Capítulo Único

3.3K 237 151
                                    


A porta do apartamento espaçoso rangeu contra a parede ao ser aberta, sem nenhuma delicadeza, em um baque.

Um praguejar baixo pôde ser ouvido pelo loiro que adentrou, lentamente, pela abertura, chutando os sapatos na entrada do imóvel, de qualquer maneira. O homem carregava diversas sacolas de compras, que foram prontamente despejadas, todas de uma vez, em cima do balcão da cozinha de design moderno.

Afrouxou a gravata que estava em volta do seu pescoço, enquanto tentava controlar a respiração acelerada pela maratona que consistia subir todas as escadas até o quarto andar, onde ficava localizado seu apartamento.

Qual é, aquela porcaria de elevador realmente tinha que ficar em manutenção agora? Argh! Devia ser ilegal subir quatro fodidos lances de escada carregando um monte de tranqueira. Puta que pariu.

Além disso, como o trânsito de Nova York conseguia ser sempre tão ruim? Maldita hora em que havia saído para fazer as compras na véspera do feriado.

Ele poderia ter encarregado a fatídica tarefa de ir ao mercado ao seu querido marido cabeça de alga, mas, como o próprio carinhoso apelido indicava, o adorável indivíduo não havia sido abençoado com dons simples da vida que envolviam o intelecto, dentre eles o ato de fazer compras corretamente.

Se ele deixasse essa responsabilidade para o moreno, ele provavelmente retornaria com uma garrafa de pinga e comida enlatada, com um sorriso idiota no rosto e a sensação de dever cumprido.

Balançou a cabeça e deu um leve encolher de ombros ao imaginar a face confusa do moreno cada vez que levava bronca — e bons chutes — ao fazer idiotices. Awn... Adorável! Ele sempre perdoava, afinal, não era a cada esquina que se encontrava um homem como aquele: absolutamente sensual e ridiculamente obediente.

Era irremediável. Sanji estava fadado a se apaixonar, cada dia mais, por aquele homem perfeito com o maior pên— quer dizer... Peito! Um enorme coração que nem cabia no peito! O ser humano mais gentil e compreensivo que existia.

Ele já estava completamente habituado ao mau humor. A carranca cotidiana que exibia era apenas fachada. Por baixo dessa camada bruta, que exalava testosterona por todos os poros — combinada com a expressão rotineira de quem chupou limão e não gostou —, havia um homem perfeito e carinhoso que era exclusivo apenas para si.

Ele amava perdidamente e inteiramente seu adorável marido cabeça de cacto. O fato dele ter um corpo escultural divino, completamente malhado e definido, abençoado com o maior pau que já havia sentado na vida... Pff... Completamente irrelevante.

Ele era um homem de princípios, okay? Um perfeito gentleman. Tanto que era implacavelmente atormentado pelos glutões que possuía como amigos e estava predestinado a cozinhar, frequentemente, para os ditos-cujos.

Ele absolutamente não entendia o que o seu amado esposo queria dizer quando insinuava que essa "generosidade" tinha o dedo das mulheres do grupo.

Absolutamente nada a ver! Aquilo era apenas o resultado de ser um anjo completamente bondoso e altruísta. Precioso demais para esse mundo cruel. Com apenas uma pitada de drama. Só um pouquinho.

E daí que 99,9% da motivação de seus atos de caridade gastronômica eram para impressionar as doces Nami e Robin? Pff... Pura coincidência! Quem liga pra matemática? Foda-se os números.

Ele era apenas um cavalheiro incurável e queria agradar as flores mais puras e perfeitas que existiam. Ele havia nascido para servir e admirar as mulheres!

Vinsmoke Sanji era lá homem de ser manipulado por ninguém? Ele que ditava as rédeas da própria vida, droga!

O loiro bateu o pé no chão, para enfatizar a conclusão do caloroso debate que transcorria apenas em sua cabeça, como se para enfatizar; entretanto, o ato resultou em uma colisão do seu mindinho com a quina do balcão da cozinha americana, e o loiro arfou de dor.

HeatOnde histórias criam vida. Descubra agora