Os Dispositivos Fatais: Urbe dos Cavernames - NOW UNITED - (1)

Capítulo 10. Urbe dos Cavernames

Houve um instante de silêncio antes que Sav e Josh, atônitos, começassem a falar ao mesmo tempo.

— Keagan tinha uma mulher? Ele era casado? Eu pensei que...

— Isso é impossível! Minha mãe jamais teria... ela só foi casada com o meu pai! Ela não tinha um ex-marido!

Eamonn levantou as mãos, cansado.

— Crianças...

— Não sou criança. — Sav virou-se de costas para a mesa. — E não quero mais ouvir nada.

— Sav — disse Eamonn. Não havia mais tanta gentileza em sua voz; ela se virou lentamente, e olhou para ele do outro lado da sala. Ela pensou no quão estranho era aquilo: com os cabelos grisalhos e a cicatriz no rosto, ele parecia muito mais velho que Isabel. E, contudo, tinham sido “jovens” juntos, haviam se juntado à Fase juntos, haviam conhecido Keagan juntos.

— Minha mãe não teria... — Ela começou e parou no meio. Ela não sabia mais ao certo o quão bem conhecia Isabel. Sua mãe se tornara uma estranha para ela, uma mentirosa, guardiã de segredos. O que ela não teria feito?

— Sua mãe deixou a Fase — disse Eamonn. Ele não se moveu em direção a ela, mas observou-a através da sala com a quietude de um pássaro. — Quando percebemos o quão radicais se haviam tornado os ideais de Keagan, quando estávamos preparados para tal, muitos de nós o abandonamos. Yisroel foi o primeiro. Foi um golpe para Keagan. Eles eram muito próximos. — Eamonn balançou a cabeça. — Depois Ron Beauchamp. Seu pai, Josh.

Josh levantou as sobrancelhas, mas não disse nada.

— Houve quem se mantivesse leal. Taylor. Padilla. Os May...

— Os May? Você quer dizer Matthew e Ale? — Josh parecia fulminado. — E você? Quando saiu?

— Eu não saí — disse Eamonn, suavemente. — Nem eles... tivemos medo, muito medo do que ele poderia fazer. Depois da Ascendência, os mais leais, como Padilla e Taylor, desapareceram. Nós ficamos e cooperamos com a Chave. Demos nomes. Ajudamos a encontrar os que haviam fugido. Por isso recebemos clemência.

— Clemência? — O olhar de Josh foi rápido, mas Eamonn viu.

Ele disse:

— Você está pensando na maldição que me prende aqui, não está? Você sempre presumiu que fosse um feitiço de vingança aplicado por um demônio furioso ou um feiticeiro. Deixei que pensasse. Mas não é verdade. A maldição que me prende aqui foi lançada pela Chave.

— Por ter integrado a Fase? — disse Josh, o rosto contorcido de espanto.

— Por não tê-lo deixado antes da Ascendência.

— Mas os May não foram punidos — disse Sav. — Por que não? Eles fizeram a mesma coisa que você.

— Houve circunstâncias atenuantes no caso deles: eram casados, tinham um filho. Mas eles não moram neste posto estrangeiro, longe de casa, por escolha própria. Fomos banidos para cá, nós três, nós quatro, devo dizer, pois Bailey era um bebê quando deixamos a Urbe de Vitral. Eles só podem retornar a Alrajul em missões oficiais, e por períodos curtos. Eu jamais poderei voltar. Jamais voltarei a ver a Urbe de Vitral.

Josh o encarou. Era como se ele agora visse o tutor com novos olhos, Sav pensou, embora não tivesse sido Josh a sofrer qualquer mudança. Ele disse:

— O Regulamento é árduo, mas é o Regulamento.

— Eu ensinei isso a você — disse Eamonn, com um prazer seco na voz. — Agora está me devolvendo minhas próprias lições. E eu mereço ouvir isso. — Ele parecia querer afundar em alguma cadeira, mas manteve-se de pé assim mesmo. Com a postura rígida, havia um quê do soldado que havia sido um dia, pensou Sav.