Fugindo do internato mas não do beijo

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O nevoeiro dissipava o internato de longe. Fechado, parecendo um castelo de séculos atrás, com antiguidades e quinquilharias inúteis e desnecessárias. Um enorme jardim escuro, longe de qualquer luz e um ginásio inacessível aos alunos rebeldes e delinquentes, como eram chamados pelos professores e pessoas de fora.

Taehyung foi obrigado a entrar e não pôde dizer não, pois com dezessete anos ainda era bloqueado de escolher o que queria para a sua vida. Na outra escola, essa pública, Kim respondia mal aos professores, recebendo fichas e fichas de mal comportamento, fugia das aulas chatas de química e educação física sempre que conseguia contornar os funcionários e tratava os outros estudantes superficiais de modo grosseiro. Tinha um motivo, claro que tinha. A superficialidade irradiando de cada um deles era visível o suficiente para odiá-los e tratá-los mal. Afinal, ninguém gosta do 100% igual, roupas iguais, formas de agir reflexivos e grupinhos com gente parecida. Parecida não, gêmea.

Sabia que estava fazendo algo proibido quando pedia a pessoas mais velhas maços de cigarros e isqueiros. Foi assim que tornou-se uma pessoa mais calma, o tabaco causava esse efeito em si, escorrendo por todo o seu corpo e mente. A fumaça trancorria os ossos e encontravam o coração, que fazia os batimentos cardíacos ficarem menos fortes, menos ansiosos.

Costumava ir fumar escondido no terraço. As grades de ferro não o deixava cometer nenhum tipo de atrocidade, um suicidio talvez, uma fuga daquele lugar extremamente chato e fechado. Parecia que Kim estava doente e internado ao invés de estar aprendendo boas maneiras às refeições, ao tratar os outros melhor ou qualquer outra coisa do tipo. O internato significava prisão. Alunos não podiam sair sem a autorização dos pais, o que era um enorme azar para Taehyung, pois ele nunca recebia a maldita autorização de saída, seus pais eram loucos o suficiente para nunca mais deixar o filho viver e ver o mundo como ele realmente é, inútil, mas mesmo assim com a possibilidade de respirar outro.

Faltavam cerca de quatro meses para o aniversário de dezoito anos de Taehyung, e isso não podia ser a melhor coisa perto de acontecer. Motivos: aos dezoito não precisaria mais de seus pais, poderia sair sozinho sem um funcionário barrar sua saída, poderia beber álcool e fumar em parques à noite e poderia ser livre da família á qual pouco gostava e admirava. Não via nada neles além de autoridade, seriedade e obscuridade. Quem sabe o modo de pensar mórbido vinha dos seus pais, era mais que possível que pudesse ser.

Suspirou uma milésima vez, levantando a cabeça e olhando para o céu escuro, coberto por um nevoeiro de aspeto de fumo de cigarro. Taehyung estava no terraço a mais de uma hora, só pensando na vida e no quão insalubre ela sempre foi desde o seu nascimento até ao momento de faltar pouco tempo para o seu aniversário salva vidas.

Sorte a de Taehyung de que não tinha nenhum amigo, já que se tivesse, ele seria uma espécie de estímulo, seria um impulso para ao mal, lançaria toda essa negativamente a uma pessoa caso alguma se aproximasse. No fundo, Kim tinha a completa noção de quem era e qual era o seu papel na superficialidade do mundo, mostrar a ele que é supérfluo; que apresenta caráter desnecessário. A parte positiva do seu cérebro, por muito estranho que parecesse, era nada mais, nada menos, que a morte. Quem lhe desse cair em uma trilha de trem, talvez ser atropelado por um caminhão de gás ou cair de um lugar alto, como a do terraço onde estava.

Mais que tudo, a depressão espalhava-se por todo o Kim Taehyung sem ele se aperceber disso. Naquele internato nem um psicólogo existia, mas também que diferença faria? Falar, ouvir, responder a perguntas, escutar as respostas e sair sentindo exatamente o mesmo, o vazio, o cérebro todo preto, parecendo um buraco negro fundo e inacessível a informações dos dias passados ou das palavras escutadas.

Taehyung aproximou-se das barras, olhando o chão distante pelos buracos das grades de ferro. Olhou para cima e pensou subir aqueles fios duros. A vontade de observar o chão mais de perto era enorme, de voar até colidir contra ele e os outros verem o sangue escorrendo e pingando por toda a parte, a cor vermelha pintando o piso pedregoso. Taehyung estava enlouquecendo com a própria presença.

A fuga dos jovens revoltadosOnde histórias criam vida. Descubra agora