Capítulo Três

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A caminhada não era longa, mas a trilha tinha muitos declives e aclives. Felizmente, era lua cheia, então consegui enxergar melhor o caminho e evitei duas ou três quedas. Podia imaginar como era o caminho para os escolhidos da lua nova.

Quando cheguei à clareira estava exausta, ofegante e suada. Entrei receosa no campo aberto. Olhei ao meu redor. Minhas mãos tremiam. Um vento forte bateu contra minha pele e me dei conta de que estava frio. Frio demais para aquela época do ano. Balancei a cabeça e abracei meu corpo. Devia ser minha imaginação. Fui até o centro da clareira. Fechei os olhos com força e esperei. Esperei. Esperei. E... nada.

Abri os olhos, olhei ao redor. Nada, nem ninguém. Franzi as sobrancelhas, sem entender. Será que isso era apenas algo para assustar as pessoas? Na verdade, estavam apenas expulsando os indesejados da cidade. E ninguém voltou, simplesmente porque não quiseram retornar? Ri, balançando a cabeça. Isso era tão típico. Tão previsível. Como não pensei nisso antes?

— Isso, sem dúvidas, nunca aconteceu — ouvi uma voz grave e melodiosa atrás de mim. Perto. Muito perto.

Meu corpo enrijeceu e senti o sangue se esvair. Minhas mãos e pernas tremeram contra minha vontade. Certamente, a reação natural de qualquer um seria correr. A minha também teria sido, mas meu corpo simplesmente não me respondia mais. O máximo de resposta que consegui dele foi voltar a respirar, sendo que nem tinha me dado conta de que tinha prendido a respiração.

Meu observador deu a volta por mim, lentamente. Afinal, ele não tinha motivos para ter pressa. Além do mais, isso aumentava o meu pânico e ele, certamente, sabia e queria isso. Queria ficar furiosa por reagir exatamente como ele esperava, mas meu cérebro também parou de funcionar quando ele entrou em meu campo de visão. Era, definitivamente, o homem mais lindo que eu já vi. Sua pele era marrom dourada. Alto, magro e forte. Vestia um blazer preto aberto, sem camisa por baixo. Calças largas também pretas, mas seus pés estavam descalços.

— As pessoas, às vezes, chegam aqui aos prantos. Às vezes, prontas para tentar lutar. Algumas tentam fugir para a cidade vizinha — ele me olhava com a cabeça inclinada como se eu fosse uma criatura fascinante, seus olhos negros brilhavam — Mas ninguém, nunca, chegou aqui rindo — ele sorriu. Um sorriso tão perfeito quanto assustador.

Eu queria sair correndo. Queria me derreter e me entregar a ele. Queria... queria... Porra, Catarina, se concentra! Ele não é nem um homem de verdade. Minha atenção foi para as asas que se projetavam nas costas do demônio. Eram enormes e terríveis. Eu já vi como uma ave ficava quando tinha suas penas queimadas, e aquelas asas tinham exatamente o mesmo aspecto. Desfiguradas e feridas.

— E então? — o demônio levantou as sobrancelhas inquisitivo — Nada? Não vai fazer nada? — ele deixou sua cabeça cair para o lado, enquanto eu ainda sentia seu olhar me atravessando.

O que ele queria de mim? Queria que eu tentasse lutar? Isso era ridículo. Ele tinha quase o dobro do meu tamanho então, mesmo que ele não fosse um ser sobrenatural, eu não teria chances. Sair correndo? Daria na mesma. Provavelmente, eu mesma me mataria tropeçando, caindo e quebrando o pescoço. Chorar e implorar pela vida? Logo eu?

— Se vai me matar, vá logo com isso! — de alguma forma eu consegui criar coragem para proferir essas palavras e, por sorte, minha voz não vacilou e não demonstrou meu nervosismo. Se o nervoso era pela possibilidade evidente da minha morte ou pela proximidade daquele ser belíssimo, eu não sabia. O demônio franziu a testa.

— Ansiosa pela morte, querida? Vejamos... — ele sussurrou, apenas um milésimo de segundo antes de eu me encontrar pressionada contra uma árvore.

O demônio com as mãos ao redor do meu pescoço. Tentei inspirar, mas o ar não entrava. Desejei o oxigênio que foi drenado de meus pulmões com o impacto, mas nada. Não podia respirar, não com ele pressionando minha traqueia. Eu cheguei a começar a lutar pela vida. Apenas por um instante. Mas... O que eu estava fazendo?

Morrer não era exatamente o que eu queria? Por que lutar? Por que não deixar que aquela criatura fizesse o trabalho sujo por mim? Com o pensamento, meu corpo relaxou. Deixei meus braços penderem ao lado do meu corpo. Olhei para o céu estrelado e expirei pela última vez. Senti meu corpo frio e minha visão escureceu. Acabou, Catarina. Acabou.


O que será que o destino reserva à Catarina? Palpites? Teorias? Deixem nos comentários. Não esqueçam de avaliar, ajuda muito ❤❤❤❤

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