Herdeira do Duque

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Taehyung olhava pela parede transparente os flocos de neve pousando sobre as redomas que cobriam as flores do jardim à frente do seu quarto. Sempre havia neve caindo em Ceres, ainda assim Taehyung não conseguia se cansar de olhar. Era tão bonito. Aquela imensidão branca nada parecida com a paisagem tropical na qual nasceu e foi criado; nenhuma saudade de Gin, seu planeta natal.

— Eu gosto daqui... — Murmurou pra si mesmo, espalmando os dedos sobre a superfície levemente convexa do vidro de cristal, podendo sentir a baixa temperatura do lado de fora ali, sugando o calor dos seus dedos. De fato, gostava de Ceres, daquela terra gelada estranhamente cheia de vida; mas gostava mais quando o dono dela por direito estava ali com ele, o Duque Park: tinha voltado de uma longa viagem, então porque não pôde vê-lo imediatamente? Por que não pode correr para abraçá-lo e beijá-lo em seu retorno? Por que tinha de ficar ali, esperando ainda mais?

— Lorde Kim. — Ouviu um oficial chamar, dando batidinhas no batente da porta aberta. Não se virou. — O Duque pediu pra avisar que está em casa: perguntou se quer jantar com ele esta noite.

— Eu quero ver meu duque agora. — Falou, mais ríspido do que se imaginou. — Aonde ele está? — Olhou por cima do ombro pro oficial à porta, este que se endireitou ao ouvir seu tom.

— Lorde Kim, o Duque está muito ocupado no momento com uma questão, receio que...

— Pois diga a ele que se me fizer esperar até o anoitecer eu vou castrá-lo.

— Meu lorde, isso é um absur-

— Sim, eu sou bem capaz de fazer uns absurdos! — Bateu com o punho fechado na parede de vidro. O som do soco seguido de passos apressados que foram se afastando rapidamente. Ah, sim, todos sabiam muito bem do que os famosos demônios das praias de Gin eram capazes. "Não se brinca com concubinas da realeza", foi daí que surgiu a frase. Lindos e impiedosos, como deuses, esse era o traço marcante de toda a casa Kim, e foi se lembrando disso que o oficial correu para o escritório do Duque Park, pedindo que desse permissão para que seu amante pudesse vê-lo o quanto antes.

— Ah, ele está impaciente? — Jimin sorriu de canto. Ah!... meu Taehyung... — Hu... — Riu, e então balançou a cabeça. — Certo, diga que o estou esperando aqui.

Não queria o incomodar tão cedo e acabou o irritando... bem, paciência. Juntou as mãos às costas e se aproximou da parede de vidro, olhando pro costumeiro céu branco-cinza de Ceres. Sempre nevando... Era engraçado como aqueles flocos gelados lhe causavam uma sensação aconchegante, principalmente depois de tantas semanas sem vê-los caindo tão delicados sobre o solo cheio de gelo.

— Foi uma campanha difícil, não foi, general? — Um dos seus soldados a postos no seu escritório comentou. Ele também estava contemplando a neve lá fora.

— Foi... — Jimin concordou, sorrindo consigo. Era bom ser chamado de general pelos seus soldados, pra variar. Soava melhor que "duque", pelo menos pra ele, que ouviu tanto tempo chamarem por aquele título seu pai. — Mas deu frutos.

— É o que importa.

— Uhm, é o que importa.

Uma campanha difícil, de fato foi, ou talvez mais que isso. Jimin teve de levar seu exército numa missão de emergência a um planeta fora da União, onde foi descoberto estar vivendo uma antiga e perdida linhagem dos Park. Era uma das Terras, a Terra 03: o planeta estava semi devastado, atacado por colhedores de destroços semi-humanos. Não chegaram tarde demais, mas tarde o bastante para resgatar apenas um sobrevivente dos Park, enviar uma colônia dos demais sobreviventes pra União, bem como entregar-lhe a conquista do planeta. Uma campanha difícil, sim, mas que deu frutos: um fruto do acaso, aos olhos do duque, encarnado naquela garotinha deitada ali, dentro da redoma de recuperação que fora montada às pressas no seu escritório. Deveria ter sete anos, talvez, ou oito: pequena e magricela, com os cabelos completamente brancos cortados grosseiramente; as mechas irregulares fazendo caracóis espalhados no travesseiro sob a cabeça. Olhou pra ela por um tempo, observando como tremiam discretamente os cílios alvos nos olhos fechados, denunciando um sono profundo e certamente recheado de pesadelos conturbados. "Como será para ela?", pensou, "De repente se descobrir parte de uma família nobre?"

Loverboy - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora