O início

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Quero começar apenas dizendo que não sou "diferente das outras garotas" não sou peculiar nem tenho habilidades paranormais, isso me faz estar na enorme parcela da população que é razoavelmente mediana, sou uma menina franco-coreana de cabelos ondulados pretos com corte irregular na altura dos ombros e olhos castanhos esverdeados como o musgo das árvores.

Filha de pais divorciados que vivem em seus respectivos países comigo no meio que passo de um pra outro dependendo de vossas vontades, como tenho dupla nacionalidade, vivo residente na Coreia ou França quando ambos quiserem. Desde o ano passado minha mãe vem me pressionando a morar na França com meu pai, dizendo que lá tomaria jeito e deixaria de viver "vadiando" como ela dizia, ela não está errada em dizer isso, mês passado eu fiz uma tatuagem escondida dela sendo menor de idade, além das minhas fugidas escolares e de outros inúmeros problemas que gero como o tabagismo ou outros que não vem ao caso, ela não tá errada em querer se livrar de mim, longe disso, não tiro a razão dela, eu só gosto demais da Coreia pra ir embora e a última vez que morei na França eu tinha entre 6 à 10 anos, não digo que perdi o idioma, por que isso não ocorreu, eu só perdi a talvez "habilidade" de viver lá (?). Vamos lá, cá entre nós, lá eu sou estrangeira, mesmo que com características extremamente ocidentais eu ainda sou muito diferente, também há os fatores sociedade e cultura que são infinitamente diferentes da que me habituei. Enfim vou ser como um peixe no deserto do Saara. Depois de discorrer sobre tudo isso lhe digo o que aconteceu, exatamente, me despacharam pra casa do meu pai com só passagem de ida e sem discussões..... Enfim.... that's life! Com isso reuni tudo que tinha em duas grandes malas e passei dezoito horas em um avião e mais duas em um trem até chegar na estação de uma cidade no interior da França onde meu pai morava com seu novo marido. Saio do vagão com meus dois trambolhos de mala e sento fodidamente exausta em um banco à espera do meu "digníssimo progenitor" que provavelmente havia se atrasado, permaneço na espera olhando fixamente pro chão e pensando o que seria de mim agora... talvez ele me coloquem em um reformatório ou sei lá um centro psiquiátrico, nunca se sabe, apenas sei que minha mãe havia feito minha caveira para ele nesses últimos tempos e não duvidava de nada vindo de ambos, nem mesmo um assassinato minuciosamente planejado com direito a queima e limpeza de provas e meu corpo jogado no rio Sena, nada, absolutamente nada, era impossível. Enquanto estava imersa em meus devaneios sobre assassinato, reformatórios e hospícios vejo de relance uma figura familiar aos meus olhos, um homem de meia idade com cabelos castanhos claros e olhos verdes, barba por fazer e pequenas linhas de expressão em volta dos olhos e boca, meu pai, ele sorrir para mim.

– Meu deus, Nari você está enorme! – ele diz então com um sorriso receptivo – eu tenho inúmeras notícias para você....bom, primeiramente eu e Philip compramos uma linda casa a alguns minutos daqui, estamos pensando também em formar uma família, talvez adoção, não sabemos ainda....Ah, é verdade, precisamos conversar também sobre sua educação, temos ótimas escolas próximas, mas temos uma em mente, tenho certeza que você irá amar. Ele dizia isso enquanto tomava as malas para as levar até seu carro apressadamente.

– Obrigada por me buscar, eu...eu estou exausta, que horas são? Meu celular descarregou....– disse o seguindo como podia andando em meio aos paralelepípedos da calçada, não duvidaria se me falassem que aquele lugar tem mais de um século, principalmente o chão de pedras gastas sob meus pés. Entramos no veículo e ele então dá a partida seguindo por um caminho um tanto rural, era uma vegetação típica da Europa primaveril, abro parcialmente o vidro do carro e deixo o ar úmido e fresco ser inspirado pelos meus pulmões me causando uma boa sensação.
Fico algum tempo olhando para fora até que meu pai começa a conversa que tanto temia.

– Nari... não quero ter essa conversa próximo de Philip por que talvez não seja confortável, bem, eu soube de suas pequenas aventuras ilícitas na Coreia e bem....me desculpe, mas estou extremamente preocupado com você, não vou falar que estou decepcionado, pois não sou como sua mãe, eu também não fui santo quando novo, tanto que na minha primeira viagem internacional fiz você, enfim eu só... não quero que você sofra mais do que o previsto para uma existência normal, entende? Eu quero que você viva da melhor forma que puder. (Enquanto ele dizia isso sentia minha garganta rasgar estava segurando para não chorar, ele era sempre assim, talvez eu tenha mais dele do que imaginava, não havia certo ou errado para ele, o que havia era apenas a melhor forma para algo, sendo aquilo o "certo" ou o "errado".)

– Nari por favor entenda, eu realmente não quero que me veja como vilão, sua mãe e eu conversamos muito enquanto você vinha e eu sugeri algo que talvez você desgoste...tem um colégio há uma hora daqui, ele é muito bom e tem muito nome na França, tem ótimas instalações, uma grade curricular invejável e apoio psicológico e hospitalar no próprio Campus, após conversarmos eu e sua mãe concordamos em lhe colocar lá.

