Noite

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Era uma cabine modesta em tamanho. Três metros de largura, três de comprimento, o que lhe fora disponibilizado ali no estádio Gyrados. Um ultraje para alguém da sua classe e nível de requinte, para o que estava acostumada, ultraje esse, contudo que tivera de aceitar de boca amarga. Mas Fantina vingara-se de uma forma que só ela poderia ter congeminado. O que lhe tiraram em opulência, fez ela compensar em caráter, em grandiosidade e saturação, tornando-a tão peculiar, tão única que todos nos bastidores que por ali entrassem saberiam na ora que era ela a dona do faustoso pequeno ninho. Que era seu e que, portanto, a mais um passo sem autorização estariam de imediato amaldiçoados para sempre. Não poupara esforços.

Á sua volta, tapeçarias de plumas roxas corriam por todas as paredes, entristecendo o amarelo da lâmpada no teto, tornando-a baça até, mas por outro lado indulgente para com os seus amigos secretos; um guarda roupa de mogno antigo abria a porta e descortinava a visão de variados vestidos de baile,  outro ao lado, mostrava  indumentária mista; duas ou três prateleiras erguiam-se pejadas de acessórios que eram na verdade armas secretas para todas as ocasiões - desde tiaras a fitas farfalhudas que só lembrava as da árvore de natal, passando pelos imprescindíveis laços com que frequentemente armava o cabelo ou punha á cintura.

 Por fim, a um lado, achava-se o toucador comprido a exibir sobre o tampo a mais extensa coleção de perfumes, rímel, batom, base e outras maquilhagens e pozinhos que só ela saberia como usar e apreciar.

A líder de ginásio estava agora sentada em frente ao espelho, olhando-se grave no seu reflexo, como se a outra do outro lado a estivesse a enfrentar . Subitamente, para lá da face ebúrnea, dos lábios rosados, dos olhos coloridos, dos brincos a condizer com as luvas, das luvas subidas a condizer com o colar e os sapatos, do vestido extenso e rodopiante, o penteado singular, algo faltava. Algo não a agradava. Algo a fazia sentir velha, acabada e um tudo-nada irritada.

Knock Knock. Alguém bateu á porta do camarim.

A mulher olhou o seu reflexo durante mais uns segundos como que esperançosa que este pudesse rachar por força da sua vontade, mas não aconteceu. Os seus fantasmas não atenderiam a pedidos tolos como esse, sabendo que eram no fundo apenas desejos temporários. Sim. Para lá daquela superfície mágica refletora, continuava a mesma. Imperfeita e fracassada, mas a mesma. A mesma Fantina desastrada da infância, vivaz da juventude, inteligente e ardilosa na maturidade.  Todas elas numa só. Numa só imagem que a lembrava no fundo, mesmo que só de vez em quando, em certos ãngulos, a adorada e falecida mãe. Isso reconfortava-a.

 Desistiu. Desleixou a postura, tomou uma lufada de ar e em seguida suspirou. Um longo suspiro que levou consigo parte do fardo. Que se havia de fazer? Não chegava mesmo assim nem aos calcanhares daquele um fantasma, mas paciência. Lançou por fim o olhar para a porta que esperava a sua palavra, a fim de ser aberta.

_Pode entrar cherri.

  O loiro entrou em passos largos, mas cautelosos, silencioso que nem um jaguar. Quem não o conhecesse diria que estaria receoso de todo aquele ambiente, de todo aquele espaço, de toda aquela mulher esbelta que o olhava com intensidade, mas não. Fantina conhecia-o de facto muito bem, muito bem para saber que era somente a forma daquele homem se comportar. Era um homem de poucas palavras que guardava a voz rouca e pesada para as desferir somente no último momento, quando mais força assumiam. Mas também tinha as suas fraquezas.

Fantina exibiu-lhe um semi sorriso morno quando chegou á sua beira e depois, voltou novamente a atenção para o espelho, onde um fio de cabelo arroxeado aguardava por ser posto no lugar.

_ Não esperava ver-te tão cedo por aqui.  Não me diga que o menino veio dar os pêsames á derrotada? _ brincou, mascarando a verdade- A derrota para Cynthia afetara-a, mesmo que já o esperasse.  _ Ora, agradeço o gesto, mas não era preciso. Não era necessário ter vindo de tão longe só para isso.

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⏰ Última atualização: Jan 02, 2022 ⏰

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Pokemon, uma Sinoh desencantadaOnde histórias criam vida. Descubra agora