Capítulo 1

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Amanda

Bato a caneta na capa de meu caderno, tentando de alguma forma me manter acordada e atenta em meio a sala de aula. O professor Eduardo grita e rabisca na louça do quadro, embora a sala ainda permaneça em silêncio ele faz total questão de gritar, parece que quer amedrontar os alunos. 
O que de certa forma funciona, já que todos sempre ficam com medo de suas restrições e alertas, ele é mais aquele tipo de professor que prefere o receio do que respeito de todos.
No meu caso, ele é uma grande pedra no meu sapato!
Por duas vezes em um único semestre ele recusou minhas atividades, tudo bem que estavam atrasadas. Mas expliquei que trabalho em dois lugares, um deles é a noite em um bar para assim, ajudar a pagar esse curso de enfermagem.
Entretanto, isso não adiantou em nada. Ele continuava procurando um motivo, menor que fosse, apenas para ter o prazer de me reprovar!

A garota pobre, do interior, e com sonhos!
O alvo perfeito para isso, para receber um puxão de tapete como ele queria me dar!

— Senhorita Amanda! — dou um pulo ao ouvi-lo gritar meu nome, não percebi, mas enquanto pensava em tudo havia cochilado.

— Sim? Desculpe... — digo pegando o lápis e caderno, no susto havia o lançado longe.

— Dormindo em aula pela terceira vez nessa semana? — sua voz é raivosa, ele sobe os degraus lentamente e para bem em frente a minha carteira.
— Parece que você não leva essa aula a sério mesmo!

— Professor me desculpe, eu...

— Sem desculpas! — me interrompe, todos ao redor me olham — Toda vez a mesma coisa, já estamos no fim do semestre e você não muda.

— Professor, eu só estou um pouco cansada porquê...

— Não me interessa suas desculpas Amanda. — endireito minhas coisas enquanto o olho — Peço gentilmente que saia, deixarei uma notificação na direção sobre mais esse novo importuno! 

Arregalo os meus olhos, o maldito apenas sorrir friamente antes de se virar e descer os degraus. Ele não me daria uma chance nem mesmo de explicar, como ele disse... isso não o interessa!
Mas, diferente de todos e todas nessa sala, eu havia batalhado muito para conseguir essa bolsa. Não existia hipótese de ser reprovada, se acontecesse, todo investimento que fiz por fora seria para nada. Isso sem contar no baque que seria para minha mãe e pai, deixei minha cidade natal para estudar e trabalhar.
A notícia que entrei na faculdade os deixaram extremamente felizes, vi de perto quando venderam e trabalharam dobrado para pagar apenas alguns livros. Isso não poderia acontecer!

— Talvez da próxima vez, você se mantenha acordada na aula, e se passar... — ele faz uma pausa, se encostando na mesa e cruzando os braços — Não correrá o risco de dormir enquanto enfia uma agulha no braço de um paciente!

No mesmo instante a maioria dos alunos começa a rir alto e claro, a raiva corre pelo meu corpo enquanto recolho meus livros e bolsa. Como ele se atreve a falar isso, além de me expor dessa forma, fazia graças das minhas tragédias.
Assumo que talvez não venho sendo uma aluna completamente focada, mas estou dando meu máximo, estou tentando me manter, manter meus estudos, manter meu trabalho, e isso sem contar com a minha família.
Sempre tento dizer-lhes que tudo anda bem, mesmo estando em total colapso... como agora!

— Não me faça pedir novamente que saia.

— Já estou indo, aff! — digo descendo os degraus, as risadas e piadas de algumas alunas continuam enquanto desço.
Tive uma grande vontade de mostrar o dedo do meio para essas patricinhas, mas isso só alimentaria ainda mais as conversas que já devem ter sobre mim.

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