Capítulo 3

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Apenas seis dias para o halloween.

"Consegue sentir o cheiro deles, não é?! Estão aos montes te cercando, Bellator."

Sorvi mais um gole do meu café amargo e olhei ao redor. Eram todos da família de Josh, e eu me perguntava como um homem tão maravilhoso como ele, saiu de um ninho tão ruim. Apenas seu pai escapava, eu torcia silenciosamente para que fossem embora antes das festas de halloween.

— Josh, venha cá primo, apresente sua esposa para nós. Quase não pudemos conversar na festa do casamento. — A voz arrastada e cheia de malícia vinha do seu primo mais velho. Um homem de porte grande tanto para cima, como para os lados. Sua aparência não era desagradável, mas o seu olhar sim. Ele me comia com os olhos e pouco parecia se importar com o sobrinho. Josh me puxou para perto, circulando minha cintura com o braço de maneira possessiva.

— Richard, não aja como se ela não estivesse aqui! — advertiu o primo em tom brincalhão, embora carregasse a bronca nos orbes castanhos.

O resto do dia se passou com Richard tentando me rebaixar a depósito de espermas, enquanto Josh contornava a situação. Pude ver nos olhos da esposa daquele homem ridículo, o quanto não sentiria um pingo de falta da sua presença. Ainda que os filhos admirassem ao pai. Eram crianças ingênuas que viam a imagem dele como a de um herói, a mãe jamais estragaria a magia da infância para mostra-los o quanto deveriam ser diferentes daquele saco de estrume. O problema nunca era a aparência, até porque, do outro lado da grande mesa de jantar, rindo e me olhando com desejo contido, estava o irmão de Richard, o filho do meio. Este era musculoso, com cabelos sedosos e bem cuidados, tinha a fala mansa e tranquila, mas carregava a maldade nos olhos e sorrisos. Will era o tipo que eu mais odiava, ainda mais do que Richard. Ele escondia a essência dele, se fingia de ovelha enquanto alimentava os pensamentos sujos de seu lobo. Não tinha olhos apenas para mim, seus alvos se alteravam conforme a facilidade de aproximação. Ele não era casado ainda, sua noiva não pôde vir porque caiu da escada da casa dela e se machucou toda.

A bile subiu por minha garganta, pronta para vomitar nos pés daquele asqueroso. Eu soube tudo que ele fazia com a pobre mulher que lhe foi designada. A desculpa era velha e ele sequer teve o trabalho de elaborar ou melhorar suas falas.

Assim como eu, ela não teve escolha sobre o casamento, entretanto, não teve a mesma sorte e acabou nas mãos de um idiota. Will era o único entre todos aqueles homens ruins, que eu teria todo o prazer em ver sangrar.

"Isso, sinta. Ele ficará por último, para ser feito sem pressa."

Sacudi a cabeça e mudei a direção do meu olhar. Josh continuou ao meu lado, quase como se temesse me deixar sozinha, foi assim que constatei que ele sabia o caráter dos seus primos, tios e até alguns "amigos" da família. Observei a forma como ele parecia conhecer o grau de perigo de cada um. Afastando-me em determinados momentos e cortando conversas longas para não me dar razão de seguir por outro caminho.

O que isso dizia sobre ele? Saber e mesmo assim fingir não ver?!

"Se preocupe com as pragas mais danosas. Brigue com seu marido depois."

Bufei mentalmente e ouvi a risada escandalosa do hospedeiro em minha cabeça. Às vezes me esquecia o quanto ele poderia ser irritante.

Ao final do dia, meu marido se encarregou de colocar todos para fora. Não deixei de notar que ninguém teve sua estadia em nossa casa, mesmo que houvesse quartos de hospedes.

A pergunta pairava sobre minha cabeça. Embora tivéssemos conversado pouco, eu o considerava acessível. Seu olhar não era desconfiado, suas falas poucas vezes foram contidas e a sinceridade parecia fruto do seu caráter. Porém, a forma como agiu entre os seus me preocupou. Josh demonstrou uma certa habilidade em dissimular, manipular e se omitir. A caçadora dentro de mim, pedia por explicações. A mulher cautelosa, por outro lado, alertava para o perigo de me expor. Ele poderia ser compreensivo, um bom amante, mas ainda era um homem criado em uma sociedade que valida seu poder e diminui minha existência.

O hospedeiro de Anne (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora