Corte de Amor e Cicatrizes (versão melhorada)

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NOTAS INICIAIS

Aos Morganianos de plantão, aqui vai a versão nova de Corte de Amor e Cicatrizes, o conto que deu origem à Corte de Fantasmas e Segredos. Este capítulo foi revisado, por isso há algumas coisinhas diferentes do original, mas nada que mude a história, é apenas uma versão melhorada.

CORTE DE AMOR E CICATRIZES — ENTRE AS SOMBRAS DE AZRIEL E A LUZ DE CASSIAN

Eu percebo que perdi a noção do tempo assim que Elain vai para a casa de Lucien, e Mor e Nestha vão para o Rita's, onde sei que ficarão até amanhã, deixando apenas a mim, Cassian, Azriel, Rhysand e Feyre na mesa, conversando, comendo e fazendo brindes como se não houvesse amanhã. Infelizmente, sempre há... Alguns mais felizes, alguns mais dolorosos, mas o amanhã sempre chega. Eu confesso que às vezes eu gostaria que não chegasse, afinal, estou cansada demais de apenas existir, de esperar que algo mude e que as lembranças ruins desapareçam de vez. Eu tento mudar, mas todo dia é igual, é sempre o mesmo ciclo. Meu passado me assombra, e eu luto contra ele. Eu acordo, trabalho e durmo, ou, ao menos, tento. Dormir ainda costuma ser um problema para mim, minha mente continua sendo um cemitério cheio de fantasmas que sussurram suas maldades com vozes medonhas.

Um dia eu ouvi que nossos sonhos nos definem, mas quem sou eu, então, se só tenho pesadelos?

Engolindo em seco, eu fecho os olhos por um segundo, tentando parar de divagar e focar no momento presente. Eu não me considero parte oficial do círculo íntimo de Rhysand, afinal, nossa amizade começou há cerca de cinco anos, o que, para um feérico, é apenas mais um grão de areia na praia, mas, ainda assim, eu gosto de passar meu tempo com eles. Ultimamente é uma das poucas coisas que gosto de fazer.

Meus olhos passam a observar as quatro cadeiras agora vazias. Eu não me incomodo com a saída deles, na verdade, eu os invejo. Tudo que eu mais quero é encontrar aquele ser especial e único, encontrar um amor que nos permita ter coragem e força para ir contra tudo e todos. Como Rhys e Feyre. Como Mor e Nestha. Elain e Lucien são um caso diferente, mas aprenderam a se amar e hoje são tão ligados um no outro que parecem ter se tornado um só.

É claro que eu não sirvo nem mesmo para isso. Eu não consigo fazer nada direito, nunca consegui. Agora meu coração clama não por um, mas por dois. Eu estou apaixonada por dois machos, estou perdida entre dois amores. Por que não posso ser comum como os outros? Depois de tantas décadas de sofrimento, eu esperava que, ao menos agora, eu pudesse viver normalmente, livre de todas as amarras do passado que ainda me prendem e tiram meu fôlego.

Eu espero demais.

Pelo Caldeirão... A vida só pode estar brincando comigo.

Eu só quero superar e curar meu coração calejado... Eu só quero me apaixonar por alguém e ter a chance de viver esse amor com tudo que sou, mas como vou fazer isso sem magoar um deles? Como eu posso escolher quando os dois são machos perfeitos demais para serem reais?

Meus olhos se desviam das cadeiras e passam a encarar Cassian sentado à minha frente. Eu o observo conversando com Rhys, lembrando de algo que aconteceu há mais de três séculos. Rhysand deixa uma gargalhada escapar, se inclinando para mais perto de Feyre, que repete o gesto. Quando seus ombros se encostam, eles trocam um sorriso alegre e caloroso. Eu os invejo.

E me odeio por isso.

Eu desejo ter o que eles têm, e, às vezes, isso soa tão egoísta, mas eu não posso evitar. Desejar um parceiro é algo inerente aos feéricos, no entanto, eu nunca encontrarei o meu... no fundo eu sei que não sou digna disso. Até mesmo o Caldeirão sabe que nenhum macho gostaria de se envolver com uma fêmea como eu, uma fêmea que foi usada e descartada por tantos anos como se não valesse nada. Essa verdade pesou em meu coração todos os dias da minha vida, no entanto, ela não foi suficiente para me manter ignorante às reações do meu corpo toda vez que vejo os machos por quem me apaixonei. Até mesmo ouvir suas vozes é suficiente para fazer o sangue correr mais rápido em minhas veias, para me aquecer até eu me transformar em fogo puro.

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