na surdina

207 29 15
                                    

por favor comentem bastante e votem
se estiverem gostando, isso me
incentiva muito a continuar...
obrigada por estar lendo!


Não é segredo para ninguém a rivalidade entre nossas famílias desde o século quinze.

O único mistério não desvendado, são os motivos para o nascimento dessa obsessão, da origem dessa tradição de ódio desmedido, um ódio a nível de já ter causado estragos que nenhum pedido de perdão poderia reparar.

Parece uma maldição, um ciclo de situações em que as duas famílias são submetidas para entrarem em conflito e nos odiarmos cada vez mais e mais, sustentando esse vício em ferir um ao outro sem decência, sem piedade, sem medir consequências.

Mas não estamos submetidos como se fôssemos jogados à força num ringue de luta ou num porão, feito pobres coitados galos de briga.

Nós estamos nessa situação há séculos porque escolhemos continuar com ela, porque escolhemos o rancor e a repulsa, a sanha e a fúria.

Não posso dizer pelos meus antepassados, mas digo que atualmente reconheço que não somos santos. Pelo menos, não essa geração da minha família, porque eu sei que na surdina meus pais já fizeram contatos para desestruturar os Tomlinson, mas também sei que isso sempre acontece para rebater as sabotagens vindas do outro lado.

Sentar na mesma mesa que um Tomlinson geralmente ocorre num tribunal quando nossas famílias apelam para a justiça ética ao invés das feitas com as próprias mãos, e é por isso que Louis e eu estamos aqui, agora, sentados na mesa mais escondida na biblioteca da escola - ele tentando disfarçar com a touca do moletom cobrindo metade do rosto e eu com um livro erguido em frente ao meu rosto - porque seria estranho demais os dois herdeiros de guerra unidos publicamente num acordo.

Seria menos pior se a rivalidade entre os Tomlinson e os Styles fosse apenas de ciência entre nossos conhecidos, mas infelizmente não. Nossos pais são donos dos maiores clubes internacionais (empatados, para variar) onde frequentam celebridades, realeza e bilionários. O sonho de todo rico é ficar mais rico para frequentar uma delas, o sonho das celebridades é serem convidadas para a área VIP onde só os selecionados podem frequentar.

A irmã de Louis é uma das atrizes mais aclamadas de Hollywood, a minha prima está entre as dez modelos mais bem pagas do mundo. Os holofotes estão sobre nossas famílias, nossas rivalidades, prontos para capturar o próximo round dessa disputa centenária como urubus em cima da carniça.

Na escola o nível de interesse sobre nossas questões parecem de ainda maior interesse. Sempre que Louis e eu nos sabotamos de maneira fútil e insignificante, só pra não perder o costume, ou quando nos ofendemos alto em meio aos outros alunos, surgem mil olhos curiosos e prontos para um coro de "briga, briga, briga, briga" infantil.

É sério, isso é tão recorrente que já deveria ter perdido a graça, mas aparentemente nessa escola não há mais nada de interessante do que despertar o pior entre duas pessoas.

- Que clichê. - Louis debocha e eu nem me dou ao trabalho de olhar em sua direção.

- O quê?

- O livro está de ponta cabeça, seu ridículo - ele cochicha.

Aqui estamos tentando manter em cochichos não só pelas regras da biblioteca que eu dou um foda-se, mas também porque não podemos chamar atenção sobre quem somos e o que estamos fazendo.

- Você é um maldito clichê, Styles, até nos momentos de ter que se disfarçar é um fracasso.

Foquei meus olhos de verdade nas letras das páginas em minha frente para enfim perceber que Louis está certo sobre o erro de posição, mas não lhe darei esse gostinho da razão. Ignoro e mantenho a porcaria do livro de ponta cabeça em minhas mãos.

todas as besteiras shakespeareanas (larry)Onde histórias criam vida. Descubra agora