III

39 3 0
                                    


Capítulo III - Odeio clubes!

↳ P.O.V. Kamado Tanjirō

Dentre tantas coisas que formam uma escola, certamente a que mais odeio são os clubes! Sim, atividades extracurriculares que podem algum dia servir para algo na sua vida — ênfase em "algum dia", porque não é nada garantido.

E como é obrigatório tenho que me inscrever em um, e honestamente não faço a menor ideia de qual devo frequentar. Diferente da minha irmã, que já se inscreveu no clube de kimono, algumas das novas amigas dela já estavam atuando no clube, então só vantagens para ela.

Estou em dúvida entre o clube de judô e kendo. Posso me inscrever em ambos mas não acho uma boa ideia, vai me cansar muito e tenho que trabalhar depois da escola, então tenho que decidir o quanto antes!

— Parado aí, meliante!

Travo ao ouvir o grito esganiçado de Inosuke. Tenho duas opções, correr ou me esconder… correr e me esconder!

Apresso meu passo gradualmente. Ainda posso ouvi-lo me chamando, corro mais rápido e subo as escadas para ver se consigo despistá-lo. Paro para ouvir seus passos. Nada. Suspiro em alívio, posso sentir a tensão de meus ombros diminuírem.

Se aquele maluco vir falar bobagem para mim mais uma vez eu vou surtar! Não posso arriscar topar com ele de novo. Afinal seria estranho todos falando sobre minha falsa paixão pelo rosto afeminado dele. Não quero nem imaginar, as risadas, olhares, boatos, fofocas, o bullying! Deus me livre!

Por estar perdido em pensamentos não o ouvi se aproximar. Levei um susto quando ele passou o braço pelos meus ombros com força, meu corpo arqueou-se para frente pelo baque.

— Não seja tímido, Tanjirō. — Ele disse sorrindo largo bagunçando meu cabelo. — Tá procurando um clube, né? — Questionou-me.

Arrumei minha postura e o olhei um pouco acanhado. A cara feminina dele era bem fofa. Novamente me perdi no rosto dele, acordei com a risada arranhada.

— Nem disfarça mais! — Riu mais alto. Se recuperou do riso e me puxou para andarmos. — Bora pro clube de kendo! Achei uns pedaço de pau maneiro pra gente sentar o cacete uns nos outros.

— Quem disse que eu quero ir? — Paro no meio das escadas. Ele me olhou sorrindo de lado.

— Ninguém. Mas eu sei que tu vai curtir! — Disse e voltou a me puxar pelos corredores rindo.



Uma bagunça. Era isso que se resumia ao clube de kendo. Só uma grande sala com um tatami duvidoso e imundo, em uma das paredes as shinais estavam presas em pregos! Havia também uma pilha de "paus", provavelmente aqueles que Inosuke mencionou agora há pouco.

— Lindo, né? Eu mesmo fundei esse clube! — O garoto se vangloriou sorrindo orgulhoso com as mãos na cintura, observando o lugar como se fosse o mais incrível do mundo.

Beleza, tá explicado porque o clube é tão… mal elaborado.

— É… — Murmurei "concordando". — Lindo mesmo, parabéns. — Conclui sorrindo amarelo.

Pera… Estamos mesmo sozinhos?! Droga, como não reparei nisso? Quem que vai distraí-lo pra mim meter o pé?! Ferrou de vez, não quero imaginar o que ele vai fazer comigo…

— Eita, por que tá corado? — Ele pergunta me olhando com estranheza.

— Eu não estou corado! — Afirmei franzindo as sobrancelhas. Não estou, certo?

Ele que estava indo buscar um dos pedaços de madeira começou a andar lentamente até mim. Me olhando de um jeito esquisito para caramba, aliás. É impressão minha ou ele está vindo rápido demais? Quando meu espaço pessoal foi invadido, não pude permanecer no mesmo lugar. Dei um passo para trás e me encostei na porta.

A porta correu para a direita, abrindo fazendo com que eu caísse de bunda no chão. Pude ouvir um grito estridente atrás de mim, um longo grito…

— Q-quase me matou do coração. — Olhei para cima e encontrei Zenitsu tremendo enquanto se abraçava, batia nos próprios ombros na clara tentativa de se acalmar.

