𝐁𝐄𝐓𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐇𝐀𝐓 𝐓𝐇𝐀𝐓 ━━━ a escola do bem e do mal [1]

Capítulo 1

━━━━ CAPÍTULO UM
⤷‧₊˚ o quarto 66 ⸽ ou: um interrogatório que resultou em quase assassinato

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HAVIA TRÊS ESCADARIAS PRETAS, perfeitamente alinhadas, em espiral. Uma delas, entalhada com monstros, dizia MALÍCIA ao longo do corrimão; a segunda, cravejada com aranhas, dizia INJÚRIA; e na terceira, com cobras, lia-se VÍCIO.

Eu fechei os olhos, me concentrando, e mudei a cor do meu cabelo para azul-petróleo. O meu talento é modificar a minha aparência à vontade. Tudo bem, chega de interrupções...

Ao redor das três escadarias, eu notei que as paredes eram cobertas de molduras com cores diferentes. Em cada moldura havia o retrato de uma criança, ao lado de uma ilustração de um livro de contos de fadas, que mostrava no que o aluno havia se transformado após formar-se. Uma moldura dourada trazia a foto de uma garotinha duende e, ao lado desta, um desenho magnífico dela como uma bruxa sobre uma donzela em coma. Uma placa dourada estava embaixo das duas ilustrações:

CATHARINE DE FOXWOOD
Branca de Neve (Vilã)

A moldura dourada seguinte trazia o retrato de um garoto que sorria maliciosamente, com sobrancelhas grossas e emendadas, ao lado de outra pintura dele, já adulto, colocando uma faca no pescoço de uma mulher:

DROGAN, DE MONTANHAS MURMURANTES
Barba Azul (Vilão)

Abaixo de Drogan, uma moldura de prata mostrava um menino magricela, de cabelos louros espetados, transformado em um dos doze ogros que atacavam uma vila:

KEIR DE NETHERWOOD
Tom Thumb (O corcunda)

Então, eu notei uma moldura cor de bronze envelhecido, na parte inferior, com um garotinho pequeno, careca, de olhos arregalados e assustados. Contudo, não havia desenho ao seu lado. Apenas uma placa enferrujada que dizia:

FRACASSOU

O que teria acontecido com ele? Eu olhei para cima, vendo milhares de molduras de ouro, de prata e de bronze, que cobriam cada centímetro do corredor: bruxas assassinado príncipes, gigantes devorando homens, demônios ateando fogo em crianças, ogros, górgonas, cavaleiros sem cabeça, impiedosos monstros marinhos. Um dia eles haviam sido adolescentes... estranhos, para dizer o mínimo. Agora, eram retratos do mal absoluto. E por que aquilo me provocava uma sensação de admiração?

Os vilões estavam desenhados em seus melhores momentos, como se tivessem emergido triunfantes de suas fábulas. Reconheci o rosto da minha mãe... rapidamente desviei o olhar. Não queria pensar nela naquele momento.

Ao me virar para entrar em um corredor mais largo, eu vi um anão chifrudo de pele vermelha em cima de uma escadinha, pregando mais retratos em uma parede vazia. As molduras continham rostos de alunos - BRONE, de ROCH BRIAR, ARACHNE, de FOXWOOD, e HORT, de BLOODBROOK, assim como tantos outros. Uma menina soltou um grito, fez a escada balançar e caiu entre as paredes.

Os lobos rosnavam e os alunos ficaram de olhos arregalados. Ela dizia que precisava conversar com o Diretor da Escola, como se isso fosse possível. Mamãe e minha madrinha já me falaram que ele ficava dentro de uma torre, completamente isolado, cuidando do Storian, o artefato mágico que era responsável por escrever as histórias da Floresta Sem Fim.