único

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Dazai simplesmente não conseguia tirar Chuuya da cabeça. Depois que o ruivo o libertou ao ter sido sequestrado pela Máfia, ficou o resto do tempo pensando nele, lembrando de quando ainda tinha que conviver diariamente com ele — e com o resto da Máfia, mas mais especificamente Nakahara. Tinha decidido, iria até o ponto de encontro deles.

Chegou até o prédio abandonado com uma garrafa de vinho em mãos, e deu um longo suspiro. Faziam anos que sequer olhava para aquele lugar. Precisou contar até dez, até finalmente ter coragem de segurar a escada e começar a subir. Subiu calmamente, vez ou outra parando nas plataformas dos andares para descansar e processar o que estava fazendo. Quando faltava apenas um lance de escada para chegar ao terraço, pensou ter ouvido uma voz familiar murmurando. Estranhou, e subiu ainda mais rápido, dando de cara com um ruivo sentado no chão, tentando abrir uma garrafa de vinho sem um saca-rolhas.

— Chuuya? — perguntou quando terminou de subir as escadas, o que assustou o ruivo.

— Dazai? Que porra você tá fazendo aqui? — Nakahara, ainda assustado, revidou a pergunta.

— Eu que te pergunto. — se aproximou para poder o ouvir melhor, mas ainda mantendo uma certa distância.

— Eu perguntei primeiro. — voltou a tentar abrir a garrafa, até que Dazai lhe estendeu um saca-rolas. Bufou, mas aceitou; queria muito beber aquele vinho. Dazai deu mais um suspiro.

— Não posso mais querer aparecer no nosso ponto de encontro? — deu ênfase no "nosso", e Chuuya deu uma risada sarcástica.

— Agora você quer aparecer aqui? Depois de anos sem dar as caras? Depois de simplesmente sumir sem me dar nenhuma satisfação? — Osamu ia dizer algo, mas o ruivo o cortou — Deixa eu adivinhar, depois que você me viu hoje você não conseguiu tirar a minha cara linda da sua cabeça? Ah, e além disso, você queria saber se eu ainda era otário o suficiente pra ainda vir aqui mesmo depois de anos?

— Bom, a primeira parte tá certa... — coçou a nuca em nervosismo, e Nakahara revirou os olhos.

— Que seja. — deu a primeira (grande) golada em seu vinho, diretamente da garrafa — Vai continuar em pé que nem um poste?

Dazai acabou por se sentar ao lado do ruivo, mas ainda com um metro de distância, abrindo a própria garrafa e dando um pequeno gole, também direto da garrafa. O de cabelos castanhos deu outro suspiro.

— Acho que eu devia me desculpar por ter saído da Máfia sem te avisar antes. Eu fiz isso por impulso, e hoje percebo que foi errado.

— Você sabe que eu não vou te desculpar tão fácil, né? Você tem alguma ideia do quão puto eu fiquei na época, me sentindo um completo merda sem importância, porque você não me falou nada e só sumiu?

— Eu imagino como foi, e eu sinto muito por isso. — Chuuya deu mais uma risada sarcástica.

— Chega a ser cômico te ver pedindo desculpa. — deu outro grande gole em seu vinho, percebendo que se continuasse bebendo nesse ritmo, a garrafa acabaria em cinco minutos.

— Até eu posso me arrepender de algumas coisas.

— Se arrepende de ter saído da Máfia?

— Me arrependo de não ter falado com você antes. E de ter parado de vir aqui. — ficaram alguns segundos em silêncio, e deram um gole nos vinhos ao mesmo tempo.

— Por que você parou? — pela primeira vez na noite, Chuuya baixou a guarda e pareceu mais vulnerável — Eu vim pra cá toda madrugada, por seis meses seguidos, com a esperança de que você ia aparecer.

— Eu... honestamente não sei. — suspirou, e arriscou chegar um pouco mais perto do outro — Eu pensei que você ia sentir tanto ódio de mim por ter saído sem avisar que não ia mais aparecer, então eu só desisti. Não devia ter feito isso.

— Essa porra doeu muito, Dazai. Ainda dói. — baixou a cabeça, não querendo deixar transparente seus olhos cheios d'água — O que me irrita mais é que eu não consigo te odiar. — deu uma risada falsa, e outro grande gole em seu vinho. Já estava começando a sentir o efeito de beber tanto tão rápido — Você fez eu me sentir um merda por um tempo gigante, me abandonou, e ainda se juntou ao lado oposto ao da Máfia, mas no fundo eu sei que você se arrepende de verdade e que não queria me fazer mal, então eu simplesmente não consigo te odiar. E quando eu pensei que finalmente tinha superado e que estava bem, você apareceu hoje e me fez sentir tudo de novo. Por que acha que eu voltei aqui hoje? — Osamu se mantinha em silêncio, apenas ouvindo tudo que o outro dizia — Porque te encontrar me fez perceber que eu ainda não consegui te superar, e infelizmente eu ainda quero voltar a te ver todo dia e ter a mesma relação que a gente tinha quando adolescentes. Que merda, Dazai! — deu mais um gole, vendo que a garrafa estava quase em seu fim — Vai ficar só me olhando ser um otário ou vai falar alguma coisa?

— Eu não devia ter feito isso com você, e não tem nada que eu posso fazer agora além de me desculpar. Você não merecia ter passado por isso. — chegou um pouco mais perto do ruivo — Eu já sabia que eu tinha errado, mas te reencontrar me fez ter ainda mais certeza. Eu vim pra cá hoje pra poder ficar sem ninguém por perto, organizar meus pensamentos, e quem sabe descobrir um jeito de te pedir desculpa, mas você aparecendo aqui acabou mudando meus planos. — percebeu que a garrafa de Chuuya tinha acabado, e lhe estendeu a sua, que estava quase cheia.

— Não vai beber?

— Sempre preferi whisky, só trouxe vinho porque é a sua bebida favorita. — Chuuya deu uma risada e tomou a garrafa, não tardando em beber — O ponto que eu quero chegar é que eu sinto muito por tudo que eu fiz. Eu fui um completo bosta com você, e vou entender se você não quiser me desculpar.

— Como eu disse, não vou conseguir te perdoar tão fácil. — agora quem se aproximou foi Nakahara, deixando a garrafa de lado e tirando seu chapéu, deixando seu rosto a poucos centímetros do de Dazai — Mas como eu também disse, eu simplesmente não consigo te odiar. — encostou sua testa na do outro, e fechou seus olhos — Eu preciso que você me prometa que nunca mais vai me deixar sozinho de novo, e você vai ter que cumprir.

— Eu não sei se eu consigo fazer uma promessa dessas. — ia se afastar, mas percebeu que o rosto de Chuuya estava molhado por lágrimas.

— Me promete, Dazai. — pediu com uma voz chorosa — Por favor.

— Ei, calma. — segurou o rosto de Nakahara e secou as lágrimas com seus dedos — Eu não posso prometer isso, mas prometo que nunca mais vou desaparecer do nada sem dar nenhum aviso antes. É suficiente?

— Não exatamente — deu uma fungada —, mas já me conforta um pouco. — Dazai deu uma risada, e em um lapso de coragem, selou os lábios do ruivo com saudade.

— Você não faz ideia do quanto eu senti a sua falta.

Chuuya sorriu e selou os lábios de Osamu de volta. E ali ficaram por toda a madrugada, recuperando o tempo perdido, para então de manhã voltarem com suas vidas separadas.

eu sinto muito • soukokuOnde histórias criam vida. Descubra agora