Prólogo

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Nascer em berço de ouro nem sempre é sinónimo de felicidade, de afetos, de boas relações com os membros mais próximos da família… Aqueles que me trouxeram a este mundo.

Quem olha para nós não hesita em dizer que somos o espelho de uma família perfeita. Uma família com um grande império que emprega muitas pessoas garantindo assim o sustento de várias famílias. 

Mas por trás de tudo isso existe aquilo que ninguém sabe.

Não são uns pais presentes. Nunca o foram.

O trabalho de sol a sol e as mil e umas viagens não lhes permitia ter tempo para mim quando era uma criança. Agora adulta nada mudou. 

Passei a maior parte da minha vida a ser cuidada por várias pessoas desconhecidas e com quem nunca consegui estabelecer um vínculo. Talvez por toda a revolta que eu já sentia. Talvez porque um dia ouvi o meu pai dizer que eu tinha sido um erro.

Até aos dezoito anos tive aulas em casa e o argumento para tal era sempre o mesmo: "ficas mais segura". Consequentemente, as únicas crianças com quem convivi foram aquelas que o pai, a mãe ou ambos trabalhavam na empresa e apanhavam grandes secas como eu em eventos. E poucas eram as vezes que eles iam.

A roupa e sapatos desconfortáveis era o que eu tinha de aguentar durante horas e horas rodeada de adultos de gravata e mulheres de vestidos dignos de gala.

Desiludi-os pela primeira vez quando decidi não ir para a universidade. E desiludi-os uma segunda quando rejeitei fazer o quer que fosse naquela maldita empresa. Papéis e números nunca me interessaram.

Com vinte anos continuo a viver debaixo do teto daqueles que se dizem meus pais. Ainda não consegui juntar dinheiro suficiente para me ir embora e ter a minha independência. Mas a verdade é que estar nesta casa não é propriamente uma tortura já que eles continuam apenas a usá-la para dormir.

Aprendi a viver com a solidão e angústia. São duas coisas absolutamente banais na minha vida.

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