Parte 03 - A Carta

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─ Ah, então é aqui que você está! – Lucas aparece correndo na minha direção.

─ Oh, oi – respondo, sem saber o que fazer.

Ele me dá um abraço por trás e um beijo no meu pescoço.

E eu consigo a proeza de não sentir nada.

E isso, pode acreditar, é uma coisa totalmente esquisita.

─ Hey, oi – ele diz pra Jopa. – Quem é você?

─ João Paulo, prazer – ele diz, num sorriso estranho. – Acabei de voltar da Holanda, sabe como é, eu e Sara éramos vizinhos antes da minha mudança.

─ Ah, tá, oi – meu namorado diz, totalmente displicente. – Sou Lucas, namorado dela.

Eu não sei qual de nós dois fez a cara pior. Se eu, ou Jopa.

─ Eu tenho certeza que já te falei sobre Jopa, Lucas. Várias vezes, por sinal – eu tento amenizar a situação, mas na realidade querendo, sei lá...

Fugir para as montanhas!

─ Não me lembro – Lucas responde, finalmente parando de me abraçar.

─ Também não me lembro de você ter mencionado um namorado nas novidades, Sara – Jopa espeta também.

─ Ah, ela deve ter se esquecido – Lucas palpita. – Ela é meio desligada, mas nós dois já estamos juntos há cinco meses.

─ Quatro, na verdade – replico.

─ Quatro meses, caramba – Jopa diz. – Me chamem para ser o padrinho.

Lucas passa o braço por cima de meus ombros, dando um sorriso estranho quando diz:

─ Ah sim, vamos lembrar disso, não é mesmo Sarinha?

Só que eu não consigo responder nada, imaginando como vou fazer minha retirada estratégica para as montanhas.

─ Bom, tem umas pessoas que eu ainda preciso cumprimentar – Jopa diz, dando de ombros. – Vejo vocês dois por aí.

─ Até – Lucas diz, rapidamente, quase que dizendo: “vai logo”.

Eu apenas aceno, sem a menor idéia do que dizer.

Quando JP já está a uma distancia considerável, incapaz de ouvir nossa conversa, Lucas vira de frente pra mim e me encara, meio raivoso.

─ Não entendi qual foi a dessa conversinha – ele diz. – “Quatro, na verdade”.

E ele faz uma vozinha realmente enjoada numa tentativa de imitar a minha.

─ Ele era meu melhor amigo, Lucas! – praticamente grito. – Não posso ter uma conversa com um garoto, meu antigo melhor amigo, que eu não vejo há cinco anos?

─ Você sabe que eu não costumo reclamar sem motivo, Sara. Eu não reclamaria se eu não tivesse sentido alguma coisa diferente – ele explica. – Se a tensão romântica entre vocês dois não desse para, sei lá, cortar com uma tesoura.

Provavelmente eu deveria ter me defendido. Mas não tinha como. Lucas estava certo, eu estava errada.

─ Feliz Páscoa, Sara – ele me entrega o meu Kinder Ovo Maxi. – Quando você tiver pensado em alguma desculpa boa o suficiente para me dar e me enganar, pode me procurar lá na mesa.

E ele vai embora, pisando firme no chão, morto de raiva, como eu sei bem.

Bom, não dá pra culpá-lo. Eu provavelmente daria um show muito pior se fosse ele.

Reencontros, trufas e anjosOnde histórias criam vida. Descubra agora