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De fato, já estava decidido. Ela iria se casar, a minha doce princesa iria se casar. Deveria imaginar que não duraria muito nosso caso, que logo um príncipe seria colocado à sua disposição e ela teria que deixar de ser minha, afinal sou apenas uma criada qualquer, que jamais irá conseguir viver ao lado de seu amor.

Como pude um dia acreditar que ela seria minha? Que um dia todos saberiam de nosso amor e não nos apedrejariam. Como fui tola de pensar que ela, a princesa Olívia, a mais cobiçada de Nacérida, iria deixar de viver entre os nobres por mim.

Entretanto, em meio ao meu sofrimento, estava feliz por ela. Sabia o trágico destino que mulheres como nós tinham quando descobertas em nosso reino. São açoitadas em praça pública sem qualquer misericórdia e logo são decapitadas. De forma alguma quero esse destino a ela, por tanto, só me resta aceitar sua partida.

O futuro casamento real era o assunto mais falado de todo reino, afinal  a única herdeira do trono iria se casar, com isso todos estavam eufóricos, enquanto eu fazia de tudo para evitar a princesa e apagar de minha mente tudo o que vivemos, mas quanto mais eu tentava, mais vivo ficava.

Quase todas as noites, ao me deitar para dormir, me lembrava de tudo o que fizemos, de cada risada que soltamos, de cada vez que seu corpo se moldou ao meu enquanto fazíamos amor em seus aposentos, de cada beijo e cada olhar de desejo trocado. 

Já estava deitada em minha cama, quando vi a porta do meu quarto ser aberta lentamente e a claridade de uma vela iluminar o mesmo. Sabia quem era, só podia ser ela, a minha princesa.

-Desejas algo, princesa?-Perguntei tentando ser o mais cordial possível, querendo não demonstrar nenhum sentimento por ela, enquanto me sentava.

-Sim.-Falou adentrando no mesmo e fechando a porta.-Desejo saber porque está fugindo de mim. Fiz algo para que me evitasse tanto assim, Rúbia?    

Ela ainda me pergunta? Ou ela não sabe da sua futura realidade, o que seria bem improvável, ou Olívia estava gozando de mim. Apenas respirei fundo e a olhei.

-Creio que vossa alteza esteja se confundindo, não tenho razão alguma para fugir.-Ao ver a forma neutra que lhe falava, ela se aproximou lentamente de mim.

-Vossa alteza?-Perguntou de forma retórica, enquanto em sua feição se formava um bico confuso.

Assenti.-É assim que me referirei a senhora de agora em diante, afinal somos princesa e criada, apenas isso.-Respondi tentando soar o mais firme que conseguia.-E peço gentilmente que Vossa alteza deixe meus aposentos, creio que vosso noivo não ficará contente de saber que esteve no quarto de uma criada tarde da noite.

A boca de Olívia se abriu um pouco, ela finalmente havia entendido a razão da forma que estava a tratando.-Rúbia, deixe-me explicar…-Tentou argumentar e eu a cortei.

-Não me deves explicação alguma senhora, sou apenas sua criada e estou aqui para servi-lá.

-Sabes que jamais fora apenas uma empregada para mim, eu te…-Antes que terminasse a frase, me levantei.

 -Não! Não pode proferir a mim essas palavras, quando na verdade estás compromissada com outra pessoa!-Falei  perto de seu rosto, tentando não explodir.-Não sabes como me senti ao saber que iria se casar, que iria embora, que você nem me preparou para isso.

-E achas que eu queria isso, Rúbia? Achas que eu queria me casar com outra pessoa que não fosse você?-Perguntou enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas.-Rúbia.-Ela colocou a vela na mesinha perto da cama e pegou em meu rosto, deixando suas lágrimas escorrerem.-É você quem eu amo e sempre irei amar, ele não será nada para mim, nada além de um acordo entre reinos.

Olhei em seus olhos, olhos quais que me encantaram desde o primeiro dia que os mirei, olhos castanhos que agora estavam inundados e vermelhos. Levei minhas mãos às suas e lentamente as tirei de mim.-Mas será ele que passará a vida inteira ao seu lado, será com ele que terá uma família. Não comigo.

Lágrimas que eu nem sabia estar prendendo, começaram a descer por meu rosto, enquanto apenas nos olhávamos intensamente. Ela balançava a cabeça em negação, não queria aceitar que aquele era nosso fim.

-Por favor, vá embora do meu quarto.-Pedi mais uma vez, implorando para que ela aceitasse meu pedido.

A princesa apenas suspirou e assentiu derrotada, pegando a vela e indo na direção da porta, parando na mesma.

-Você é o amor da minha vida, Rúbia e para sempre irei amar você.-Dito isso, ela saiu fechando a porta, enquanto eu desabava ao chão chorando copsiosamente 

Nossa história havia chego ao fim

A Última DançaOnde histórias criam vida. Descubra agora