Prólogo - Cristina

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Um mês antes...

Esfreguei as mãos umas nas outras enquanto sentia os meus dedos suando. A aflição saltava no meu peito e a ansiedade crescia a cada minuto que eu passava sentada naquela cadeira no corredor, esperando ser atendida.

Chequei o horário no meu celular, já estava esperando por quase meia hora e isso só alimentava ainda mais o meu nervosismo.

— Senhorita Santos? — A secretária abriu uma porta e chamou a minha atenção.

— Sim.

— O senhor Wallace já irá atendê-la.

— Obrigada. — Esbocei um leve sorriso e tentei conter o suspiro de alívio.

Aquela era uma oportunidade única e eu precisava muito que desse certo. Estava apostando todas as minhas fichas naquela reunião e nem saberia como iria proceder caso desse errado.

— Me acompanhe. — A secretária fez um gesto para que fosse seguida e eu caminhei pelo longo corredor atrás dela até entrarmos em uma enorme sala de reunião.

Peter Wallace era um homem de meia idade e o responsável por uma grande empresa de aparelhos eletrônicos da Inglaterra. Fora um grande milagre conseguir um tempo para que ele me ouvisse e ainda estava em êxtase. Porém, o frio na minha barriga dizia para ir com calma naquela empolgação.

— Senhorita Santos?

Balancei a cabeça em afirmativa.

— Sente-se. — Ele indicou uma cadeira do outro lado da mesa que eu puxei com uma certa dificuldade e me posicionei. — Não tenho muito tempo.

— Serei breve, senhor.

— Ótimo.

Abri a minha mochila e tirei o meu protótipo de dentro. Era um aparelho do tamanho da palma da minha mão.

— O que você tem aqui? — O homem afunilou os olhos para reparar melhor.

— Por enquanto estou chamando de ultracharger, mas ainda daremos um nome melhor. Ele é um carregador portátil no qual estou trabalhando nos últimos dois anos. Quem nunca ficou sem bateria nos momentos mais importantes e o power bank estava descarregado? Ou não tinha nenhuma tomada por perto? Com o ultracharger isso nunca mais vai acontecer. Ele é um carregador altamente sustentável e ecológico, que é alimentado por energia cinética e solar que pode recarregar pequenos aparelhos eletrônicos por indução ou direto nos cabos. Tenho certeza de que ele vai revolucionar o mercado...

— Espera, garota — interrompeu o homem e eu não gostei nem um pouco da forma como ele falou comigo.

— Oi.

— É só um carregador?

— Não, senhor. É um supercarregador que vai recarregar sozinho.

— Ainda assim é só um carregador.

— Se as pessoas tivessem um desses nunca mais ficariam sem bateria.

— Me desculpa, mas no momento a minha empresa está buscando melhores investimentos.

— Espera, ainda não terminei a minha apresentação.

— Mas eu não tenho interesse — cortou-me de forma enfática, deixando-me completamente sem graça. — Faça a gentileza de se retirar. — Ele indicou a porta.

Peguei o meu protótipo e o coloquei de volta na bolsa.

Saí engolindo as lágrimas. Não queria cair no choro diante deles, mas estava me sentindo arrasada. Contive-me apenas até chegar à rua onde havia estacionado o meu carro. Assim que entrei no veículo, deitei-me sobre o volante e me permiti remoer mais uma tentativa frustrada de conseguir alguém que comprasse a minha ideia e investisse no meu projeto.

Talvez o senhor Wallace estivesse certo e não passasse realmente de só um carregador. Acreditava que as pessoas ficariam loucas para comprar o meu projeto, mas estava ficando cada vez mais evidente que não.

Alugada para o Natal (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora