Natal Nordestino

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Querendo fazer as entregas mais cedo naquele ano, o papai Noel saiu da gelada terra do Polo Norte junto com seus dois ajudantes rumo ao mundo, ansioso para deixar as crianças felizes novamente em mais um natal. O bom velhinho viajava tranquilamente em seu trenó escarlate e dourado, sentindo o vento tocar seu rosto coberto por sua barba branca quando viu uma estrela cadente ir na direção nordeste do caminho que seguia. Rapidamente ele pegou o seu mapa para conferir algo. 

— Sinto que algo me chama para ir naquela direção. Quem mora lá, Panetone ? — perguntou o papai Noel. 

— Ninguém, nunca recebemos nenhum pedido vindo daquela região — respondeu o duende ajudante. 

— Estranho... E você, Geleia ? Sabe de algo ? — questionou o papai Noel .

— Eu não sei não, senhor —respondeu o segundo ajudante. 

De início o bom velhinho achou que ver a estrela cadente poderia ser coincidência mas algo no seu coração o pedia para ir na direção nordeste e assim ele fez pois estava com tempo para algumas distrações. No fim de dez minutos os viajantes do Polo Norte viram algo iluminado no meio da escuridão e decidiram parar. Jogando um pó vermelho sob o trenó e as renas que se transformaram imediatamente em uma carroça desgastada e em pequenos cavalos, o papai Noel disfarçou seu transporte e ficou observando o lugar em que tinha aterrissado, vendo como ele era diferente de sua terra natal. Ao reparar que a luz vinha de uma casa, o coração de Noel acelerou e o líder dos duendes percebeu que deveria ir lá, o que desagradou seus funcionários que queriam continuar a viagem como faziam todos os anos. 

— Mas papai Noel, as crianças estão esperando seus presentes — disse Panetone.

— Nós temos tempo — respondeu Noel.

— É perigoso, podem ser bandidos. E se fizerem mau ao senhor ? Vamos com você, papai Noel — falou Geleia assustado. 

— Tenham calma, ninguém faria mau a um velhinho viajante, além do mais, se tiver algum problema é só usar a magia do natal, ho ho ho — respondeu o papai Noel rindo. 

Geleia e Panetone iam insistir para que seu chef não seguisse em frente com aquela ideia mas quando se deram conta o papai Noel estava com roupas verdes rasgadas e uma bengala de madeira indo na direção da casa. Enquanto seguia em frente, o papai Noel foi vendo o ponto brilhoso se revelar uma casa de barro pequena com um cavalo já velho preso em um cercado de arames. Ao chegar na frente da casa encontrou um menino de cabelos cacheados ajoelhado no chão de terra seca chorando e quando este percebeu a presença do senhor estranho, correu rapidamente para dentro de seu lar com algo na mão e se trancou lá.

— Não precisa se esconder, sou apenas um velho precisando de ajuda — falou o chef de Panetone com sua voz rouca. 

— O que o senhor quer ? — respondeu do outro lado da porta. 

— Apenas um pouco de comida e um tempo para eu seguir viagem — disse o visitante.

Ouvindo o som dos grilos, o senhor bondoso observava a luz das velas que vinham de dentro da casa e perguntava a si mesmo como elas pareciam ser mais fortes de longe e agora mostravam-se menos luminosas, como era de se esperar, mas sua reflexão acabou quando a porta da casa se abriu e viu o menino sair dela com um prato em uma mão e uma vela na outra. A criança que tinha sete anos  após entregar o prato com um pouco de farinha ao visitante, voltou rapidamente para dentro de casa mais duas vezes para pegar uma cadeira e um copo com água e uma vela colada em uma xícara, para iluminar eles. 

— Como você se chama, rapaz ?

— João, e o senhor ? Vai para onde sozinho ? Por aqui não tem nada...

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