Renato
Eu não gostava de bonecas. Elas eram assustadoras com seus olhos estáticos e uma expressão amigável que, com a iluminação correta, pareciam estar sugando a minha alma. Talvez fosse porque a menininha sentada na cadeira presidencial penteava o cabelo de uma daquelas de porcelana, com aparência antiga.
Sinceramente, com o idoso em pé parado atrás dela, a mão apoiada no encosto da cadeira, me senti em uma versão paralela do Poderoso Chefão, até fiquei compelido a permanecer em pé e beijar a mão da garotinha em respeito.
— Cadê a resposta, vovô? — Sophia perguntou.
Eles me trouxeram para o escritório de Julian para ser interrogado e era tão surreal que eu estava questionando o que mais havia no uísque que bebi.
— Antes da gente te ajudar, precisamos da verdade, rapaz — Heitor avisou em um tom de alerta, intensificado pelo estreitar de olhos da menina.
Segurei a vontade de rir, pois eles soavam sérios e a situação era preocupante mesmo. Além do meu pai, era provável que a inusitada dupla fosse os únicos aliados que teria ali.
— A verdade é algo que ainda tento entender...
Eu me mudei para o outro lado do país cinco anos atrás, quando mamãe recebera uma imperdível oportunidade de emprego. Apesar da minha vida estar aqui — namorada, amigos e pai —, eu era o único que ela tinha e não podia abandoná-la depois que seu segundo casamento tinha chegado a um abrupto fim.
Por um ano, o relacionamento à distância funcionou bem, eu vinha para casa sempre que podia, uma vez que minha mãe não gostava de Beatriz e seria uma visita muito estranha se ela fosse passar as férias conosco.
Mamãe ficou mais estável na nova vida e até começara a namorar, então pensei em voltar a morar com o meu pai. Era o primeiro aniversário dele que eu passava longe e todos estavam reunidos em sua casa, em um churrasco, queria estar lá e informei isso à mãe. Foi o primeiro passo para o inferno, ela ficou transtornada com a ideia de ser "abandonada" por mim e, sem que Bia tivesse culpa alguma, descontei o estresse nela.
Eu não lembrava do motivo da nossa primeira briga — era algo irrelevante que teria sido resolvido com uma conversa em outra situação —, mas que escalonou em proporções épicas. Falei coisas que não deveria, ela respondeu à altura e discutimos. "Vamos dar um tempo", um de nós disse e o outro concordou, apesar de não ser o que realmente queríamos...
Contei a Heitor e a Sofia cada detalhe sobre aquela fatídica noite, a que levou ao fim de um relacionamento que jamais deveria ter acabado. Até hoje me recriminava por não ter sido mais maduro na época, ter parado para respirar fundo e lidar com as coisas da forma correta. Em um momento eu tinha tudo e em poucas horas me vi sem nada. Engoli em seco, dispersando os pensamentos sobre aquela noite.
Se pudesse voltar atrás, nunca teria entrado no carro de Valentina, nem era minha amiga, nem se importava comigo ou eu com ela. Apesar do que Beatriz acredita, nunca a traí.
— Enfim, nós discutimos por telefone, ela não quis ouvir o que eu tinha a falar e a partir daí todas as nossas interações foram de duas formas: tratamento frio com uma boa dose de desprezo ou gritaria.
Ambas as alternativas eram ruins, mas a frieza de Beatriz quando ela decidia apenas me ignorar se mostrou muito pior. Porque durante a briga ela ao menos demonstrava sentir alguma coisa... qualquer coisa era melhor do que o silêncio.
— Eu lembro dessa conversa — o senhor Heitor falou. A discussão ocorrera quando ela estava na festa do meu pai, com os convidados testemunhando apenas um lado dos fatos. — Todos ouviram os seus protestos e os gritos de Beatriz, que te chamou V-A-G-A-B-U-N-D-O e E-S-C-R-O-T-O — soletrou os nomes para que Sofia não o repetisse e, mesmo assim, não disse os xingamentos mais pesados.
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O CEO apaixonado e a virgem que não quer amar (AMOSTRA)
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