Laura não aguentava mais ouvir Roberto Carlos enquanto esperava a ceia, ela queria mudar de canal, mas quando mudava, a avó a repreendia dizendo que estava "assistindo e não dormindo" e voltavam ao mesmo show de natal.
Como as outras crianças de nove anos, Laura poderia estar brincando com seus primos, mas eles não vieram porque no ano anterior o tio havia partido a mesa com uma motosserra e ninguém os convidou novamente.
Ela desistiu da TV, foi até a mãe que terminava a ceia e pediu suplicante para brincar na praça até a hora de comer. A mãe deixou e Laura saiu saltitante pela rua da antiga vila que tinha quatro fileiras de casas iguais onde todo mundo se conhecia. Laura cruzou a árvore gigante de pisca-pisca que tinham colocado na praça e caminhou até o fim da rua, onde mais um show de luzes a esperava, dessa vez do circo que estava visitando.
Quando ela chegou, um garotinho correu ao seu encontro, Pietro tinha a mesma idade dela e desde que o circo chegara os dois brincavam juntos na praça rotineiramente. Naquela noite, pularam amarelinha, brincaram que eram piratas e os bancos de cimento navios e depois Laura conseguiu com a mãe uma fatia de pão de ló para cada um e eles entraram na árvore de natal para comer sob as luzes.
- Laura, queria dizer uma coisa. - Ele falou.
- Pois diga.
- Você quer namorar comigo?
- Como seria isso?
- Não sei direito, só ouvi falar. Mas eu te traria flores, você poderia me trazer biscoitos, a gente ia dividir chocolate, andar de mãos dadas e eu poderia beijar sua bochecha quando a gente se despedisse.
Laura ponderou, aquilo lhe parecia interessante, ela teria muito chocolate, várias flores e uma desculpa para passar mais tempo com Pietro.
- Eu quero. Parece legal.
E assim eles se tornaram namorados, antes de sequer entenderem o que aquilo significava.
Logo, a mãe de Laura a chamou e Pietro falou que ia acompanha-la para agradecer pelo pão de ló. Os dois saíram de mãos dadas, rindo e conversando. Depois que Pietro falou com a mulher na cozinha, Laura saiu com ele, estavam combinando de brincar na tarde seguinte e pararam na frente da casa.
- Laura, tem mais uma coisa. - Ele disse, solene. - Quando eu for embora, vou esperar por você todos os dias até voltar. Você também vai esperar por mim?
- Vou, sim. - Ela tinha certeza. - Não importa se demorar, prometo que espero.
- Eu também prometo. - Ele beijou a sua bochecha e ela se sentiu muito feliz com isso. - Até amanhã.
- Até.
Quando entrou em casa, a mãe lhe abraçou e serviu sua comida favorita. Ela já não sentia tanta falta dos primos e do tio, tinha a mãe em casa, Pietro na vila e uma promessa no coração, aquilo era suficiente.
E as duas crianças cumpririam sua promessa, esperariam pela década que seguiria até se reencontrarem.
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Contos de Um Tonttu
Short StoryTonttus são seres do lar e já viram muitas e muitas coisas em todos os seus anos ocultos pelas casas. Kallen é um deles e ao longo dos seus cem anos com a família Castelo já viu muitas história e as melhores são sempre as de natal, então ele decidi...