A batalhadora

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Fantina olhava a opositora nos olhos. O seu vestido púrpura icónico caía aos folhos, justo na cintura, uma vasta redoma até aos pés.

Fantina já não era nova, aliás, nenhuma das duas era, no entanto, ainda possuía a silhueta e posava com imponência com o seu penteado inusitado como se de alguma forma tal servisse de intimidação á campeã. Esta limitava-se a observar, contida. Aquela sua expressão ilegível. O fato negro. O tacão grosso e firme, imóvel. Era ela ainda a detentora da coroa. Era ela que segurava o posto á já 10 anos consecutivos. Não precisava de se exibir e nem de provar-se de outra forma que não no recinto de combate. E era precisamente o que iria fazer. Mais uma vez, batalharia. Como o monstro que era compactado no corpo de um velho sábio experiente. Sacou da sua pokébola. Cynthia estava pronta.

Súbitamente, o árbitro ergueu as bandeiras, explicou as regras e, depois, num apito estridente, deu início ao duelo.

Dois pokémons materializaram-se de cada lado do campo, emergindo com ferocidade e vigor do seu flash de luz prateada. Junto a campeã, o ás, a fera, o destruidor de sonhos de já incontáveis desafiantes. Aquele que nunca tinham deitado abaixo, aquele nunca haviam superado, aquele permanecia incontestado... o Garchomp de Cynthia. E, desta vez, o seu olhar focado convergia para um Gengar, sinistro, ignóbil, de sorriso ascendente, um fantasma negro flutuando a meros centímetros do chão. Conseguiria com ele a líder de ginásio fazer história?

_ Gengar, bola sombra! _ encetou com confiança.

_ Garchomp, garra dragão!

...

_Esquiva-te!

_Persegue-o!

E a dança continuou.

Da plateia, por entre milhares de mirones presentes ali naquele dia no grande estádio Gyrados de Jubilife, dois jovens observavam vidrados. Max, o irmão mais novo estava particularmente obcecado. Cada movimento, cada ataque, cada esquiva, cada brado. Tudo se articulava no seguir daquela valsa magnética e arrebatadora. Não podia desviar o olhar. Não se podia permitir perder nada. Tentava racionalizar o que via, seguir tudo e não conseguia deixar de se surpreender. Uma nova reviravolta, um novo trunfo jogado, calculado e inteligente, a manobra ousada, o embate de espíritos. Tudo o transcendia. Tudo passava diante dos seus olhos em desfile e lhe perpassava o coração bombante. Um dia... U-um diiaa.... Seria ele que estaria ali em baixo no recinto, a tentar a sua sorte contra a campeã. E nesse dia... Nesse dia trunfaria. Sim. Triunfaria.

_ Max, tens estado muito calado. Está tudo bem? _ soou a voz do irmão mais velho Giordan. Tinha 19 anos e, ao contrário de Max era já um treinador Pokémon medalhado. _ Ei! Estás a ouvir-me?

_ S-sim. Só acho simplesmente impressionante a forma como tudo flui. _ retorquiu ainda com o olhar e atenção sequestrados pela batalha que ressoava em baques de golpes e explosões violentas. _ É como se cada uma estivesse a antecipar-se constantemente em relação á outra. Como se estivessem a ler as mentes uma da outra. Como se... _ calou-se.

_ De facto. Consigo compreender porque pensarias isso. As batalhas no circuito profissional podem ser bem intensas.

_ Talvez, mas também nunca passaste do rank B, por isso como é que sabes? _ rematou Max com indelicadeza

O irmão mais velho exalou um suspiro.

_ Sabes Max, quando iniciares o teu caminho enquanto treinador vais aprender muitas coisas. Ás vezes, a força e o rank não são o mais importante para a tua realização enquanto treinador, nem definem o teu valor.

_ Pois, pois...

Um novo suspiro foi inevitável. Giordan observou o irmão com complacência. "Novamente absorto na troca de golpes entre o Garchomp e o Gengar. Se lhe dissesse alguma coisa provavelmente nem escutaria a este ponto". Contudo, o seu fascínio não podia ser censurado. Na idade dele, á três anos, antes de iniciar a sua jornada, estaria ali a assistir da mesma forma, reagiria com igual assombro ás bolas sombras e giga impactos e pensaria o mesmo que o irmão acerca da força, do título e da fama, porém agora já não era o mesmo. Estava diferente, para melhor ou pior era discutível. Talvez mais maduro, talvez mais frouxo. O que importava era que já não o mesmo. O tempo, as viagens e as histórias haviam-no moldado.

Pokemon, uma Sinoh desencantadaOnde histórias criam vida. Descubra agora