Único

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   “A palavra decepção indica qualquer tipo de desapontamento e desgosto, gerando um estado de mágoa e descrença.”

  Talvez esse significado pudesse descrever o que os meus pais e todos à minha volta sentiam ao ficar perto de mim. Não sabia ao certo quando aquilo começou, porém desconfiava que tal sentimento pudesse ter sido causado por meu jeito diferente. Nunca fui de conversar muito tanto com os meus colegas quanto com os meus familiares, minha família nunca foi próxima, sempre ficava dentro do meu quarto tentando abafar os meus ouvidos para não escutar as diversas brigas que havia fora dele, e que ficaram piores após descobrirem que o seu único filho era gay.

    Foi um dia e tanto. Eu voltava da escola com meu melhor amigo, sempre andávamos de mãos dadas e justamente naquele dia tive o meu primeiro beijo com ele. Porém não demorou para que meus pais descobrissem e começassem a implicar ainda mais comigo, a partir daquele dia os meus diversos livros foram jogados fora, as minhas contas em jogos apagadas e tive que também me afastar dos meus amigos na época. E como as notícias voam, não demorou muito para que todos soubessem do tal ocorrido.

   

   Odiava ir para a escola pois sentia os olhares tortos em minha direção, mesmo quando estava quieto sentado na última cadeira no canto da parede, ou ainda quando lanchava sozinho naquele refeitório enorme, ainda os percebia de forma mais indiscreta parecia que meus colegas nem disfarçavam o quanto me desprezavam.

 

 

     Ao chegar em casa não era tão diferente não bastava a pressão da própria escola para que os seus alunos fossem os melhores no vestibular anual, minha mãe ainda tinha que lançar o mesmo olhar que sempre direcionou ao seu único filho, um olhar de desprezo e decepção antes de começar a falar.

Hoje os amigos de seu pai e os filhos deles irão vir. Por favor não nos envergonhe ou melhor, fique no seu quarto como sempre faz.

   Apenas assenti com a cabeça e fui para o meu quarto. Após trancar a porta aquele lugar pequeno comparado aos outros cômodos da casa virava o meu "mundinho" solitário tal que o chamava carinhosamente de casa da árvore, pois tinha um sonho secreto de ter alguma um dia.

    Lá a minha imaginação ficava solta e sem obstáculos, podendo me expressar como quisesse e sem me preocupar com julgamentos. Arranjei uma forma de lidar com os pensamentos ruins brincando de faz-de-conta, onde possuía as mais diversas ideias e não me importava se já estava grande demais para aquilo. Já fui cantor, artista e até melhor amigo de Van Gogh, o ajudando com suas pinturas e o fazendo companhia em momentos difíceis.

   Quando a noite chegou os amigos do meu pai vieram e a casa tornou-se barulhenta. E mesmo que estivesse escrito na minha porta "NÃO ENTRE", aquele garoto chato filho do chefe da empresa sempre arranjou um jeito de conseguir falar comigo, seja qualquer palavra que fosse.


   No final daquele ano meus pais trocaram a minha escola para uma ainda mais renomada. Lá tive a surpresa de encontrar o garoto chato, que sempre tentava puxar algum assunto, me chamando para andar consigo ou até entrar em seu grupo de amizades, e após muita insistência acabei cedendo e começando uma conversa curta com este, descobrindo logo depois que seu nome era Zhong Chenle.

   Diferente do que eu achava antes, Chenle se mostrou diferente dos outros sempre escutando minhas ideias e até dando opiniões cruciais que faziam minha imaginação borbulhar com tal criatividade.  

   E após um longo tempo o conhecendo ele começou a frequentar a minha casa, sempre indo no final das aulas. Finalmente pôde entrar no lugar que antes era proibido para qualquer um até para os meus próprios pais.

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