"Em todo o tempo ama o amigo, e na angústia nasce um irmão" Pv. 17.17
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Danielle não sabia mensurar quanto tempo estava ali, no seu escritório da Doceria, consolando um Rafael muito diferente do que conhecia. Seus olhos sempre brilhantes, agora brilhavam pelas lágrimas que insistiam em cair e que pelo visto, ele não conseguia evitar. A moça sentia em seu peito uma força esmagadora, como um forte murro, apunhalando-a de modo certeiro. Ela podia sentir a dor dele ao sentir seus espasmos, ouvir seus soluços que a matava por dentro. Dani nunca havia visto Rafael Bretas chorar. Nunca havia imaginado que a cena que se desenrolava diante dela pudesse algum dia ocorrer. O contrário era totalmente factível e já havia acontecido de forma similar.
Ela se lembrava bem. Estava na casa do seu tio Moacir, com a mãe e a irmã. Teria cerca de 14 ou 15 anos. Na verdade, a memória ainda estava nítida em sua mente. Ela tinha 14 anos. Estava envolvida com os primos, trocando figurinhas com a Isabel, sua prima mais chegada. Tudo parecia estar indo bem, quando sua mãe apareceu com a tia e de repente começou a falar do quanto se lamentava com o fato da filha não possuir a beleza da família Vidigal. Todas eram esbeltas e de cabelos compridos, lisos ou alisados, mas Dani era diferente. Além de ser mais gordinha que as primas e a irmã, gostava de usar os cachos soltos. A mãe já havia tentado várias vezes submetê-la a processos químicos, mas a garota sempre dava um jeito de escapulir. Ela queria ter o direito de escolher como usar seu cabelo, de deixá-lo livre ou não. Para sua mãe, era um crime e usar seus cachos livres era um defeito grave que a deixava deselegante. E Deus nos livre de ser deselegante diante da dona Alinéia!
Porém, ter suas diferenças expostas em presença de sua tia e primas, a deixou arrasada! De início baixou a cabeça, mas quando sua mãe continuou constrangendo-a sem se importar com seus sentimentos, levantou a cabeça e viu os olhos penalizados de sua tia, completando sua humilhação! Ela não suportou e saiu correndo. Não conseguia enxergar nada à sua frente, as únicas palavras que ouvia eram de sua mãe ressaltando seus "defeitos". Ela correu, correu, sem direção, sem saber pra onde ia.
Seus tios moravam numa bucólica cidade do interior, onde os vizinhos próximos ficavam a uma distância considerável. Danielle não sabia para onde ia, mas nem queria saber. Seu desejo era sumir, se afastar cada vez mais de toda aquela vergonha. Sem conseguir correr chorando e de óculos, retirou-os e deixou-os cair. Continuou correndo e talvez corresse como Forrest Gump ao ser abandonado pela sua amada Jenny, se não fosse a montanha que se materializou à sua frente, fazendo-a parar. Ela mal enxergava, as lágrimas e sua miopia não permitiam visualizar com clareza, mas teve plena certeza de que não se tratava de uma montanha de verdade. Realmente. A montanha tinha um peitoral duro, definido, e tinha braços, que a ampararam antes que ela completasse sua humilhação caindo diretamente com o traseiro no chão. Ao levantar os olhos e visualizar aquele rosto belo, seu rosto escuro em chamas, não havia mais como piorar sua situação. Ela havia trombado com um dos filhos bonitões do senhor Valter! Não importava qual deles, ambos eram lindos e estar ali, naquele lugar, naquele momento, naquela situação... ah, era a epítome da humilhação adolescente dela!
— Opa! Calma, mocinha! Para onde vai com tanta pressa? — perguntou simpaticamente o rapaz, que ao levantar o rosto da moça em sua direção, percebeu de imediato a confusão em que ela estava: cabelos desgrenhados ao vento, olhos inchados de tanto chorar. — Calma, está tudo bem? Posso ajudar em alguma coisa?
Aquelas palavras foram o estopim para estourar de vez a represa que já estava gotejando. Danielle se esqueceu que o rapaz mal a conhecia, de que não estaria apresentável e que provavelmente mais tarde se arrependeria da forma como havia agido ali: abraçou o rapaz e liberou as lágrimas que porventura ainda permaneciam sem cair. Automaticamente, ele a abraçou, e acariciando seus cabelos, ia falando baixinho em seu ouvido que tudo ficaria bem. Ela acreditou em suas palavras. Tudo ficaria bem.
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Entrelaçados - EM PAUSA
عاطفيةSerá que podemos ter o controle da nossa vida, realmente? E quando não podemos controlar, o que acontece? Rafael Bretas é um jovem alegre, cuja vida, até certo ponto, havia sido perfeita. Filho caçula de uma admirável família, se sentiu atemorizado...