dia três: migalhas.

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Nos quadrinhos japoneses existe um super-herói chamado Anpanman.

Anpan.

Panem.

Pão.

Homem-pão.

O herói é um homem feito de pão que alimenta os que têm fome ao longo da sua jornada. Ele é altruísta. Não percebe que ao longo do tempo, de tanto se doar aos outros, está sendo consumido aos poucos. Sumindo.

Eu me sinto exatamente como Anpanman. Atraio pessoas famintas e dou pra cada uma delas um pedaço de mim sem pestanejar. Como eu posso deixá-las com fome? Como posso privá-las de se alimentarem?

Eu não percebi, até ser tarde demais, que deixei levarem grande parte de mim. Meu peito vazio, minha mente opaca.

Eu não consigo voltar a ser o que era antes: Inteira.

Não entendo esse magnetismo à peças quebradas quando tenho minhas próprias engrenagens para consertar. Estou cansada de ceder parte de mim, mas por que parece ser minha sina?

Eu preciso me alimentar. Eu preciso me recuperar. Eu quero meus pedaços de volta. Voltar atrás e reconstituir cada buraco. Preencher-me de mim mesma novamente.

Me sinto como Anpanman. Eu dou e não recebo, anulando a minha existência pouco a pouco até não sobrar mais nada.

Eu quero meu coração de volta. Quero minha sanidade e bem-estar.

Estou faminta. Por que não há ninguém pra me alimentar?

De mim? Só sobrou migalhas. 

ensaio sobre minhas angústias e ansiedades;Onde histórias criam vida. Descubra agora