Cinco

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— Eu avisei que era o melhor sorvete da sua vida – Disse observando-a fechar os olhos ao saborear uma colherada generosa de seu sorvete de menta com chocolate.

Só não sei dizer quem estava gostando mais: se era ela ao provar o sorvete ou eu, vendo-a provar o sorvete.

— Ouvi dizer que já fundaram religiões por causa disto aqui – Ela sorriu, me fitando de novo. Fez alguns sinais com a mão que não identifiquei, mas isso eu aprenderia com o tempo. Entendi que ela concordou e era suficiente.

— Esse sorvete foi uma das coisas que eu mais gostei quando me mudei para faculdade. Estava apavorado já que nunca tinha saído da minha cidade natal e esse sorvete me salvou. Comi tanto que quase me senti parte da loja, por isso que a dona age como se eu fosse da família.

Expliquei, tentando me redimir da situação constrangedora que foi ver a tia Tsunade, dona da loja, me bater e depois me apertar, assim que entramos. Me chamou de desnaturado por nunca mais ter voltado e disse estar com saudades.

Olha, não foi nada bonito, mas confesso que adorei quando ela insinuou que Hinata fosse minha namorada. Foi quase errado dizer que era um mal entendido.

E foi esse episódio que me fez admitir, para mim mesmo, que não importa o pouco tempo que passamos juntos, eu gosto dela. Gosto demais dela.

Tomamos o sorvete, comigo tagarelando o tempo todo, enquanto ela ria, concordava, variava suas expressões de modo que eu entendesse o que ela queria dizer, e fazia alguns sinais que nem sempre eu entendia, mas, como já disse, isso é o de menos.

— Então, há uma livraria fantástica no fim da rua... – Ela me olhou interessada e curiosa – Como você gosta muito de ler, tenho certeza de que vai gostar de lá.

Ela apertou os olhos, apoiou o queixo em uma das mãos e me olhou como se eu fosse um espécime novo de alguma descoberta.

— O que foi? – Ela fez sinais, mas eu não entendi nada e minha cara de confusão demonstrou isso, pois ela riu e pegou o celular. Em seguida o meu vibrou.

"Como você conhece mais desse lugar do que eu?"

Dei uma risada alta.

— Foi na primeira semana que me mudei. Fiquei muito inquieto e rodei quase a cidade inteira. Vou te poupar da parte em que me perdi e quase chorei pedindo pela minha mãe, então saiba apenas que agora sou um guia ambulante.

Ela deu risada, e mesmo sem emitir nenhum som, eu sabia que ela estava se divertindo.

Terminamos o nosso sorvete e seguimos rumo à livraria. Apesar de ser domingo, aquela rua estava praticamente vazia, por isso andamos lado a lado sem interrupções. De vez em quando meus dedos roçavam nos dela, sem querer (...sem querer...) e ela sorria um pouco.

— É aqui.

O balconista nos cumprimentou simpática. Diferente de grandes livrarias, aquela era bem rústica. Uma mistura de decorações preenchia as paredes, dando um ar íntimo e peculiar.

Eu estava certo em pensar que ela gostaria. Hinata estava radiante, prestando atenção nos detalhes do lugar todo. Eu a observava quase sem piscar. Ela correu os dedos pelas lombadas dos livros nas prateleiras, como se cada título a encantasse.

Contudo, nada a encantou mais do que a seção de livros infantis. Lá havia uma casinha, com uma fachada de castelo, com dois travesseiros dentro, e um dos lados do teto funcionava como prateleira. Havia uma escrivaninha encostada do lado de fora, com uma caixa de correio onde as crianças podiam deixar e pegar cartas. Havia também uns cubos de plástico com palavras diferentes em cada face, o que ajudava as crianças a formar frases.

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