capítulo único

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AVISOS: no passado – um relacionamento abusivo (que não é drarry) entre um adolescente e um adulto (que conhecia dito adolescente desde que ele era bem criança), e dito adolescente se culpando por "ter deixado acontecer", abuso de substâncias, e abuso infantil. agora, no presente – sobrevivendo e falando sobre esses assuntos, depressão e TEPT e outras coisas envolvendo saúde mental. eu acho que é só. essa história vai parecer bem triste e pessimista em certos pontos , pq o Draco tá assim, mas eu prometo que o final é feliz e que eu tentei dar um senso de esperança para ela, não de completa tristeza. tbm aviso que isso é uma versão revisada e editada de uma one-shot que eu postei um tempo atrás na minha coletânea, então se for familiar é por isso.








As paredes do novo apartamento dele eram tão finas quanto papel.

Draco nunca tinha morado em um lugar como aquele, muito acostumado com mansões do tamanho de castelos, com arquiteturas clássicas e de trazer lágrimas nos olhos em sua beleza e complexidade, com vasos e pinturas milenares que se fossem todos vendidos provavelmente poderiam acabar com a fome no mundo. Mesmo em seus piores momentos, quando ele mais sofreu e mais foi machucado, os seus arredores sempre foram daquele jeito; perfeitos, gritando riqueza e dinheiro de sobra.

Essa casa era–

Era uma nova experiência, sem sombras de dúvidas.

Era tão pequeno, para começo de conversa. A mulher que o mostrou para Draco disse que era o maior em todo o prédio, mas só o jardim da Mansão Malfoy deveria ter dez vezes o tamanho do lugar. Draco achava que isso iria ser ruim, iria o fazer se sentir como se estivesse sufocando e as paredes estivessem se fechando em cima dele, mas ao invés de sofrer ataques de claustrofobia, Draco sentia um tipo muito estranho de calma.

Um senso de segurança, quase.

Ele podia sempre ver todas as saídas. Ele podia sempre ver todo o apartamento, praticamente, e saber que estava realmente sozinho. Não só isso, mas era tão diferente de todos os outros lugares em que ele tinha morado que, mesmo que fosse objetivamente muito pior, nada ali o lembrava daquelas outras casas que ele teve, e isso o tornava melhor.

Se não objetivamente melhor, então era ao menos melhor na prática, para a saúde mental de Draco.

Quando ele estava com os Zabini, sempre que ele acordava dos seus pesadelos deitado em um colchão king size olhando para um teto de mármore elevado, ele tinha um ataque de pânico, não conseguindo diferenciar o passado do presente e não se lembrando na cama de quem estava. As diferenças ficavam nubladas – a falta da nudez completa, falta daqueles hematomas que costumavam ser constantes e da dor em meio as pernas dele, tudo parecia muito distante enquanto as semelhanças entre as duas casas pareciam tomar uma forma física, duas mãos reais e fortes se fechando no pescoço dele até ele estar sufocando e choramingando no colchão.

Aqui era tão mais fácil. Draco abria os olhos e via a mancha estranha e com um odor misterioso no teto do quarto e pensava, ah, eu estou nesse lixão. eu estou livre.

Ele não contou isso para Blaise ou para Colette, obviamente.

Draco tinha o hábito de, de vez em quando, ser muito grosso sem nem perceber e sem se importar com o sentimento dos outros. Era algo que ele discutia com a terapeuta dele. Mas, depois de tudo que eles fizeram por Draco, ele não conseguia agir como se os Zabini não tivessem sido perfeitos e as pessoas mais maravilhosas e compreensivas do mundo, que só mereciam vários obrigados e qualquer outra coisa que pedissem. Dizer que na verdade ficar no lar deles era pior para recuperação de Draco teria sido, no mínimo, desnecessário.

the gentleness that comes,  DRARRY ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora