Já não acordei de bom humor, acordar viva e pobre é o pior castigo que alguém pode ter.
Assim que sai do quarto, percebi que Anna não estava em casa, já que seu quarto estava aberto, com a cama arrumada e não a encontrei em nenhum outro cômodo. Isso mostrava o quanto era estava com raiva, já que sempre tomávamos café da manhã juntas.
Tenho medo de que não consiga me resolver com ela e acabarmos ficando brigadas, sem se falar, como aquelas brigas de criança.
Logo quando coloco um café pra fazer, a porta da frente é aberta, revelando minha mainha e seu precioso coelho, com a pata da frente enfaixada.
-termina de tomar café e vem para o meu quarto, a gente vai conversar -ela diz com um tom sério, que me fez tremer e assentir.
Assim que o café fica pronto, o coloco na minha xícara com um pouco de açúcar e leite.
Nunca demorei tanto na vida pra tomar um café quando agora, lavo minha xícara e caminho até o quarto de Anna.
Qual é a probabilidade dela dizer que está tudo bem e que ela me perdoa? Eu ouvi zero?
Bato na porta e um murmúrio abafado me dá a permissão que eu preciso, então abro a porta devagar e entro.
-senta aqui -ela aponta pra cama e eu obedeço -eu sei que você não traria alguém aqui sem ter um bom motivo, então me fala o que aconteceu -ela cruza os braços -sem muitos detalhes -começo engolindo minha vontade de rir.
-bom, lembra que eu falei que ia chegar tarde? -ela assente -eu fui sair com a Lia -ela revira os olhos murmurando um "novidade" -ela pediu pra que a gente viesse pra cá pra... Você sabe, coisas de adulto -ela bufa.
-eu sou dois meses mais nova -fala com o cenho franzido.
-tá tá. Eu tentei negar, mas no calor do momento eu acabei aceitando e bom, você sabe o que aconteceu depois -
-infelizmente -recolho os ombros.
-você tá brava? -ótima pergunta pra um momento em Billie, parabéns hein.
-com você? Bom, um pouco, eu tô é com raiva da vadia lá, você ouviu ela chamando meu bebê de "roedor"? Ainda por cima quebrou a patinha dele. Sorte dela que eu tenho classe, se não eu tinha voado na cara dela -começo a ri.
-ela é minha namorada tá? -
-poederia ser a presidenta, ela machucou o meu coelho, o Limão tá até triste só de ouvir o nome dessa vadiazinha de esquina -era impossível não rir.
-mas então, eu tô perdoada? -ela finge pensar um tempo.
-vou pensar no seu caso meu bem, agora vai logo que meu café da manhã não fica pronto sozinho -
-hahaha, já pensou em trabalhar no circo? Nem ia precisar de entrevista -ela revira os olhos se levantando da cama.
-bora logo -apenas a sigo até a cozinha.
...
Amo momentos assim em casa, deitada na perna da Anna e assistindo Titanic pela quarta vez no dia com uma bolinha de pelo deitada na minha barriga.
Fazíamos isso sempre, pelo menos umas duas vezes na semana deitamos e assistimos alguma coisa juntas, era uma tradição, eu fazia a pipoca e ela escolhia o filme.
A uns anos trás, quando a gente tinhas uns 15 anos, eu contei pra ela que eu nunca tinha assistido Titanic e ela me chamou de sem cultura e me fez assistir umas três vezes seguidas, agora pelo menos umas duas vezes na semana a gente assiste Titanic e eu sempre choro.
Anna era muito insensível em filmes, chegava a me assustar, ela adora filmes de ação, terror e romance. Ela simplesmente não chora e nem se assusta, como pode?
-eu quero com manteiga dessa vez -Anna anuncia da sala.
-não tem nem manteiga e nem pipoca, a gente vai ter que ir comprar -ela chega na cozinha puta da vida.
-ta de brincadeira, eu jurei que tinha comprado -ela procura em todos os armários mas nada -eu vou trocar de roupa, você vai assim? -chega a ser piada.
Ela me obriga a usar pijamas combinando nas nossas tardes de filmes, comprou até uma coleira da mesma estampa para o Limão.
-nem a pau, vou me trocar também, não demora -coloco só uma roupa simples e chamo um Uber -Annaa, o Uber tá chegando -ela sai desesperada do quarto, ainda com a blusa na mão -nossa então você tem peitos é? -
Ela odiava quando eu a zoava mas sempre manteve a pose de indiferente, então ela aperta os próprios peitos e joga um beijo pra mim, colocando sua blusa logo em seguida.
Antes que você se pergunte, não, essa não era uma cena fácil de se ver da minha parte.
-vamo logo -
...
-Billie -me viro pra ela, tentando focar em não queimar a pipoca mas ainda sim prestar atenção nela -se você não quiser, não precisa responder, mas eu tô curiosa pra saber, tipo, ontem, eu sei que vocês estavam... Se pegando, mas tipo, quando vocês estavam estrando, eu escutei você batendo com ela na parede e tipo, você jogou ela na cama -eu travo e peço a todos os deuses que se for possível, me tirar daí o mais rápido.
-sim, sobre o que você tá curiosa? -eu queria saber? Não, mas eu não posso negar que eu estava curiosa também.
-tipo, bater na pessoa quando vocês estão.. nessas horas, pra que isso? -agora tá confirmado, pode puxar Deus.
Como eu explico isso sem me sentir uma idiota?
-bom, isso a gente chama de preliminares -
Ela corta minha fala.
-eu sei, não precisa me dar uma aula de educação sexual, só me diz o motivo -ela me olhava atentamente, como uma aluna olhando para uma professora
-Bom, essas pequenas "dores", em alguns casos, causam prazer, dependendo da pessoa -eu tento olhar para tudo, menos para ela.
-espera, então tem pessoas que se sentem bem apanhando? -o jesus.
-resumindo, sim, é isso -ela faz um cara pensativa.
-e eu posso sentir isso? -O QUE???
-espera, você não quer que eu..? -
-NÃO.. não é bem isso, eu quero dizer, eu posso ser uma pessoa assim e não saber né? -não que fosse ruim que você fosse, mas no caso eu já tô com vergonha suficiente.
-não pensei que você tivesse curiosidade nesse tipo de coisa -eu só quero mudar de assunto, pode ser qualquer coisa.
-foi só uma curiosidade aleatória que me bateu... iii a pipoca -começo a sentir um cheiro de queimado.
Merda, a pipoca!!
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~SHE~ -Billie Eilish
FanfictionBillie e Anna, duas garotas com uma amizade de uma vida, decidem compartilhar um apartamento durante a faculdade, mas nem tudo é um mar de rosas. Billie desde pequena tem uma paixão platônica por sua melhor amiga Anna, mesmo namorando outra garota...