2. O Jogo do Taco

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Era como se tudo naquela sala berrasse para mim dizendo que essa casa não era o meu lugar. As vozes do lado de fora da sala de Isabel e Eva ─ as duas criadas da mansão ─ viram borrões se desfazendo na minha mente conforme eu me perdia nos meus pensamentos. Se passaram duas horas desde que eu havia chegado, e mais uma hora desde que eu havia encontrado essa sala que parecia estar escondida pelo fato de ser uma das últimas e não ter tantas luzes assim por perto.

Eu não sabia se era ou não uma área restrita, mas minha curiosidade e o meu tédio, fizeram com que eu avançasse mais e acabasse entrando dentro dela. Era um aposento não muito grande e sombrio, estava desabitada, entretanto tinha uma pequena estante cheia de livros de cima a baixo no canto da parede, e também era cercada por quatro janelas fechadas e cobertas por cortinas vermelhas com detalhes dourados.

Durante esse tempo, eu também não vi mais o garoto irritante chamado Edmundo, o que para mim me deixava em paz para finalmente ter meu descanso, muito menos Dona Marta. O que eu achei estranho já que ela havia me dito que viria ao meu quarto depois para me entregar algumas coisas que Kirke tinha separado exclusivamente para mim e até então não tinha vindo. Uma hora antes, também havia conhecido Lúcia, a mais nova da família Pevensie quando eu atravessava o corredor.

Diferente do irmão chato, irritante e egocêntrico, Lúcia era doce e muito gentil. Quase tive o cinismo de perguntar se eles eram mesmo irmãos, mas citei o fato dele ser um bobão e ela brincou dizendo: "Ignore-o, ele é o adotado". Mas eles não eram muito diferentes de aparência, Lúcia tinha os olhos castanhos escuros, o nariz perfeitamente idêntico e os cabelos pretos assim como os dele. Eu até diria que eles são gêmeos, se não fosse pela diferença de idade e tamanho que difere os dois, até poderia ser.

Depois que voltei para o quarto, me joguei na cama e puxei uma das minhas malas para perto. Estava na hora de desfazê-las já que a casa de campo, agora seria meu novo lugar de moradia por um tempo. Retirei dela meu diário, que mamãe havia colocado junto com umas peças de roupas separadas que eu usaria para dormir. Eu não sobreviveria em um lugar tão calmo e distante ao ar livre assim sem ele.

Pego algo sólido o bastante para servir de apoio para que eu pudesse escrever, e com ele uma caixinha de tinta com uma pena que me serviria de caneta. Eu molhei a ponta com a tinta preta e quando estava prestes a escrever, alguém bateu na porta. Observei a mancha de tinta que pingou no papel e pensei por um instante se valeria a pena abrir a porta ou fingir que estava dormindo até escutar a voz dele.

─ Se demorar mais um pouco, eu jogo suas coisas no chão. Isso está pesado, vem logo! ─ resmungou ele atrás da porta.

Me levantei da cama resmungando e guardando o caderno embaixo do travesseiro e logo em seguida, indo em direção a porta logo a abrindo.

─ Satisfeito? Se quebrar alguma coisa dessa caixa, eu faço o mesmo com você!

Edmundo sorriu perverso e colocou a caixa sobre a cama.

─ Calma, não precisa disso. Mas saber que te deixo irritada e me incentivando a deixá-la ainda mais, me faz admitir que talvez eu mereça. Porém vale a pena.

─ Coloca essa caixa logo aí, e sai do meu quarto. ─ Ordenei.

─ Sabia que antes de você chegar aqui, esse era o meu quarto?

Ergui as sobrancelhas e rir.

─ Está rindo de que? ─ perguntou ele cruzando os braços.

─ Por isso ele é tão feio desse jeito.

─ Ele não é feio! ─ afirmou indignado ─ Só é um pouco modesto.

─ Ainda bem que eu vim para cá, e agora posso arrumar esse lugar horrendo e asqueroso.

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⏰ Última atualização: Dec 26, 2021 ⏰

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Os Quatro (Cinco) Reis De NárniaOnde histórias criam vida. Descubra agora