– Pai? – disse baixinho quase num sussurro, a partir daí não consegui mais segurar e as lágrimas começaram a escorrer de forma dolorosa e silenciosas pelo meu rosto gotejando em meu vestido floral de fundo preto.

– Por favor, não chore! Lá é um bom lugar, eu lhe garanto, você vai poder conhecer novas pessoas e estudar bem.

– E SER CONTROLADA, E VIGIADA! Desculpa....me desculpa por gritar, me.....me desculpa. – NARI PELO AMOR DE DEUS ME OUÇA! SUA MÃE NÃO CONFIA UM MILÍMETRO QUE SEJA EM TI, ELA ESTÁ A BEIRA DA LOUCURA, EU NÃO PODIA FICAR PARADO VENDO VOCÊ CRESCER COMO UMA VADIA! Ele...ele realmente me chamou de vadia?!

– Vamos apenas ficar em silêncio por favor, senhor Eliot. Digo friamente a fim de acabar logo com aquela discussão, eu estava extremamente machucada não queria mais ouvir uma palavra, e como havia imaginado eu realmente havia sido chutada para cá, pois a velha não me aguentava mais.

Eu por um segundo cogitei pensar o contrário, mas todas as minhas dúvidas foram sanadas com o que foi dito agora, eu só queria chegar logo na casa e tomar um banho quente. Apenas isso e dormir até não poder mais.
Minutos se passam em um silêncio fúnebre que se encerra quando o motor é desligado e paramos em frente a uma casa de cerquinha branca e jardineiras nas janelas, nada era mais ruralmente europeu quanto a arquitetura daquele lugar, haviam inúmeras casas em volta com o mesmo estilo, era extremamente fofo. Eliot desce primeiro e tira minhas malas do carro entrando logo em seguida, nossa discussão foi enérgica não o julgo por entrar sem olhar para trás, tá, talvez eu julgue.
Levo as malas com dificuldade até a porta e as coloco na varanda enquanto fico com a mão livre para girar confortavelmente a maçaneta. Empurro a porta e coloco as duas grandes malas dentro de casa. Olho para a direita e em uma pequena sala estava Philip, o marido de meu pai, homem o qual só vi em algumas fotos, mamãe tinha razão, ele tinha cara de lorde inglês.

– Oi Nari, sou Philip...sinto que se desentenderam no caminho, fique calma, vem deixa as malas aí, eu preparei um jantar enquanto vocês vinham... Gosta de sopa de legumes?

– Eu gosto sim....–Eu dizia extremamente constrangida não fazia a mínima ideia de como agir ali, só estava seguindo os comandos aleatórios do meu cérebro. O Homem então serve uma das tigelas em cima de uma mesa com uma generosa concha de sopa quente, me sento silenciosamente e começo a comer.

– Vou te deixar em paz um pouco, me chame se precisar de algo.

– Obrigada, Senhor Philip. Ele então some para o andar de cima para talvez falar com meu pai. Comi um pouco, estava gostoso, só que o gosto era um tanto salgado pra mim, talvez só seja o meu paladar.
Levando com um pouco de comida no prato e vou até minhas malas, ando com elas até a escada e as posiciono de forma que me facilite subir com as mesmas, vou algum degraus fazendo um grande barulho como se fosse destruir a escada de madeira até que meu pai vem de cima e sem dizer nada pega uma das malas e sube com ela, depois repete a mesma coisa com a outra me deixando la nas escadas, subo até o segundo andar e o vejo dentro de um cômodo no final do corredor.  

– Nari, aqui é onde você vai ficar por enquanto, amanhã falaremos sobre a escola, quando você estiver com a cabeça no lugar. Ele então passa por mim e sai do cômodo bruscamente. Olho ao redor do cômodo encontrando uma linda cama de madeira aparentemente muito macia e uma cômoda consideravelmente espaçosa abaixo de uma janela tão grande quanto. A parte positiva é que era extremamente fácil de fugir por ela... brincadeirinha, ou talvez não. Pensando sobre uma talvez fulga que era óbvio que não faria tirei uma muda de roupa da mala e fui a procura de alguém que me falasse onde se encontrava o banheiro. Sai pelo corredor olhando para todos os lados até que encontrei meu pai em um cômodo que julguei ser seu escritório, ele estava no computador digitando algo, logo que ele me nota chegando, olha em minha direção e então diz:

– Oi filha, você precisa de alguma coisa?

– Oi ...você pode me dizer onde é o banheiro?

–Ah, verdade! É a porta logo ao lado da sua na esquerda.

– Ah, certo. Boa noite. Digo saindo e indo em direção ao banheiro tomar um banhozinho pra me relaxar um pouco que seja.

Após alguns minutos no banho desligo o chuveiro e coloco minha muda de roupa, recolho as roupas sujas e saio. Vou em direção ao meu quarto colocando as roupas em uma sacolinha que peguei de dentro da mala pois não sabia se ficaria por muito tempo ali até ser chutada para o famigerado internato onde eles querem literalmente me internar....enfim. Depois de tudo organizado vou para a minha cama e depois de minutos de reflexão sobre o dia de hoje, durmo pesadamente.

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⏰ Última atualização: Nov 17, 2021 ⏰

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