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— ALÔ? — a voz do outro lado da linha repete e meu coração está batendo tão acelerado que tenho que me sentar para não cair durinho no chão

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ALÔ? — a voz do outro lado da linha repete e meu coração está batendo tão acelerado que tenho que me sentar para não cair durinho no chão. — Alô-ôu? — a voz masculina cantarola mais uma vez. — Olha, se você não falar nada eu vou desligar e...

— Oi — digo um pouco alto demais, nervoso demais.

— Ah agora sim. Oi!

— Nossa, eu pensei que nunca fosse escutar a sua voz — acho que essa frase pode ser interpretada de maneira um pouco errada, mas pelo menos ela serviu para desbloquear a minha língua. — Estou ligando para você por conta do anúncio.

— Desculpe se estou escutando ou interpretando errado, mas pela sua voz... Você é do sexo masculino. Estou certo?

— Sim.

— E você ainda sim quer saber sobre o anúncio?

— Sim.

— Tudo bem então. Como você se chama?

— Miguel — tomo uma grande respiração antes de continuar. — Desculpe se estou sendo intrometido, mas você não costuma receber ligações de outros homens por conta do anúncio? Você não quer receber ligações de homens?

— Não é isso! Olha, depois que as pessoas começaram a falar sobre o meu anúncio, passei a receber ligações de todo o tipo, e de toda gente. Garanto que não é problema algum.

— Fico feliz em saber. Mas então, como é que você costuma fazer isso?

— Para a minha segurança e para a sua, prefiro encontrar com você num lugar público. Movimentado, mas não tão cheio. Como um shopping, um supermercado... Algo facilmente monitorado, mas ainda sim possível ter alguma espécie de privacidade.

— Supermercado? — não consigo controlar a gargalhada.

— Você ficaria surpreso na quantidade de pessoas que eu conversei entre os corredores das farinhas e hortifrúti.

— Sinto muito se lhe ofendi. Não é a minha intenção, só achei diferente.

— Imagino realmente que seja.

— Eu realmente estou precisando comprar algumas coisas para abastecer a minha despensa. Então acho que essa opção vai ser juntar o útil ao agradável — combinamos um supermercado que fica bom para os dois e meu celular começa a tocar por conta do timer que coloquei por conta da pizza.

— Isso é outra ligação? Pode atender se for — a sinceridade na sua voz me comove.

— Não, não, é só um lembrete para eu não esquecer meu jantar no forno!

— Ah, mas mesmo assim não vou atrapalhar mais você. Nos vemos amanhã as uma da tarde?

— Combinado — meu coração acelera de ansiedade. — Espera! Eu ainda não sei seu nome!

— É Rodrigo. Até amanhã.

Retiro a pizza do forno e enquanto estou retirando as azeitonas de cima do queijo, ligo para o meu chefe, e informo que consegui um encontro com o cara dos anúncios. Ele ficou animado, e que já estava esperando a matéria na mesa dele o mais breve possível. Aviso que não trabalhar amanhã, e ele apenas diz que tudo pelo sucesso.

Então aproveito para esticar um pouco mais nos seriados antes de dormir. E permaneci adormecido até o despertador me acordar as onze da manhã para que eu pudesse me preparar para o "encontro" de hoje.

Almoço o restante da pizza de ontem gelada mesmo, e faço uma lista do que preciso comprar. Pego tudo o que preciso e vou até o supermercado. Estou quinze minutos adiantado, então já começo a caminhar pelos corredores e encher o carrinho.

Aliso a camisa vermelha que disse que estaria usando e seco o suor da palma da mão na bermuda jeans escura que também era parte da vestimenta que combinei. Um suor nada haver. Olho ao redor buscando o rapaz de camisa verde, bermuda branca e óculos com armação preta.

O supermercado está do jeito que eu gosto: quase ninguém, as prateleiras abastecidas e a música que toda nos autofalantes é suave e baixa. Estou escolhendo algumas batatinhas, quando sinto um toque leve em meu ombro.

— Com licença, você é o Miguel? — reconheço a sua voz imediatamente.

É agora!

— Sim — e me viro para finalmente colocar um rosto na voz e no anúncio. 

Compra-se um BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora