Parte II - Luzes Alabastrinas

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— Para onde estamos indo?

Jasper havia pegado sua mão e a guiado por entre a multidão que começava a se reunir em peso na avenida principal da cidade. O cheiro de comida das barraquinhas fazia Nicki querer soltar a mão dele e comer como se não houvesse amanhã.

— Quero te mostrar uma coisa e te ensinar outra.

Mas fosse o que fosse, Jasper tinha um motivo para tal. Eles desviaram da multidão e passaram por entre duas barracas, parando diante do que parecia uma pequena torre de guarda. As lajotas, que antes eram alaranjadas, levaram anos de banho de lodo incrustado, gerando uma camada escura. O portão de grade estava aberto e Jasper a guiou para dentro. O interior estava iluminado por tochas na escada em caracol.

Ao final da segunda volta em círculo, os dois estavam no topo da pequena torre, que mais parecia um coreto alto. Era redondo, com cobertura de telhas. Pisca-piscas caíam das vigas de madeira. Lindas luzes brancas, como uma cascata. O céu estrelado estava lá também, tanto quanto poderia em um dia como aquele. As estrelas tomavam mais cor e da sacada, conseguiam ver a festa abaixo.

Todos haviam ficado em silêncio e todas as luzes haviam se apagado.

— O que vão fazer? — indagou ela, segurando na grade de ferro fria.

— Eles vão acender as luzes alabastrinas — explicou ele, chegando por trás dela, como se estivesse contando um segredo. Nicki sentiu a boca ficar seca e tentou não soar nervosa pela proximidade.

Mas Jasper era sagaz e logo se afastou, postando-se ao lado, como um devido cavalheiro.

— Alabastrinas tipo...— seu tom saiu baixo e indagatório.

E lá embaixo, as luzes brancas como as nuvens em um dia de sol, se acenderam. Eram lindíssimas e iluminaram toda a extensão da festa.

— Tipo muito brancas — ele fez um sinal para a festa, um lindo sorriso tomando seu rosto.

Nicki ainda se assustava pelas belezas e culturas diversas de Galapsos. Talvez jamais deixasse de ficar estupefata com tudo aquilo. Era perfeito, em suas pequenas maneiras. Ela olhou de soslaio para Jasper, as luzes brancas refletindo em sua pele.

— Era o que queria me mostrar? — perguntou, ignorando as borboletas que reviravam seu estômago.

Jasper assentiu, tirando sua mão da grade e a unindo à dele.

— O que está fazendo? — Ela quase gaguejou quando a mão livre dele contornou sua cintura.

Pela Chama, era como voltar para o último beijo deles naquele elevador do Norte...

Engolindo devagar, a jovem ergueu uma sobrancelha para ele.

— Imagino que não ensinem dança de Galapsos na Terra — ele começou, rodando ela para o centro da varanda e se afastando subitamente. — Vou te ensinar dança de roda. Começamos em pares. — Ele foi dando as instruções e Nicki começou a repetir seus passos. — Prepare-se.

Envolvia pulos e movimentos animados com os pés, dos quais Jasper tinha muito jeito. Eles gargalhavam enquanto ele tentava ensinar a Nicki a ter jeito com o movimento dos pés. Era realmente bem distinta das danças da Terra, embora lembrasse as medievais.

Então finalmente se tocaram, e a dança, embora sem música, continuou. Jasper a rodopiava enquanto ambos riam sem parar. A lateral do corpo de Nicki doeu com os movimentos, mas ela ignorou.

Estar com ele ali fazia com que tudo ficasse mais fácil e, por um momento, a jovem quase se esqueceu dos problemas, da profecia, de Oziah.

Conforme desaceleravam, Jasper aumentou o aperto suave em torno dela, fazendo com que ficassem mais perto. Como ele era lindo. Olhar para seus olhos era como ver o mar azul ao longe, mesmo que a cor estivesse sendo suprimida pelas pupilas dilatadas. Havia tanta intensidade em seus olhos que Nicki não sentiu vontade de se afastar.

Um Conto Guardião: Luzes AlabastrinasOnde histórias criam vida. Descubra agora