Prólogo

20 2 0
                                    

Era tarde, o sol já estava se pondo, avisando que a noite estara por vir. A pouca iluminação que restava, batia nas folhas secas e alaranjadas, as deixando levemente aquecidas. Percebi um movimento, na lanchonete de minha mãe, olhei pela fresta da porta e me arrependi.

Quando o vi, fora inevitável não perceber a reação do meu corpo, meu coração parecia que sairia pela boca, minha respiração estava descompassada e minhas mãos suaram, algo dentro de mim, me pedia para ficar quieta, foi o que fiz, até escutar minha mãe me chamar.

— Filha, me traga uma cédula de vinte, preciso dar o troco ao rapaz. — engoli a seco, poderia inventar alguma coisa nesse momento para mim não comparecer diante dele, mas o que fiz foi apenas me levantar e pegar o que mamãe havia me pedido.

Fiquei de frente a porta, e bati algumas vezes, quando mamãe a abriu, pegou o dinheiro de minha mão e agradeceu, olhei de relance para frente e encontrei um par de olhos verdes me fitando.

Não é fácil explicar o que senti, ao olhá-lo, algo intenso atingiu meu peito, eu estava queimando por dentro, minhas pernas ficaram bambas de repente, busquei por ar que me faltava, e soltei, poderia ter certeza de que estava tremendo.

Vi a porta se fechando aos poucos, me impedindo de vê-lo uma outra vez, sorri sem ânimo e fitei o teto, tentando prender as lágrimas.

Aqueles três segundos, foram os melhores que já vivi.

Corri para o meu quarto, e peguei uma toalha, na mesma velocidade, adentrei ao banheiro, encostei minhas costas na porta e deslize sobre ela.

As lágrimas desciam com força, a angústia em meu peito não cessou, abracei meus joelhos, e chorei com toda vontade, quando escutei o barulho do motor da motocicleta, indo embora.

Noah Urrea era sem dúvidas, alguém insuperável.

Fiquei de pé e tirei minhas roupas, entrando no chuveiro com água morna, eu ainda chorava com intensidade, era impossível parar, não tinha controle do meu coração e isso me destruía por dentro.

Na época da escola, ele me falou que eu estava bonita, mesmo com a maquiagem borrada, eu não sabia me maquiar, e mesmo assim ele disse: "Você é bonita" eu nunca me esqueci daquilo, e muito menos da resposta que dei "deixe de besteira", meu único arrependimento, foi ter dito aquilo.

Eu poderia ter agradecido.

Depois daquele dia, eu senti coisas estranhas, foi aí que terminamos o colegial, e era raro quando nos víamos.

Quando eu simplesmente tentava negar meus sentimentos, eles vinham com mais força e intensidade, até que eu me dei conta.

Que eu o amava com todas as minhas forças.

Depois disso, meu sofrimento começou, chorava todas as noites antes de dormir, as vezes eu falava com a lua, tentando de alguma forma, me comunicar com ele. A dor em meu peito é intenso, por amá-lo e por saber que nunca será correspondido, ele nunca olharia para mim, e pensar nisso cava um buraco profundo no meu coração.

Nunca deixei transparecer nenhuma expressão de sentimento no meu rosto, sempre guardei para mim, e continuaria assim.

Afinal, do que adiantaria contar?

Ele certamente, não iria retribuir, eu apenas sentia que isso aconteceria, e eu sei, eu entendo, que os sentimentos não aparecem de uma hora para outra, ou, talvez isso aconteça, como é o meu caso.

Lembro me bem, que poucos dias depois do que ele me disse, eu não conseguia parar de pensar nele, naquele sorriso, nos seus olhos ou então, nos seus cabelos caindo sobre o rosto.

Queria poder odia-lo, mas era quase impossível.

Às lágrimas cessaram, esperei meu rosto desinchar, para sair do banheiro, o que eu diria a minha mãe se ela me visse naquele estado?

Noah Urrea, eu preciso te esquecer.

A escolha certaOnde histórias criam vida. Descubra agora