1 - Um Halls resolve muita coisa

10 0 0
                                    

Eu já estava cansada de beber tanta cerveja sem álcool, que resolvi dar uma volta na pista de dança. O barman ficou olhando para mim como uma cara de poucos amigos, e fez um sinal de "anotando em um papel".

— A conta, moça.

Enfiei a mão dentro da minha calça e tirei vinte dólares. Não entendi o porque dele usar um gorro de natal, mas entreguei o dinheiro e segui para o centro da festa.

Te contar, americano parece que não sabe dançar. Uns ficam se balançando igual uma minhoca, os caras mais sarados se esfregando nas meninas, e teve um que tirou a camisa e fez um poste de sustentação de pole dance. Absurdo.

Mas no meio de toda essa gentalha tinha alguém me fisgou meu olhar. Ele era preto, magro, cabelo cacheado, e usava uma camiseta preta básica junto com uma calça jeans branca. Ele percebeu que eu estava o encarando e encarou de volta. Virei o rosto no mesmo instante, e visualizei uma moça dançando Macarena completamente bêbada. Normal. Ao virar de volta para o menino, percebi que ele tinha sumido.

— Oi — surgiu uma voz no meu ouvido.

— Que isso?! — exclamei bem alto. O garoto tinha se teletransportado para trás de mim. — Tá querendo me matar é?

— Imagina — ele falou enquanto me fitava. Tinha olhos marrons chocolate, e usava um colar com uma cruz de prata pequena. — Só quis testar seu coração.

Eu ri. Sei, ele foi muito pastelão com essa de "testar meu coração", mas eu estava carente, me libera dessa.

— E como ele tá, Ying Yang? — disse com audácia, enquanto encarava a calça dele.

— Aceleradíssimo — inventou ele, mordendo o lábio inferior.

Foi então que ele se aproximou, colocando a mão na minha cintura. Ele tinha uma pegada forte, mãos não muito carnudas, e que milagrosamente não me puxaram para mais perto dele. Senti meu coração realmente acelerar, era meu primeiro beijo depois de terminar com aquele cafajeste do Nich, e estava pronta para aproveitar o máximo que pudesse.

Antes de ele investir de uma vez por todas, coloquei meu dedo indicador nos lábios deles e perguntei:

— Nome, por favor. 

— É sério mesmo? — ele revirou os olhos.

— Vai que você me rouba e eu tenho que contar pra polícia quem foi!?

— Que isso preta, não vou te roubar nada não. Só uma coisa, na verdade.

A minha vontade ali era de vomitar, depois de ouvir tantas frases prontas de sites como cantadasperfeitas.com. Mas ele era bonito, então seguirei o suco gástrico.

— Só um nome, Ying Yang — falei pra ele, mordendo meu lábio inferior, numa tentativa frustrada de parecer sexy.

— Tomás — ele falou, como se tivesse vergonha do próprio nome.

— Claire, muito prazer — retornando a mensagem.

— Claire, de Clarisse? 

— Não, Claire de Clarinete, idiota — falei, com uma raiva encenada.

Tomás segurou minha cintura com um pouco mais de força, e se aproximou. Aqueles olhos cor-de-chocolate, o nariz perfeitinho, a boca suave e brilhante (me indaguei depois se ele havia passado algum tipo de lip balm), estava tudo tão perfeito.

Foi então que eu comecei a achar que estava em um lixão, com dez urubus mortos, além de um cheiro de óleo de peroba estragado.

Quando estávamos prestes a encostar nossos lábios, eu regurgitei na hora.

— Sangue de Cristo tem poder! — gritei a frase que minha avó fala quando se assunta.

— O que foi menina? — pelo visto ele também se assustou, só que com o meu grito.

— O que foi não, o que MORREU aí dentro. Minha nossa — falei, e logo sentei no chão da festa.

O coitado ainda não tinha desistido, e com uma cara de choro, se abaixou perto de mim.

— Você... 

Coloquei meu dedo na boca dele na hora, e fiquei com um olhar de nem pense em fazer isso. Enfiei a mão dentro da calça, e depois de alguns dólares, tirei um pacote de Halls que comprei na fila da festa.

— Faça bom uso — disse enquanto entregava o Halls na mão dele. Pior que a mão do coitado era macia, que fiquei um tempo tocando nela.

— Foi mal aí — falou Tomás. — A gente se vê.

Só se for nos portões do inferno, falei mentalmente. Me levantei, e resolvi que a festa não estava dando muito certo.

Tirei meu celular da cintura. Deus, como minha tela inicial era desorganizada. Demorei dois minutos para encontrar o aplicativo de mensagens, e quando consegui, mandei um oi para minha amiga.

"Onde que vc tá sua maluca?"   Linda BFF


"Na festa de um bar que eu encontrei, meio enjoada"   Claire


"Quer que eu vá te buscar?"   Linda BFF


"Por favor"  Claire

Depois de alguns segundos, ela envia.


"Tomou a dose de hj?"  Linda BFF


"Tomei, mas n foi isso n"   Claire


"Tem certeza?"   Linda BFF


"Tenho, quando c chegar eu te conto"   Claire


"Ok"   Linda BFF


Claire só tem medo de borboletaOnde histórias criam vida. Descubra agora