O Hospital de Nova York estava frio e barulhento como sempre. Pessoas reclamando do tempo de espera, crianças fazendo birra por estarem com fome e pais com dor de cabeça demais para fazer algo em relação ao choro da criança. Enfermeiras andando para lá e para cá levando pacientes e médicos metidos e arrogantes que se achavam deuses onipresentes por estarem usando a porra de um jaleco branco.
Mas Malachai Curry não ouvia nenhuma dessas coisas.
Na verdade, o Príncipe de Atlântida estava encolhido na cadeira azul e desconfortável do hospital com os braços apoiados nos joelhos e as mãos bagunçando o cabelo. As lágrimas escorriam por seu rosto sem parar e a perna balançando incansavelmente em um reflexo de sua ansiedade.
Ele simplesmente não conseguia entender como que o dia tinha acabado desse jeito.
Como que ele passou de acordar com uma cabeleira ruiva em seu peito para carregar o amor de sua vida desacordada pelo corredor do hospital.
Ele lembrava de flashes: A missão. O cara de capuz vermelho. A armadilha. Eles sendo cercados. O tiro. O empurrão. O sangue. Yelena dizendo que o amava. Água. Cabeças. Mais água. Ele no hospital gritando com médicos.
A única coisa da qual ele tinha certeza é a de que tudo aquilo era sua culpa.
Kai conseguia sentir o olhar de pena dos amigos queimando em suas costas. Eles não tinham demorado muito para chegar. Lembrava dos abraços e lembrava de odiar os abraços.
Porque os humanos insistiam em ficar tocando uns aos outros como se isso fosse melhor alguma coisa??
Pelo canto do olho ele viu uma pessoa se sentar ao lado dele mas não disse uma palavra. Sabia exatamente quem era porque era a única pessoa que entendia pelo menos um pouco do que ele sentia.
— Ela não vai morrer. – foi a primeira e única vez que Kai ouviu a voz de Lyra tremer – É a Lena. Ela é forte, ela vai conseguir, ela sempre consegue. Vaso ruim não quebra, né? Quer dizer, ela...
— Lyra? – o garoto interrompeu a filha de Loki, que o olhou em espectativa. ele conseguia ver o rímel borrado com o as lágrimas – Pode calar a merda da boca?? Você não está ajudando porra nenhuma!
Ele se arrependeu assim que disse, mas não pediu desculpas. E a Lokidottir simplesmente levantou e foi para perto de Cassian. Kai desviou os olhos, percebendo que Grace o encarava. Conseguia ver a pena no olhar dela e isso o enojava. Ela não deveria sentir pena, ninguém deveria sentir pena dele. Deveriam o odiar, deveriam socar seu rosto e arrastá-lo no asfalto. Nem mesmo Wrath sentia raiva dele.
Isso tudo era simplesmente demais.
Malachai se levantou, pronto para ir gritar com a recepcionista de novo quando ouviu o barulho da porta abrindo. Mal conseguiu reconhecer os sogros antes de receber um soco.
Kai demorou alguns segundos para entender que Bucky Barnes tinha acabado de o socar.
— O SEU ÚNICO DEVER – apontou o dedo de vibranium bem perto do seu rosto — SEU ÚNICO DEVER ERA PROTEGER ELA – outro soco e Kai não revidou, finalmente estava tendo o que merecia – PORRA!! – Bucky empurrou o genro – A minha garotinha.... A minha... Ela... Não...
Então, inesperadamente, Kai foi puxado para um abraço. O rosto ainda latejava mas o garoto não exitou em abraçar o sogro. Aquele abraço machucava mais que reconfortava mas era tudo aquilo que Kai não sabia que precisava. O gesto não durou por muito tempo mas ambos tinham lágrimas nos olhos quando se separaram.
Ele engoliu em seco, finalmente encarando Natasha Romanoff e seu coração afundou ao reconhecer os traços em comum que ela tinha com Yelena. O mesmo tom de cabelo ruivo, as bochechas, o nariz arrebitado, a postura encurvada.
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Fine, make me your villain
Historia CortaAquela em que, após uma noite turbulenta, tudo que Malachai queria era ouvir a voz da namorada dizendo que tudo havia sido apenas um sonho ruim.