Enquanto a cidade dorme

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— Detetive Daniel Caon, qual é então o motivo dessa coletiva de imprensa com os principais meios de comunicação da cidade de Nova York? — Léo, um pseudo-jornalista que mais estava para fofoqueiro, quis saber com seu gravador em riste. Pela expressão do homem de traços asiáticos à sua frente aquela era uma informação bombástica e ele mais do que ninguém saberia como explorar cada gota daquela fonte.

— Caro Léo, o que venho revelar-lhes é algo tão grande que vale todo esse espetáculo. Rafaella Kalimann, a incorruptível filantropa mais generosa da cidade, a benfeitora dos maiores eventos de caridade do último ano é na verdade uma grande farsa — Todos no grande salão pareceram estar chocados com a revelação saída dos lábios do rapaz que não vacilou em nenhum momento de sua fala. Daniel tinha convicção do que dizia e era assustadora a possibilidade de que estivesse certo.

— E baseado em que o senhor afirma isso? — Outra jornalista, dessa vez Fábia, tentou apurar.

— Rafaella é a super-heroína a qual todos sempre quiseram saber a identidade. É ela quem impediu aquele trem de cair na obra da estação, a que lutou ao lado dos Vingadores contra Thanos, que mais de uma vez salvou o dia nessa cidade — Listou para que todos tivessem sua memória refrescada. Ainda sim encontravam-se contrariados.

— E como isso faz dela uma vilã? — Erlan indagou um tanto quanto cabreiro. Era dos que publicava sem averiguar nada, mas dessa vez no mínimo tinha que checar bem ou tomaria o maior processo de sua vida.

— O simples fato de deitar-se com uma. A Justiceira dos Olhos Verdes com seu super poder de manipulação de mentes não tentou sequer uma vez colaborar com a polícia para captura da Feiticeira Vermelha e tudo porque não quer vencê-la. As duas tem uma relação às escondidas e nos tem feito, a todos nós, de palhaços — Todos ficaram atônitos. Não havia uma boca que não estivesse no chão e o motivo era óbvio: A Feiticeira Vermelha, uma premiada cientista do ramo da genética tinha abandonado uma admirável carreira quando o governo americano começou a considerar suas práticas impróprias.

Bianca, como era conhecida, decidiu por conta própria que sua pesquisa na área de cruzamento de DNA com a finalidade de criar super-seres humanos era um benefício inestimável para biologia e, quando contrariada, voltou-se contra qualquer entidade. Ao ser demitida a profissional, em um ato de fúria, injetou em si mesma uma solução para alteração de sua composição humana. Para todos tornou-se um monstro, mas anos depois surgiu em seu estado perfeito, com a potencialização de tudo que havia em si: Era mais inteligente, mais astuta e ainda mais raivosa. Tornou-se uma inimiga dos Estados Unidos.

— Essa é uma história chocante e você há de convir que para que possamos acreditar nisso precisamos de mais artifícios, logo, detetive Caon é necessário que você nos conte bem do começo o que une duas personalidades tão antagônicas — Nelson, o mais velho entre os sem credibilidade alguma procurou seu espaço.

— Tenho todo tempo do mundo para fornecê-los. Tudo começou no Natal de 2020 quando Rafaella, já Justiceira, e Bianca, antes de ser Feiticeira, conheceram-se...

Nova York, 2020, Empire State...

— Rafaella Kalimann? — O garçom perguntou estendendo um drink em sua direção. Era um copo de conhaque e curação de laranja. Como boa conhecedora de bebidas, ainda mais as mais suntuosas, a mulher reconheceu a mistura. Era um típico e caro Salvatore 's Legacy, um dos coquetéis mais caros do mundo. Embaixo da taça alongada um bilhete com um intenso cheiro de café cuja a letra pintada em tinta preta dizia-lhe:

Para a mulher mais bonita do salão a especiaria mais rara.

Intrigada, a mulher varreu os olhos pelo salão em busca da pessoa que fez aquele galanteio. Não que estivesse impressionada com o presentinho caro, afinal, ela mesma poderia se dar o mesmo por noites a fio sem que os 20 mil reais lhe fizesse cócegas na conta bancária, mas algo naquele aroma a obrigou a buscar o dono.

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