MAIS UMA HISTÓRIA
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Havia um homem muito pobre lá pelos rincões secos e longínquos do Nordeste... Ele tinha uma família numerosa: esposa e 4 filhos, 3 meninos e uma menina a caçula de 8 anos que, por ser menina, era a xodó desse pai e dessa mãe... A falta de alimentos era constante, muitas vezes dormiam com fome em redes dispostas pelos dois cômodos da velha casa de taipa, seus filhos ainda pequenos e já acostumados com as faltas primordiais de um ser humano: água e comida... Olhos grandes e tristes fitavam o pai, quando chegava do mato ao anoitecer, esperando ardentemente encontrar alguma caça em suas mãos... Era uma festa quando isso acontecia, e todos corriam no terreiro para pegar a lenha seca, quase escassa, para sua mãe acender o fogo e fazer o único comer daquele dia... Depois, todos ao redor de uma mesa feita à mão de um velho toco achado na árida caatinga, iluminada por uma tosca lamparina, faziam suas preces, agradecendo a Deus pelo alimento daquele dia. Aquele pai cansado pegava a sua velha gaita, sentava em uma pedra no terreiro e tocava, tocava, tentando esquecer aquela vida sofrida de tanto sacrifício... Seu rosto ainda jovem, marcado pelas rugas e queimado pelo sol tórrido do sertão, seus lábios rachados, parecia mais velho do que era... E tocava a sua gaita, tocava um lamento cortante vindo de sua alma que chorava, enquanto seus filhos dormiam em suas redes, de barriguinha cheia, ele tocava e aquele som profundamente triste como um cântico de esperança em um novo dia, uma nova oportunidade de encontrar pelas brenhas uma nova caça para alimentar sua prole...
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Nelson Só
20.12.2021
