VOLUME 2;

1K 71 12
                                    

Não sabia o que me atraía em Dinho, talvez fosse o fato de que ele não conseguia falar três palavras sem que doze levasse para a cadeia ou o fato do maxilar dele ser super sexy, prefiro pensar que na segunda opção, porque me faz senti mais culta.

"E aonde é esse show?" Fernando perguntou, desconfiado.
"O endereço tá aí no caderninho."
"Estamos saindo" Cris avisou "deixei um trocadinho pra vocês, tomem cuidado e qualquer coisa liguem para o hotel, você tem o número anotado né? Maria Fernanda?"
"Tenho sim mãe" falei me virando para ela "o número do hotel, do restaurante e da empresa de táxi."
"Cuida da sua irmã." falou, me dando um beijinho na bochecha "E Júlia fica de olho."
"Pode deixar mãe." resmungou, recebendo um beijinho na bochecha também.

Observei o casal sair o que me fez dar um suspiro aliviado, enquanto Júlia se virava para mim. Os cabelos lisos estavam presos em duas Marias Chiquinhas baixas e a mesma usava uma jardineira de lavagem clara, com uma blusa branca que tinha listras coloridas e um allstar preto de cano alto.

Terminei de fazer o meu delineado, dando um passo para trás, estava com uma regata estilo nadadora, uma calça xadrez vermelha e preta, com um allstar nos pés, meus cabelos estavam soltos e arrumados, com os cachos definidos e havia passado um pouco de gloss para combinar com o delineado.

"Ainda não acredito que a gente vai no show deles." Júlia falou.
"Ah, e tu prefere ficar aqui olhando pras paredes?" rebati revirando os olhos.
"É só que o cara te ATROPELOU, mas tirando isso..." falou, dando de ombros.
"Até parece que você não tava cheia de sorrisinhos com o japonês italiano nascido na Tasmânia." lembrei, dando um sorriso debochado

Júlia me encarou de forma mortal, o que me fez sorrir mais ainda, indo em direção da bolsa e tirando as coisas que eu havia levado para a praia.

Sabia como irritar Júlia, ela era muito esquentada para alguém que tinha só dezenove anos, precisava saber como relaxar.

"Utopia..." murmurou "...que nome ridículo."
"Júlia Rocha para de reclamar feito uma idosa e termina de se arrumar." disparei, terminando de por as minhas coisas na bolsa.
"Já tô pronta" resmungou "vou chamando o elevador."

Suspirei vendo Júlia sair de vez do quarto, terminei de pegar a carteira, agenda, dinheiro, documentos e um cardigã preto e sai do quarto, vendo a menina clicar repetidas vezes o botão do elevador.

"Cê tá brava comigo?" perguntei, entrando no elevador.
"Não, é só que" começou, clicando no botão do térreo "não confio nesses garotos, são estranhos."
"Aí Ju, viemos pra cá pra se divertir" falei articulando "beber, sair, fazer amizades ou talvez ter uma paixão de verão, daqui a três semanas não vamos mais ver eles, então se eles forem uns babacas, foda-se, não vamos ver eles mesmo."

Observei a feição de Júlia relaxar e ela se apoiar contra o vidro do elevador, me olhando de leve com um pequeno sorriso nos lábios.

"Você vai pegar o Dinho, né?" falou por fim, me fazendo gargalhar.
"Ah, até que ele é bonitinho só não faz muito meu tipo." falei, encolhendo os ombros.
"Pelo amor de Deus, Nanda conta outra" falou rindo "o cara tava te secando e quando o garçom olhou pros seus peitos... nossaaaaaa."
"Muito dramática mocinha, você é muito dramática" resmunguei "ele só estava sendo um cavalheiro."
"Ele que queria estar olhando prós seus peitos" rebateu "mais ia ficar muito na cara então ele disfarçou mais eu vi! Eu vi!"
"Preferia quando você estava resmungando por aí." falei, cruzando os braços e saindo do elevador.

Júlia gargalhou atrás de mim, enquanto eu seguia para a recepção chamando um dos recepcionistas de leve com uma das mãos.

"Senhoritas Rocha, em que posso ser útil?" perguntou, de forma educada.
"Precisamos de um táxi, pra esse endereço." falei, mostrando a agenda pra ele.
"Podem esperar na louge, assim que o motorista chegar eu encaminho as Senhoritas."

Agradeci rapidamente e segui para o louge com Júlia cantarolando sobre eu e Dinho estarmos sentados em uma árvore nos beijando.

"Mais e o Bento?" quase gritei, vendo a menina arregalar os olhos.
"O que tem ele?" perguntou, se jogando na poltrona.
"Te vi trocando olhares e sorrisinhos Júlia Rocha, não pense que eu sou cega" falei óbvia "vai pegar?"
"Eu não sei do que você tá falando."
"Sonsa." murmurei.
"Chata." rebateu.
"Songa monga." falei, como se não quisesse nada.
"Cobra cananina." falou, mexendo de forma distraída nas flores que haviam lá.
"Pira..."
"Senhoritas, o táxi já está a sua espera."

Trocamos um breve olhar antes de nos levantar, sendo guiadas até o táxi pelo recepcionista.

Luxe era um pub pequeno, deveria ter a capacidade máxima para oitenta pessoas, além de ser um pouco brega, o letreiro era a palavra “Luxe”, com néon vermelho e um copo de martini, o que me fez torcer o nariz e me virar para Júlia.

"Qualidade questionável." falou, em um suspiro.
"Muito questionável." concordei "Vou acender um cigarro, vai querer?"

Júlia assentiu e eu tirei o maço da bolsa, entregando o maço para ela. Levei o cigarro até os lábios e o acendi, me apoiando no poste que havia ali, puxando a fumaça tóxica para os meus pulmões.

"Será que eles são bons?" perguntei, quebrando o silêncio.
"Ah, espero que sim né" Júlia falou "ia ser uma merda se eles fossem ruins."
"Nossa, sim" concordei "se eles forem ruins a gente sai de fininho e finge que nada rolou."

Júlia riu, me fazendo empurrar o braço dela de leve enquanto apagava o cigarro no poste atrás de mim. Observei a menina fazer o mesmo, só que na sola do tênis antes de assentir para mim, para que entrássemos.

Tocava uma música, que eu não fazia idéia qual era, talvez um rock alternativo, não tinha certeza e não fazia idéia.

"Vou pegar uma bebida pra gente" avisei breve "e você pega uma mesa."
"Okay." murmurou, se afastando.

Fui em direção do barzinho mal iluminado, fazendo um sinal para o barman enquanto me sentava no banquinho.

"Hey."

Desviei o olhar, vendo um rapaz de cabelos vermelhos parado no banquinho do meu lado.

"Hey." falei, sorrindo de lado.
"Sou o Júlio."
"Fernanda, você tem o nome igual da minha irmã." comentei breve "Duas caipirinhas, por favor."
"Belo nome... Fernanda né?" continuou me fazendo sorrir "Você é a menina que se jogou na frente da brasília?"

Senti o meu sorriso murchar quase que de forma automática, me fazendo arquear uma das sobrancelhas.

"Eu não me joguei na frente de carro nenhum!" rebati "Ele que é um louco que não sabe dirigir! Eu hein!"

Júlio começou a rir, me fazendo revirar os olhos, segurando a enorme vontade de mandar ele tomar onde o sol não batia.

"É, o Dinho falou que você falaria isso." continuou rindo.
"Aaaaa, nem vem." resmunguei.

As caipirinhas foram postas na minha frente, o que me fez sorrir e Júlio assentir se despedindo por alto antes de sair, me deixando levar as bebidas até onde Júlia estava.

Era uma mesa redonda e pequena, com banquinhos altos, bem na frente do palco, com uma vista privilegiada, se o show fosse ruim não poderiam fugir como eu havia pensado mais cedo.

Tomei um longo gole da minha caipirinha e suspirei, vendo as luzes ao meu redor piscarem e um homem de meia idade surgir no meio do palco, com um papelzinho em mãos.

"Com vocês agora... Utopia!"

Pelados em SantosOnde histórias criam vida. Descubra agora