o almoço do dia anterior, o que era ótimo, faria com que passasse mal menos vezes durante o treino, Bokuto disse que queria passar o dia todo treinando, então iriam se encontrar no ginásio da escola logo de manhã, pois alegava Koutarou, que a chance de treinarem na escola, só os dois, em fim de semana, não deveria ser desperdiçada.

  Quando chegou, esperava que o outro já estivesse lá, mas para sua surpresa foi o primeiro a chegar, achou que o de cabelos acinzentados havia se atrasado ou perdido a noção do tempo enquanto arrumava aqueles tão charmosos cabelos, ou ele poderia ter se perdido, desastrado como era, mas isso era improvável.

  Preocupado, o ligou, mas sem resposta. Ligou mais algumas vezes sem obter sucesso então ligou a mãe do mesmo, conseguiu aquele contato quando a coruja cabeça de vento esqueceu o celular então deu o numero da mãe para Keiji, coisas assim aconteciam com mais frequência do que deveriam, então era normal o mais novo ligar para senhora Bokuto.

   Ela lhe atende com a recepção calorosa de sempre, mas logo depois da pergunta que recebeu sua voz mudou para um tom preocupado, o garoto pergunta se Bokuto estava bem e se já tinha saído de casa, pois ainda não havia chegado. Ela responde que ele saiu cedo e deveria estar no ponto de encontro dos dois há muito tempo. Com a resposta da mulher, ambos estavam começando a entrar em desespero, não tinha como Koutarou se perder em um caminho que fazia praticamente todos os dias, tinha?
Pois bem, ele não havia.
 
   O rapaz avistou algumas pessoas correndo para outra rua e logo escuta a conversa de duas garotas dizendo que na rua ao lado houve um acidente, poderia ser que ele encontrasse o outro lá, o parecido com uma coruja se distraia fácil e isso era uma distração bem grande ou ele fez uma idiotice e se meteu no acidente, quando percebeu que seu amado poderia estar no meio de tudo aquilo, desligou e guardou o celular e pos se a correr. Correndo feito louco pelas ruas, chegou ao destino, atravessou a multidão que se formava ao redor do caminhão batido no poste, ali ele viu a coisa que mais temia, o corpo de seu querido Bokuto-san, caido no chão em posição fetal agarrando algo e sem vida.

  Ainda não tinham policiais no local e nem a ambulância chegara, desesperado chegou ao lado do corpo de o abraçou, ainda estava um pouco quente, mas frio demais para aquele corpo que sempre emanava muito calor, lentamente, começa a esticar o corpo para conseguir ver o que o outro tanto protegia, de baixo de todo aquele sangue, havia um gato que foi protegido por Koutarou. O quao idiota ele poderia ser? Morreu para salvar um gato.

   Bokuto-san, seu idiota. Foi a única coisa que conseguiu pensar em meio às lágrimas. Aqueles lindos olhos estavam ainda mais parecidos com o oceano agora que estavam cheios d'água, não sabia o que fazer, Koutarou era seu porto seguro, a única pessoa que era sempre bem vinda quando Akaashi estava desmoronando, a única que poderia ficar quando ele simplesmente queria que ninguém atrapalhasse seus planos de desaparecer. Eram eles contra o mundo.

  Logo quando estava começando a achar que poderia ficar bem, que poderia superar todas as desgraças que tinham em sua vida, acontecia isso. Por que essas coisas tinham que acontecer em horas como essa? Aquilo foi a gota d'água, um empurrão para que fizesse o que sempre desejou, mas o mais velho lhe impedia, aquele seria o dia em que ambos morreriam.   

   Decidido, volta para casa às pressas e sobe ao terraço do prédio, o garoto já não aguentava mais, então se atira ao chão em direção ao que sempre quis, ao que sempre desejou, o fim de tudo, a morte.
 
   Caiu sentindo a brisa fria dominar o corpo até chegar ao chão, demorou apenas alguns segundos para perceber que não havia morrido, com raiva pela morte falha abriu os olhos e olhou para seu corpo ensanguentado, notando diferenças no mesmo, uma delas foi que não respirava mais e o coração que tanto ouvia bater em suas orelhas não fazia mais som, era raro aquele ansioso coração bater baixo, mas mesmo assim se deu o trabalho de checar o pulso. Nada. Estava morto, porém vivo já que ainda existia, tinha virado um morto vivo, voltando para dentro de casa querendo acabar logo com o que começou.

  Parou em frente ao espelho, era impossível não notar o corpo magro e atlético agora estando praticamente puro osso, mas o que mais chamava atenção, como sempre, eram seus olhos, agora sem cor, inteiramente pretos, assim como o nada, estavam vazios.
 
   Keiji era chamado de o garoto dos olhos bonitos e muitos sempre diziam-lhe que gostariam de ter aqueles olhos, mas a muito tempo, esses tão belos olhos perderam o brilho que um dia tiveram, apenas o tão amado Bokuto-san fazia os olhos de Akaashi brilharem. E agora aqueles tão belos olhos nunca mais brilhariam.

   Se não queria viver antes quando tinha um bom corpo, imagine agora, que estava com o corpo como o de um zumbi, literalmente, cansado de tudo, pegou uma faca e a enterrou no peito, nao teria coragem de fazer aquilo se estivesse vivo, tanto que esse foi um dos motivos para ter demorado tanto para cometer tal ato e para escolher pular de um prédio, mas como já estava morto, decidiu que morrer de novo não seria ruim.

  Finalmente, sentiu-se livre, agora que não tinha mais que sentir todas aquelas angústias, dores no peito e muitas outras coisas, estava bem, era como se estivesse mais vivo do que jamais esteve. Não é como se alguém fosse sentir falta ou notar que ele morreu, não havia ninguém que realmente se importasse, mas mesmo assim iria ter um funeral onde inúmeras pessoas que trocaram somente algumas frases com Keiji estariam chorando, dizendo o quanto lamentavam pelo garoto dos lindos olhos ter partido.

    Hipócritas, não? Akaashi sofria todos os dias sempre morrendo dentro de seu quarto, sendo prisioneiro de sua mente e tendo que passar por terríveis coisas graças a depressão que tinha, mas como a doença se encontrava no psicológico do rapaz ao invés do físico ninguém ligava para isso, exceto claro, seu melhor amigo, Bokuto Kotaro. ele era a melhor pessoa que já esteve em sua vida e a única que realmente gostava.

   Aquele foi o tão memorável dia que dois dos melhores jogadores colegiais nível nacional de vôlei morreram. A ave de rapina, a grande coruja de belos cabelos acinzentados e espetados, e seu melhor amigo, o garoto dos olhos bonitos.

  Poderiam dizer que morreram e ficaram juntos, porem nao sabemos o que o universo aguarda para esses dois, quem sabe em uma outra vida, eles possam se encontrar e cuidar daquele gato, se aquelas almas ainda tiverem energia, outra vida espera por eles, e assim aqueles olhos tão lindos, poderam enfim, brilhar novamente.

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