CAPÍTULO ÚNICO | A magia dos poemas

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"Gastei uma hora pensando um verso

que a pena não quer escrever.

No entanto ele está cá dentro

inquieto, vivo.

Ele está cá dentro

e não quer sair.

Mas a poesia deste momento

inunda minha vida inteira."

— Alguma Poesia: Poesia, Carlos Drummond de Andrade

— Alguma Poesia: Poesia, Carlos Drummond de Andrade

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São Paulo, Brasil

Final de junho de 2020

Em dias normais, poucas coisas eram capazes de distrair Diana quando ela estava escrevendo. Uma vez que desse play em sua playlist favorita de bossa nova e começasse a revirar as anotações em seus cadernos, adicionando e riscando informações sem parar, o mundo exterior deixava de existir. No minuto em que se acomodava em seu escritório, com um copo de chá quente — ou gelado, se fosse verão — em mãos, nada mais importava além de Diana, suas ideias e a vontade inexplicável de compartilhá-las com pessoas tão sonhadoras quanto ela.

Todo esse ritual era terapêutico para Diana Monteiro, considerando sua rotina atarefada como escritora e editora-chefe em uma das maiores editoras do país. Ela se dividia diariamente entre analisar os próximos lançamentos da Sonhos Dourados, se encontrar com os autores para discutir os detalhes das obras em questão e organizar os posts para suas redes sociais — o que, sendo honesta, era sua parte menos favorita do trabalho. Se somasse isso à vida social intensa — Diana nunca recusava uma festa —, às tarefas domésticas e aos eventuais bloqueios criativos, nem sempre ela conseguia sentar para escrever as próprias histórias. 

Por isso valorizava tanto esses momentos sozinha em seu escritório e tentava aproveitá-los ao máximo.

Naquela noite, porém, o processo não estava fluindo como Diana esperava. Tudo a distraía. O barulho da chuva que caía do lado de fora, a melodia suave que se espalhava pelo ambiente, as luzes de São Paulo além da janela. A tal ponto que ela perdera as contas de quantos minutos passou encarando a tela do notebook até reparar que o documento aberto estava em branco. E, mesmo se esforçando para conseguir escrever alguns parágrafos, nenhum deles ficou bom o suficiente para motivá-la a continuar, o que só aumentou a sua frustração.

Com um suspiro derrotado, Monteiro abaixou a tampa do laptop e tomou o que restava do chá de hortelã em um único gole, os olhos fixos na paisagem noturna à sua frente. Depois de tantas tentativas fracassadas, ela duvidava que sua pequena sessão de escrita rendesse muito mais. Independente do quanto tentasse, parecia impossível manter os pensamentos em ordem. Sua mente sempre acabava voltando para a mensagem que recebeu horas mais cedo e foi a causa de todo aquele estado de nervos: ele está indo embora, achei que soubesse.

POESIA À MEIA-NOITE • Ricardo Lucarelli ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora