While We Sleep

Seventh Night

Alan caminhava de um lado para o outro no corredor do hospital. Aflito e temeroso, não sabia explicar com exatidão o tamanho de seu desespero. Sentindo um peso no peito, com aquela familiar sensação de que coisas muito ruins estavam prestes a acontecer e não possuía a menor possibilidade de controlá-las.

Aquele lugar guardava as piores lembranças de sua vida com Roberta. Foi ali que recebeu as notícias mais devastadoras de sua vida. A morte de seus pais depois de um terrível acidente, o infarto e falecimento de sua avó, a notícia da doença de sua esposa e todos os procedimentos que a consumiram pouco a pouco, fazendo desaparecer completamente, aquela mulher feliz e saudável que fora um dia. Foram momentos desgastantes e dolorosos e não podia evitar o pensamento pessimista de que, bastava estar prestes a se recuperar, vinha mais uma avalanche para levá-lo de volta ao chão.

"Como uma noite tão feliz em família poderia terminar assim, em um corredor de hospital?"

Haviam aproveitado a noite como há muito tempo não faziam. Começando pela recepção calorosa das crianças ao notarem a presença do pai tão cedo em casa e sem trabalho extra a fazer. O jantar com todas as comidas preferidas dos pequenos. Uma sessão de cinema com a família completa e uma rodada de Karaokê, com direito a músicas variadas e muita desafinação.

Tarantino desistira de sair com os amigos para passar a noite em casa e até o seu Inácio decidiu dormir mais tarde para aproveitar o momento em família. Eram raras as vezes em que Alan chegava em casa tão cedo e se quer pegava as crianças acordadas. Sempre trabalhando exaustivamente para preencher as lacunas materiais que ficara na vida dos filhos, sacrificando toda o prazer que um bom convívio em família pode proporcionar.

Era tarde e Alan decide subir e preparar as crianças para dormir. Uma das coisas que mais desejava fazer com seus filhos, mas era sempre tão difícil devido a sua rotina puxada de trabalho. Olha para os pequenos com o coração quentinho, vendo a felicidade dos dois. Coloca os dois na cama, mas observa que Queen estava séria e um pouco pálida. Mesmo depois de um banho, ainda havia suor acumulado em sua testa.

A garotinha fazia questão de ser forte e fingia não estar sentindo nada, porém o pai sabia que havia algo errado. Com o pretexto de contar uma história para que os dois pegassem no sono, o Loiro continuava no quarto, observando-os atentamente.

Sob protestos e desculpas de Queen, que garantia estar se sentindo bem, ele insiste até que ela acaba aceitando colocar o termômetro embaixo do braço. Alan sabia que aquilo não era verdade. Sua filha estava doente, mas era teimosa demais para admitir estar sentindo alguma coisa. Lembrava que ela mal tocou na comida e falou que estava sentindo enjoada e com um pouco de dor na barriga. Bem que ela tentou disfarçar, falando que as risadas eram o motivo da dor, na hora até fez sentido uma vez que também sentia um desconforto nos músculos do abdômen, mas agora era diferente.

A pedido deles, Alan contava a história de Pinóquio, falando sobre o boneco de madeira, cujo nariz crescia a cada mentira que contava. Ainda estava na parte em que Geppetto fora engolido por uma enorme baleia, quando Alan percebe que Mosquito dormia profundamente, ao contrário de Queen. A menina se sentia desconfortável e se remexia na cama.

O bip do termômetro chama atenção de Alan, que o recolhe prontamente, constatando a alta temperatura corporal da menina. Ela sabia que não poderia continuar mentindo e de certa forma, a história de Pinóquio mostrava o quão encrencado uma pessoa poderia ficar quando mentia. Alan olha para a filha, tentando transmitir carinho e confiança, precisava que ela falasse o que estava sentindo.

- Você está com febre, meu amor - Disse, mostrando o marcador digital do termômetro, apontando seus 38° de febre - Acho que você deveria confiar no papai e contar a verdade. Eu sei que você não está se sentindo bem e quero que confie em mim para que eu possa te ajudar