capítulo único.

2.1K 270 176
                                    

Escuto três batidas na porta, me despertando do meu sono.

— Quem é?

— Sou eu!

— Entra logo.

— Indo!

E então a porta se abre, e a figura dele se apresenta no meio de tanta luz. Ele segura duas sacolas e fecha a porta com um pouco de dificuldade, seu cabelo bagunçado e no rosto um sorriso desconcertado, como sempre.

— Como você tá? - Ele deixa as sacolas em cima da mesa, e deita ao meu lado na cama.

— Se eu disser que tô bem você vai acreditar?

— Humm... Acho que posso fazer uma vista grossa se você me der um beijinho!

Sorrio um pouco. Ele sempre foi assim comigo. Dentro dele eu sei que ele se preocupa, mas ele sempre tenta transparecer casualidade e me fazer sorrir.

Dou um selinho em sua bochecha e ele cora levemente. Não importa quantos anos estiver nesse relacionamento, ele sempre reagiria assim. Fofo.

— Você comeu?

Desvio o olhar. Ele sabe que não, mas pergunta mesmo assim, como em uma falsa esperança.

Ele suspira.

— Eu trouxe yakisoba do seu lugar favorito! Que tal se a gente comesse juntos? A gente podia até assistir um filme enquanto come!

Só da menção de comer meu coração acelera e meus dedos automaticamente começam a beliscar e arranhar a pele do meu braço. Mas como eu poderia dizer não? Ele é a única pessoa que se importa comigo no mundo inteiro e se esforça para me ver bem, eu não poderia simplesmente negar.

— Tudo bem, acho que seria legal... - Digo forçando um sorriso no rosto, e o fato de eu não ter negado nem uma vez faz com que os seus olhos brilhem e um sorriso grande apareça.

Ele levanta e espera que eu faça o mesmo, mas no instante que o faço, sinto minhas pernas fraquejarem e quase caio, mas ele me segura e me encara com olhos preocupados.

— Tudo bem?

Me levanto e desvio o olhar.

— Sim. - É a única coisa que respondo.

No instante seguinte já estávamos sentados no sofá, um filme adolescente qualquer passando na televisão.

Abro a caixinha com a comida e a encaro, sentindo meu estômago roncar, em seguida encaro ele, que já tinha as bochechas cheias e os lábios sujos de molho, não consigo evitar rir um pouco.

— Aku, tenta comer um pouco... por favor?

E de repente meu coração falha uma batida. Minhas mãos tremendo, seguram o hashi. Pego uma porção e levo até a boca. Realmente, o sabor é igual ao que eu me lembrava, não é atoa que é meu favorito.

Ele sorri mais uma vez e a comida quase escapa da sua boca, logo em seguida engole tudo com dificuldade.

— Se você comer tudo, prometo te dar quantos beijinhos você quiser!

A minha porção era pequena, a recomendada para crianças, nenhum adulto deveria comer essa quantidade e se sentir satisfeito, mas ele sabia que pra mim comer isso inteiro já era um grande passo.

Respiro fundo e olho para a comida novamente, juntando todas as minhas forças para colocar mais uma porção na boca, mas sinto meu estômago embrulhar antes mesmo de colocar a comida na boca.

Deixei tudo de lado e fui correndo até o banheiro, praticamente derrubando a porta e vomitando tudo no vaso. Era possível identificar a única porção da comida que eu tinha comido, mas o resto era pura bile.

Ouço os passos rápidos de Atsushi logo atrás de mim, e não consigo me virar pra encarar ele.

De qualquer jeito, ele se ajoelha ao meu lado e segura meu rosto, enquanto eu só consigo olhar para baixo.

— Aku?? Tá tudo bem???

E então eu desabo em lágrimas. Ele me abraça e acaricia minhas costas, enquanto meus ombros saltam com os soluços.

— Me desculpa... Me desculpa, jinko...

— Shh, shh... Você não precisa pedir desculpa, tá tudo bem... Você tentou e eu já tô muito orgulhoso de você por isso.

Quanto mais ele fala, mais eu choro, e penso que conseguiria encher o apartamento inteiro com minhas lágrimas e acabar me afogando nelas.

— Me.. Me desculpa por tudo... Por fazer v-você se preocupar desse j-jeito... E te dar tanto trabalho... Desculpa... - Digo entre soluços.

Ele me afasta do seu abraço e segura meus ombros, enquanto olha nos meus olhos.

— Por que você diz isso? Quando foi que eu disse que é muito trabalho pra mim? - Ele suspira

— Aku... Quantas vezes eu preciso dizer isso pra você? Eu te amo, muito inclusive. Chega a doer o tanto que eu te amo. E quando a gente ama, nada é trabalhoso demais quando se trata dessa pessoa... Só me deixa... Tentar te ajudar, ok? É a única coisa que eu peço.

Abraço ele novamente, enquanto peço desculpa mais uma vez.

— Eu te amo também...

Ele é mais do que eu poderia pedir para ter, e com certeza mais do que eu mereço. Mas se alguma divindade em algum lugar decidiu que ele deveria estar comigo, então quem sou eu para pensar o oposto?

just us. - shin soukokuOnde histórias criam vida. Descubra agora