INTRODUÇÃO

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Estava fazendo minhas atividades normalmente, e de repente eu começo a sentir uma irritabilidade muito sutil a princípio, começo a perceber um tipo de ansiedade, uma vontade ativa não direcionada, não tem alvo. Com o passar do tempo vai ficando mais intenso e começo a pensar que talvez a única maneira de resolver aquilo e seguir com as minhas atividades seja me masturbar. Para quem não sabe, essa prática pode ter um efeito relaxante em alguns momentos, apesar de seus possíveis efeitos nocivos e seus tentáculos com a pornografia e outras práticas, normais para alguns e pecado para outros, bom, no meu caso é pecado. No momento em que vivemos as mulheres conquistaram seu espaço, hoje elas são escutadas, na medida do possível, porque pra mim escutar é uma coisa difícil e nem todos sabem fazer. Elas começaram a se questionar das estruturas sociais e de suas posições na família, no trabalho e na sociedade, muito antes de nós. Acredito que os homens começaram também, mas tudo graças a elas, porém, nosso processo ainda é muito lento, por isso, muitos assuntos ainda são encobertos, são errados, são pecado, assim como tocar uma mulher menstruada há vários anos atrás na história do povo hebreu.

As mulheres, por suas próprias vozes, se fizeram conhecidas, hoje sabemos muito melhor o que é menstruação, como acontece o processo de ovulação, descamação das camadas do útero, os efeitos hormonais sobre as emoções e o dia a dia de uma mulher. E quanto aos homens? Não sabemos como é o processo de fertilidade e produção hormonal masculino, a maioria dos homens não é orientado pelos pais quando ejacula pela primeira vez, quando se masturbam pela primeira vez. Assim, se tornam reféns da instrução alheia, que muitas vezes pode vir pelo incentivo ao consumo de pornografia, que catastróficamente virá associado à masturbação, e outros comportamentos de risco, como ter relações sexuais precoces ou relações invasivas com a amiguinha da escola, a prima. Eu tenho uma história que pode exemplificar um pouco disso, eu e meus amigos costumávamos brincar na rua, isso era muito comum, em um desses dias nós estávamos brincando e de repente os meninos começaram a se direcionar para o canto da rua, perto de um menino, talvez um pouco mais velho, não me lembro direito. Igual a todos os meninos, eu fui ver do que se tratava, quando cheguei perto, um dos meninos tinha um celular bem simples com internet, e no celular estava reproduzindo um vídeo pornográfico, e eu nunca tinha visto aquilo, talvez outros dos meninos também não. Mas naquele dia, todos tivemos o primeiro contato com a pornografia, e o nosso primeiro aprendizado sobre sexualidade.

Essa história provavelmente se repetiu na vida de várias pessoas, em alguns de maneira até mais prejudicial. A masturbação muitas vezes é uma prática difícil de ser compreendida, em partes porque se mostra uma necessidade aparente, ao mesmo tempo que se revela como uma atitude promíscua. Como assim uma necessidade aparente? Vou contar outra história que conta como a masturbação, a pornografia e a relação sexual podem, a princípio, estar associadas a aceitação social, a um senso de pertencimento e criação de vínculo, principalmente dependendo da sua condição socioeconômica, o lugar onde mora, a sua cor da pele, e outros aspectos. No bairro onde eu morava, nós brincávamos na rua da minha casa, minha mãe só "permitia" ali e eu não lembro de ter tantas crianças assim na rua de cima. O tempo foi passando, e em um certo momento eu descobri que haviam muito mais crianças no bairro, coisa que aparentemente os meus amigos da rua já sabiam. Um certo dia passamos a brincar duas ruas acima da nossa, depois da caixa d'água, o ponto de referência que usávamos naquele tempo, assim as brincadeiras passaram a ser em todo o quarteirão, na nossa rua, uma rua acima, e mais duas ruas acima. Com a junção de todas as crianças, as idades que tínhamos eram diferentes, alguns tinham 8, outros 9, alguns 13 a 14 anos. Assim, as nossas vidas eram diferentes, alguns dos meninos mais novos tinham que ir para casa mais cedo a noite, e os mais velhos permaneciam, porém, eu costumava ficar mais tempo com os mais velhos. E um certo dia eles estavam falando sobre masturbação, claro, naquele tempo eles nem deviam saber usar esse termo, mas estavam falando sobre o assunto com normalidade. E eu naquele dia estava completamente deslocado, não sabiam do que eles estavam falando, só escutei piadas, gírias e descrições do que eles faziam. E claro, eu queria fazer parte daquele grupo, eram os mais velhos, mais rápidos no pic, "mais bonitos", tinham um comportamento atraente com as meninas (mais novas que eles) que eu não sabia ter.

Alguns dias mais tarde eu passei a entender as piadas, parece que todos começaram a dizer aquelas bobagens, fazer gestos sexuais e se referir às meninas sexualmente. O que eu não entendi naquele tempo é que muitos deles já diziam aquelas coisas a um tempo, eu só não entendia, a maioria deles já consumiam conteúdo pornográfico, DVDs de pais, irmãos mais velhos, celulares e por influência dos amigos na rua e vizinhos. E aqueles que não diziam as mesmas bobagens, faziam os mesmos gestos e gostavam de mulher, não era um de nós, os homens da rua, na realidade essa pessoa provavelmente nem saia na rua para não ser zuado, ou porque a mãe não queria que ele se contaminasse. Desse jeito nós criamos regras de aceitação inconscientemente, critérios que excluiam alguns meninos menores, mais franzinos, que não eram tão maus quanto nós. Com o passar do tempo outras atitudes foram adotadas, e todos reproduziam, porque deixou de ser critério de aceitação e passou a ser meio de satisfação, pertencimento, vínculo e identificação, principalmente para aqueles que não tinham uma família muito presente, e viviam em um lar onde eram negligenciadas as sua necessidades.

Estou de saco cheio - sexualidade masculina sobre a ótica de um menino.Onde histórias criam vida. Descubra agora