Distração

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Talvez aquilo estivesse indo longe demais.

Faziam dias que Katsuki estava paranóico e obcecado pelo ruivo de sua sala – não pelos motivos que qualquer outro estaria –, e em todos esses dias ele afirmou com unhas e dentes em pensamentos que aquilo não significava que estivesse preocupado com o garoto. Não era uma mentira, mas depois de todos os acontecimentos como: olhar para ele durante toda a aula indiscretamente; deixar bem claro que estava o seguindo durante o recreio; ou ter tido várias tentativas falhas de puxar um assunto completamente aleatório. Fica difícil acreditar que esse não é o caso. 

No começo de sua curiosidade estava tudo sobre controle, ele tomava ao menos cuidado para não deixar na cara que havia se tornado um maldito stalker, mas depois de dias investigando e não obtendo respostas nem sobre onde o garoto passava o recreio a sua paciência chegou ao fim e ele partiu para seu plano B: ser indiscreto. Precisava saber a verdade de um jeito ou de outro, nem que saísse de seu casulo confortável para isso, ele descobriria. Não aguentava mais sua própria mente lhe pregando peças o fazendo pensar sobre os problemas do ruivo a todo momento, até tentou fazê-la parar se distraindo mas não funcionou. 

Agora seu foco era realmente chamar a atenção do garoto, ele queria que Kirishima o notasse, para poder lhe encurralar e arrancar as respostas. Isso na teoria, já que além de não ter cara de pau o suficiente e não querer admitir que estava interessado na vida alheia, sabia que esse tipo de aproximação não faria efeito. Por isso se limitou a olha-lo de longe mais uma vez, era a única coisa não vergonhosa e não comprometedora que saciava sua estranha curiosidade. 



Depois da semana agitada essa era a primeira vez que ficava em paz, estava largado na cadeira da sala enquanto rabiscava algo em seu caderno, as atividades que o professor passou foram fáceis demais e não demorou para que terminasse, o barulho do lápis na folha era uma das únicas coisas que o distraia o suficiente para que os questionamentos estivessem longe de seus pensamentos, o que de certa forma é ruim. 

Sua cabeça sempre foi cheia de coisas, nunca sobre os outros, mas sempre borbulhava de memórias e traumas que na maioria das vezes o deixava puto e com um gosto amargo na boca. Pensar na vida e nos problemas do garoto ruivo o impediam de pensar nas coisas ruins que rondavam sua cabeça, uma espécie de distração, então mesmo que ficasse irritado por estar curioso por alguém que nem conhecia direito, aquilo o afastava de pensar coisas piores. 

E infelizmente mesmo com o barulho do lápis que o hipnotizava, continuava lembrando de todos os momentos odiosos que adoraria esquecer.

Foi depois do terceiro pensamento sobre seu passado lhe invadir a cabeça entre os sons de rabiscos que Katsuki soltou o lápis e respirou fundo, odiava reviver coisas que haviam o machucado. Sempre sentia seu coração falhar, sua garganta fechar, seus olhos marejarem, seu ar faltar, eram sempre as mesmas sensações dolorosas que queimavam com tudo dentro de si e lhe causavam uma grande dor de cabeça. Odiava se sentir frágil assim.

Tentando evitar tudo isso, focou o olhar no ruivo que sentava um pouco mais a frente. Nunca admitiria que o usava como válvula de escape algumas vezes depois de perceber a facilidade que tinha em focar completamente nele, mas em seu interior sabia que estava o fazendo. Neste momento o foco de seus pensamentos parecia ter dificuldade para fazer as atividades, o garoto tinha a mania de colocar a língua para fora e entortar a cabeça enquanto pensava, aqueles gestos o deixavam tão parecido com um cachorro que Katsuki deixou uma gargalhada escapar de sua garganta enquanto o olhava incrédulo. Se fossem amigos ele até pensaria em oferecer ajuda, mas por hora iria observar as expressões estranhas que o garoto fazia para pensar em qualquer resposta como se fosse a coisa mais difícil do mundo. 

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⏰ Última atualização: Sep 09 ⏰

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