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A tua conversa era da treta, Brad. Lamento que tenhas de ouvir isso. Mas a verdade é que até a tua conversa podia ter sido um sinal de como tudo em ti era uma treta. Mas até nisso eu caí.

Aceitei ir beber café contigo. Ainda hoje me questiono como é que eu aceitei isso. Levaste-me a um café que, mais tarde, fiquei a saber que era perto de tua casa. Abriste-me a porta e deixaste-me passar primeiro. Lembro-me que na altura fiquei lisonjeada e cheguei mesmo a pensar que eras um rapaz "à antiga", erro crasso. Sentámo-nos numa mesa perto da janela. A vista não era lá grande coisa: estradas, pessoas, carros. As mesas eram redondas com o tampo em madeira e combinavam com as cadeiras, também elas de madeira. Um típico coffee shop.

Pedi um latté e tu um cappuccino. Por uns segundos fiquei em silêncio a observar as pessoas que percorriam as ruas lá fora. Umas apressadas para irem para o trabalho, outras num passo mais lento a passear.

- Nunca te vi no parque. - Interrompeste os meus pensamentos desbloqueando o gelo.

- Não costumo lá ir muitas vezes. A Molly gosta mais de ir passear pela vizinhança. - A minha voz ecoa, mas os meus olhos estão fixos na minha chávena.

- É o destino. - Disseste-o como se tivesses a certeza disso. Não consegui evitar uma gargalhada e de imediato pude ver a tua sobrancelha franzida.

- Não acredito no destino. - Apressei-me a justificar a minha gargalhada. Disse-o, mas na realidade acreditava.

- Talvez eu consiga fazer com que tu acredites. - Lançaste aquele teu sorriso irritante e levaste a chávena aos lábios.

- Ainda me estou a questionar porque é que aceitei vir beber café contigo. - Revirei os olhos, mesmo não sabendo que esse teria sido o meu primeiro grande erro.

- Vais ver que com o tempo vais perceber que foi a melhor decisão da tua vida. - Sorriste novamente, mas desta vez conseguiste-me convencer que era um sorriso sincero. Talvez o problema de tudo isto é que tu disseste tudo aquilo que eu queria ouvir e fizeste tudo aquilo que eu queria receber. Disseste as mais belas frases de amor e eu caí em todas elas.

- Eu não gosto de rapazes como tu. - Retorqui com desdém.

- Rapazes como eu? Deixa-me adivinhar: "rapazes que acham que conseguem qualquer rapariga com uma conversa da treta"? - Disseste-o como se isto fosse um jogo. E talvez fosse.

- Isso. E não só.

- Que mais?

- Rapazes que se acham a última bolacha do pacote.

- É a melhor de todas.

- Nem por isso. Costuma ou estar mole, ou partida. Prefiro as do meio. - Lancei um sorriso leve. Mostraste-te sem palavras com o que dissera.

- Bem... Lá nisso tens razão. Mas eu não sou um rapaz assim.

- Então?

- Com o tempo vais ver. - Como é que eu fui acreditar nas palavras idiotas que me disseste? Como é que eu caí nas tuas falinhas mansas?

O resto da hora que passámos sentados naquela mesa de café foi a mesma treta. A mesma treta da mesma conversa, pelo que não vale a pena continuar aqui com este tipo de diálogos. Na altura parecia tudo muito acertado e normal. Parecia que tudo o que dizias era água, e eu bebia as tuas palavras como se estivesse no deserto há semanas, a entrar quase em desidratação.

Lá fora uma nuvem negra aproximava-se, ameaçando a previsão de chuva. Era a minha deixa. Estava na hora de ir para casa e sentia que Molly, lá fora, começava a ficar impaciente. Levantei-me da cadeira dizendo-te que tinha de ir.

- Eu acompanho-te a casa. - Sugeriste.

- É longe. - Tentei evitar.

- Eu gosto de andar.

- Vai começar a chover. - Insisti.

- Andar à chuva faz bem aos anticorpos. - Encolheste os ombros.

- Eu mal te conheço, não sei se é uma boa ideia mostrar-te onde é a minha casa. - Acabei por dizer.

- Até que tens razão nisso. Tudo bem, fica para uma próxima. Onde te posso encontrar então Nat? - Questionaste e eu percebi que era a deixa para me pedires o número de telemóvel. Acabei por ceder, e dei. Outro erro.

E chegamos assim, ao terceiro motivo.

Teres-me enganado com a tua conversa. 

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⏰ Última atualização: Dec 18, 2021 ⏰

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