— Finalmente cê chegou, maldito. Achei que iria demorar mais duas horas no clube de jardineira. — Inosuke reclamou voltando a atenção para a pilha de "paus".

— Pretendia ficar no clube de jardinagem mesmo. — Disse com ênfase no nome certo do clube. — Só participo desse clube por consideração a você, Inosuke. — Passou por cima de mim como se eu não fosse nada. Me senti ofendido.

Me levantei sozinho, olhei para a porta escancarada e para os dois. Intercalando meu olhar entre ambos. Okay, hora da escolha, ou eu fico nesse clube mesmo, junto com esses doidos, ou vou para outro clube com gente normal… Na verdade é uma escolha bem fácil, mas… Que droga! Com menos de um dia me fizeram gostar deles!

Me aproximei deles, e me entrosei na conversa. Que consistia em Zenitsu tagarelando sobre quanto o clube de jardinagem era melhor, pois era cheio de garotas que o ajudavam a plantar. Relatou que uma das garotas um dia desses colocou as mãos sobre as dele para plantar uma semente. Ele dizia tudo com uma cara assustadora, parecia um velho tarado. Ri de suas histórias. No meio de toda aquela poluição sonora que era a voz de Zenitsu falando bobagem, meu olhar se encontrou com o de Inosuke, ele sorriu para mim e riu de uma frase do amigo.

Até que o rosto afeminado dele é bem atraente sim, talvez por isso ele seja tão convencido e iludido por achar que me apaixonei por ele.



Durante metade do período que era necessário ficar no clube só observei Zenitsu apanhar. É bem engraçado ver ele gritando e chorando. Em alguns momentos achei que ele iria fazer xixi nas calças, mas não aconteceu, infelizmente. Zenitsu teve que ir embora, pois frequentava um terceiro clube, este também relacionado a garotas. Bufei ao lembrar de seu olhar sobre minha irmã mais cedo, ele poderia ser até que gente boa, mas não vou deixar ele encostar aquelas mãos de cafajeste na Nezuko. Nem ferrando.

Acabei de dar conta de que estou sozinho com Inosuke novamente. Mas estou mais tranquilo, ele também é um cara legal, um pouco doidinho, cabeça dura e muito boca suja, porém legal. Ele não seria capaz de…

— Tá corado de novo, mano. — Ele disse me encarando. Arrumei minha postura ficando reto como uma tábua por ter sido flagrado pensando bobagem. — Se preocupa não, lek. Pode doer, mas eu vou com carinho, belê?

Travo na hora com o dito. Como assim?! Pera, isso é um surto, né? O que vai doer? O que ele vai meter em mim?! Tá, ele não disse nada sobre meter, mas não precisa dizer para gerar esse entendimento! Isso é muito errado, estamos na escola e…

— Que isso, tu tá parecendo um pimentão! — Riu da minha cara se aproximando. Suas mãos estavam para trás.

Isso só me deixou mais preocupado, principalmente porque seu corpo estava inclinado para frente, fazendo com que a camisa se abrisse mais. Não tenho psicológico para isso não.

— Calma, Tanjirō. Vô meter varada em você, mas a dor passa, tô falando. Confia no pai. — Disse naturalmente. Eu não disse que ele ia meter em mim?! — Aqui, ó. Pó ficar com a maior vara porque tu é novato. — E me estendeu um dos paus.

No que eu estava pensando?! Meu Deus! Eu estou ficando louco, só pode. E é só o primeiro dia de aula.

Peguei o galho um tanto aliviado, mas com a cara fechada. Não sei o porquê, sei lá, foi instinto.

— Eita, tu tava pensando o quê? — Gargalhou alto, até se inclinou para trás de tanto rir. — Porra, não esperava isso de você, mó ideia errada! — Riu mais uma vez apontando para mim. Essa risada ridícula iria ficar gravada na minha mente.

— Odeio clubes! — Murmurei empunhando o galho para começarmos a "sentar o cacete um no outro".


Odeio esse clichê!Onde histórias criam vida. Descubra agora