XXXII - Tudo vai ficar bem

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Mamãe sequer me deu o benefício da dúvida, não tive nem a oportunidade de me explicar

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Mamãe sequer me deu o benefício da dúvida, não tive nem a oportunidade de me explicar.

Meia hora depois do ocorrido eu estava compulsoriamente plantada no passageiro de um carro pegando a estrada em direção a Nova York.

Nem precisei fazer minhas malas, Delilah já as havia feito por mim. Tudo o que tive direito foi a um banho, até porque eu estava fedendo, literalmente.

Agora, acrescente a isso o band aid roxo de My little Pony cheio de glitter que cintilava em minha testa machucada, minha humilhação estava completa.

Luke dirigia em silêncio, seus olhos atentos ao trânsito. Mal havíamos trocado uma palavra depois da discussão. Talvez fosse melhor assim, pelo menos não brigaríamos de novo.

Aquelas seriam as cinco horas mais longas da minha vida.

Eu ia com a cabeça virada para a janela, mas minha mente estava longe dali, vagueava por minhas memórias. Como tudo podia estar tão bagunçado? Como eu podia estar tão confusa quanto a tudo? Será que seria assim para sempre, eu teria de passar o restante dos meus dias escondida no acampamento para não ser morta? Eu não pude ir a um parque sem ser atacada por aquelas criaturas ridículas.

Engoli em seco, e quanto a Luke, por que ele ainda não estava sendo sincero comigo? Por que tinha a sensação de que aquilo era pior do que eu imaginava? Por que tudo tinha que ser tão complicado? Nos entendíamos tão bem antes, era tudo tão mais fácil. Agora eu tinha a sensação de que vivíamos em um campo minado, a cada passo uma nova chance de explodir e tudo sair voando pelos ares.

O trânsito estava completamente parado alguns metros à frente, aos poucos o carro foi diminuindo a velocidade até estacar de vez atrás de um corolla branco com placa da Califórnia.

Califórnia.

Eu tinha vontade de conhecer a Califórnia, e a Flórida, Las Vegas, Brasil, Londres também. Céus, eu tinha tanta vontade de viajar o mundo, conhecer tantos países. O único lugar que havia ido, além de Washington, era em Mantova, na Itália, porque minha família morava lá. Eu nunca sequer havia ido a uma praia antes de chegar ao acampamento.

Luke tamborilava os dedos no volante, como se seguisse um ritmo imaginário. Eu tinha a plena certeza que, em sua cabeça, ele trabalhava na melhor forma de falar comigo.

Respirei fundo, buscando oxigênio para dar o pontapé necessário.

— Fui atacada por três empousas — comecei ainda com meu rosto na janela, meus braços cruzados se apertavam em torno do meu peito — Elas diziam não querer me matar, mas serviam a Cronos, disseram que iriam me levar até ele para que eu cumprisse minha missão com o senhor supremo — dei de ombros — Seja lá o que isso signifique.

Senti o olhar de Luke em minhas costas, mas não me virei. Um nó grotesco nascia em minha garganta, eu odiava a facilidade com que as lágrimas se achavam no direito de brotarem em meus olhos.

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