A verdade.

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Martha Akhinory:

Ele chegou em um dia lindo, aqui no Japão era o começo da primavera.
Ethan nasceu no dia quatro de Abril, que aqui no meu país é quando as aulas começam.

Seus pais estavam nos Estados Unidos e eu viajei até lá para poder conhecê-lo. Era uma criança linda, era perfeito. Fiquei com minha filha por cerca de um ano, depois voltei para o Japão... Confesso que meu coração ficou lá com meu netinho, todos os dias ligava para poder vê-lo e conversar com aquele bebê indefeso, mas incrivelmente inteligente.

Os anos passaram e ele completou quatro anos.

Era final do inverno do ano mais bonito... Dia dois de março, o dia que eu encontrei o Ethan pela segunda vez pessoalmente.
Meu netinho precioso havia chegado no Japão, junto de seus pais para morarem perto de mim! Meu sonho se tornou realidade, minha família voltou! Eu sou idosa já... Minha filha veio cuidar de mim, mas eu que acabei cuidando dela.
Ele tinha quatro anos na época e faria cinco anos no próximo mês.
Ethan era muito alto para sua idade, aparentava já ter uns sete anos ou mais, era como um broto de bambu, crescia rapidamente e um dia tocaria as nuvens, ele tinha o cabelo preto como o breu e os olhinhos castanhos escuros do Ocidente.
Ele não se parecia nada com os pais... Afinal, ele não era totalmente japonês, seu pai era dos Estados Unidos e o Ethan puxou características físicas do Ocidente. Mesmo assim, para mim, ele sempre será o meu netinho precioso e o ser humano mais lindo de todo o mundo. Eu prometi cuidar dele como se fosse meu, principalmente agora que havíamos recebido a notícia de que minha filha estava grávida!

Mas a vida nem sempre é um mar calmo, muito menos é feita de rosas... No dia três de Abril algo horrível acontecera...
Minha filha e o marido acabaram se acidentado ao ir para Tóquio buscar as decorações do aniversário que eles planejavam desde o dia em que descobriram a gravidez de Ethan.
Meu neto é e sempre foi o mais importante para nós.
Ethan era muito novinho na época para entender, era pequeno demais para sofrer tanto assim... ele não se recorda do rosto, da voz... ou do toque de ambos os pais.

Eu tentei... tentei muito cuidar dele, dei todo o amor e carinho que pude, cuidei de sua educação e de todas suas necessidades... Mas infelizmente, o cérebro humano ainda é um mistério para todos nós.
Ethan cresceu com medo... Sua cabeça não consegue distinguir a verdade, ele tende a criar um mundo fictício para poder viver bem, a realidade para ele é diferente de como todos nós vemos o mundo. O Ethan se imagina como uma pessoa horrível.
Ele acaba se perdendo em pensamentos e isso acabou prejudicando sua vida.
Eu o levei à uma especialista, "doutora Yan para crianças e adolescentes com transtorno de personalidade antisocial".
Ela fez quase um milagre... Ethan melhorou muito nesses dez anos, mas apesar de tudo nunca conseguimos prever suas ações.

Um dia, Ethan começou a acreditar que era uma pessoa ruim e que ele era perigoso para a Yuri.
Ele começou a odiar sair de casa, se trancava no quarto e nunca falava com ninguém, na escola sempre estava sozinho. Quando fazia as consultas, ele dizia que podia ouvir seus pais gritando no acidente e que ele era culpado, ele dizia que não merecia ser feliz...
O meu doce Ethan, o menino tão esperado... estava se afundando em mentiras que sua própria cabeça o fazia acreditar, o meu pobrezinho... Que a vida castigou de forma injusta.
Ele nunca foi uma pessoa ruim, nunca agrediu ninguém... Ethan nunca ficou internado em lugar algum, sua mente o engana muito e o faz acreditar em coisas horríveis.
Ele teve uma infância e juventude complicada, íamos quase sempre para a clínica e ele passou a tomar antidepressivos e remédios para controlar ansiedade, também fazia tratamento para o transtorno... então sua saúde melhorou aos poucos e ele começou a viver normalmente.

Todos os anos no começo do inverno, Ethan vai até o cemitério e fica por várias horas lá, ele se senta num banco perto do túmulo de seus pais e espera começar a nevar.
Eu nunca entendi o que se passava com ele, muito menos entendia porquê ele fazia aquilo.

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