I ⋆ lacrimae

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Quero que alguém me diga que não vai embora. Que valho mais do que ser deixado para trás.

🎨

Sentado em seu grande sofá de tecido vermelho, olhando para uma lâmpada apagada no teto, Jungkook vegetava. Naquele cômodo escuro o ar parecia pesado demais, suas pernas e braços pareciam pesados demais e sua vida parecia insuportável demais.

E ele pensava.

Pensava e pensava mais um pouco na esperança de ter alguma ideia digna de sua atenção e transformá-la em obra de arte. E isso era tudo o que fazia nos últimos anos. Na esperança de vencer a batalha que travava fazia tempos em sua mente contra seu bloqueio criativo, e a cada dia a vitória parecia mais um sonho inalcançável do que um objetivo possível.

Seu dinheiro estava acabando, economizava em tudo o que podia e já havia tentado vender até mesmo os desenhos ㅡ feios ㅡ que havia traçado no papel quando era mais novo, entretanto, todas as suas tentativas de transformar um pensamento ou uma utopia em traços e pinceladas haviam sido frustradas pois estava se auto sabotando.

Era como nadar contra a maré, seu corpo queria desesperadamente respirar, se entreter com as sensações já cômodas e conhecidas por si quando pintava um quadro novo, mas em resposta a maré ㅡ sua própria mente ㅡ o golpeava impiedosamente contra o corpo exposto, estragando quase instantaneamente qualquer projeto de ideia que tinha.

Culpava seu cérebro e culpava a si mesmo, fingia não saber em qual momento dos passados cinco anos havia se tornado um homem desesperançoso e desacreditado na vida. Mas, na verdade, sabia exatamente o que havia ocorrido, por mais que lutasse diariamente para apagar de sua memória a experiência traumática que havia vivido.

Psicólogos, psiquiatras e médicos especializados em transtornos gerais dizem que tentar descobrir o motivo que gerou a desordem em um paciente é como planejar uma expedição até a terra do nunca, porém, para Jungkook, a situação era diferente, ele sabia exatamente porque havia chegado naquele ponto, apenas estava em negação, sonegando a dor e correndo dela dia após dia.

Só acordou dos devaneios quando escutou o balançar do chaveiro de seu melhor amigo contra a fechadura da porta principal, a abrindo em seguida.

ㅡ Jungkook! ㅡ Ouviu a voz de Taehyung assim que o homem entrou dentro de seu apartamento ㅡ Onde está seu telefone?

Jungkook apenas murmurou que não sabia, porém Taehyung não conseguiu o ouvir, e voltou a perguntar, dessa vez parado em frente ao corpo de aparência cansada do pintor.

ㅡ Não sei, deve estar no quarto ㅡ Respondeu, dessa vez mais alto.

Levou as mãos ao rosto quando o amigo abriu as enormes cortinas da sala de sua casa, fazendo o Sol entrar em um súbito, piorando a dor de cabeça da ressaca que Jungkook sentia.

ㅡ Se você não quiser cometer um assassinato hoje, eu acho melhor não abrir o twitter ㅡ Taehyung sugeriu enquanto caminhava até o banheiro no fim do corredor, a fim de buscar algum remédio para a ressaca do amigo.

Era um ciclo vicioso, Taehyung passava os dias de semana com o Jeon, fazendo companhia para o moreno e tentando ajudá-lo a inventar alguma ideia de pintura, por volta das cinco horas da tarde ambos já estavam esgotados psicologicamente então o Kim voltava para casa, e ia dar atenção para seu namorado, enquanto isso, Jungkook provavelmente se afogava em lágrimas e cobria seus traumas com vinhos e cervejas de quinta categoria, tentando desesperadamente mascarar a dor que sentia. Então no dia seguinte, Taehyung o encontrava jogado em algum lugar do grande apartamento e sobrava para si medicá-lo e cuidá-lo.

Depois de entregar um copo de água para o moreno e duas pílulas brancas de um genérico para dor de cabeça, Taehyung correu até o quarto de Jungkook, na esperança de limpar quaisquer resquícios da merda que havia feito na noite anterior porém, foi em vão, pois quando se deu conta, Jungkook já estava atrás de si.

pinte-me pela última vez. jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora