Arrisco-me a dizer que qualquer pessoa que passe por São Francisco não se vai embora sem ver, nem que seja de longe, a grandiosa Golden Gate.
É, sem margem de dúvida, uma das pontes mais visitadas em todo o mundo mas também um dos principais pontos onde pessoas tentam acabar com as suas vidas. Muitas delas acabam mesmo por conseguir fazê-lo.
São sessenta e sete metros de altura e uma queda com a duração de aproximadamente quatro segundos que me separam da água neste momento.
A minha pesquisa de ontem acerca deste local permitiu-me ainda ficar a saber que quem aqui se dirige para saltar não quer morrer. Quer apenas saber se alguém se importa.
E será que alguém se importa?
São nove e meia da noite e estou no mesmo sítio há mais de uma hora. Os carros passam constantemente e ainda nenhum parou. As poucas pessoas que por aqui ainda passeiam também parecem não notar a minha presença.
O vento gelado que bate diretamente contra todo o meu corpo torna tudo mais assustador.
Talvez, tal como tantos outros, eu não queira mesmo fazer isto. Olhar para baixo está a começar a intimidar-me.— O que é que estás a fazer? — uma voz desconhecida assusta-me e quase que o meu coração pula do peito de tão acelerado que está — Não falas?
Os nossos olhares estão fixados. Eu não o conheço, nunca o vi na minha vida, no entanto, ele foi o único que se aproximou de mim.
— E tu?
— Eu perguntei primeiro. — argumenta e nesse mesmo instante um milhão de perguntas instalam-se na minha cabeça.
O que é que ele está a fazer aqui sozinho? O mesmo que eu?Ao analisar o rosto dele não consigo decifrar absolutamente nada. A única coisa que eu sei é que ele está a impedir que eu cometa a maior asneira da minha vida.
— Importas-te comigo? — questiono e imediatamente pega na minha mão para me afastar do vão.
— Sei porque é que me estás a fazer essa pergunta.
— Sabes? — talvez a minha teoria sobre o porquê de ele aqui estar esteja certa.
— Sei. — suspira — E eu importo-me.
Ele disse-o. Ele realmente disse aquilo que todos querem ouvir.
— Estive a observar-te desde que chegaste. — admite.
— Estiveste? — eu não o vi — Também precisas de ouvir, não é?
— Ouvir o quê? — ele sabe do que eu estou a falar.
— Eu também me importo contigo. — digo e sinto um arrepio.
— Vamos embora.
— O quê? — para onde é que ele me quer levar?
— Vamos sair daqui de cima. — ele pausa — Os dois.
Eu e ele.
Ele e eu.Não há mais nenhuma troca de palavras ou sequer troca de olhares. Caminhamos lado a lado e, quando finalmente tenho os meus pés fora daquela ponte, respiro profundamente. Parece que um peso saiu dos meus ombros.
— Prometes que voltas para casa? — há algo na voz dele que me conforta.
— Só se prometeres o mesmo.
— Está prometido. — um breve sorriso surge nos seus lábios.
— Também prometo. — desvio o meu olhar para os meus pés.
Quando voltei a levantar a cabeça, em silêncio, cada um seguiu o seu caminho.
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Sabes onde me encontrar
Romance" Aprendi a viver com a solidão e angústia. São duas coisas absolutamente banais na minha vida. "