capítulo 02

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As fortes e geladas rajadas de vento fizeram Marília encolher todo o seu corpo; em pleno final de outono, o frio castigava quase severamente. A garota estava guardando seu crachá em sua bolsa quando suas chaves caíram no chão. Imagine ter que tocar no metal, agora molhado, em pelo nove grausa Celsius?

Serenava devido a hora: Pouco mais das onze da noite. Marília fez o que mais cedo ou mais tarde teria que fazer e acabou pegando a chave do chão. A garota voltou a se levantar, todavia, algo não a deixou se mover. Ela fechou os olhos ao cair em percepção de que deveria ter ido visitar a senhora Almira e Maiara.

Seus passos foram desajeitados e apressados para dentro do hospital e logo ela estava no elevador, rumo ao quarto da garota. Por sorte, não precisou ter que gravar outros números de quarto aquele dia, se não, com certeza teria problema em se lembrar do número do quarto de Maiara.

Assim que chegou ao piso em que deveria descer, ela rumou para o quarto. Deu três suaves batidas na porta e logo a mesma foi aberta.

-Olá... - ela disse docemente - Muito tarde? Se quiser, eu posso voltar amanhã e...

-Não se preocupe, criança. Entre. - Almira disse, vendo Marília (agora não uniformizada) entrar. A garota deixou a bolsa no canto da sala e se aproximou de Maiara.

-Olá, Maiara. Como está? - Marília disse, vendo Almira voltar a se sentar em sua cadeira. -Vejo que pentearam seu cabelo. Está linda!

-Ninguém a visitava e, bem, ela sempre gostou de ficar bem arrumada para as visitas. Dei uma leve ajeitada. - Almira disse sorrindo fraco e Marília agradeceu mentalmente por ter lembrado de visitá-la. A mulher teria se chateado caso cérebro de Marília resolvesse falhar em lembrá-la de algo novamente.

-Oh! - Marília disse. A menor analisou a expressão cansada da mãe de Maiara. Aquela mulher carregava uma dor tão profunda que transparecia no brilho de seus olhos. -Viu só, Maiara? Sua mãe ainda lembra de seus gostos. - Almira riu baixinho e assentiu.

-Você é muito especial, Marília. - Almira disse, causando um sorriso no rosto da menor.

-Obrigada, senhora. Mas me chame de Lila, por favor. - ela disse, sorrindo fraco e Almira assentiu. -Maiara, vou contar para você e sua mãe sobre o meu chefe, quer escutar? - Lila perguntou sorrindo. -Ele brigou muito comigo por ter entrado aqui mais cedo. Ele realmente não deve gostar de mim. - falou rindo.

-Oh, querida. Enganos acontecem. Por que ele brigaria com você?

-Por importunar a paz de uma família. Eu deveria ter ido à outro quarto. Levei bastante xingo, mas sabe, Maiara? Gostei de conhecer vocês duas. - A porta foi aberta de supetão, roubando a atenção do momento, para o doutor que entrava na sala.

-Boa noite, moças. Como estamos por aqui? - o homem que aparentava seus trinta e poucos anos, mas incrivelmente lindo e simpático. - Temos visita nova para você, Maiara? - o homem disse em um tom alegre e empolgado.

-Marília é a nossa nova amiga, Doutor Ribeiro. - Almira disse sorrindo, afastando-se para dar lugar ao médico, que retirava sua pequena lanterna do bolso de seu jaleco.

-Vamos lá. - ele disse, abrindo um dos olhos de Maiara e jogando luz nele.

- Você não se incomoda com isso, Maiara? Se alguém jogasse luz nos meus olhos, eu choraria de raiva. - Marília disse rindo. - Eu sou meio explosiva na TPM.

-Como disse que se chamava? - o médico perguntou, virando-se para Marília.

-Bom, eu não disse. Almira que me apresentou. Sou a Marília.

-Certo, Marília...

-Já sei. Pedirá silêncio. Desculpe! - ela disse rindo, um pouco envergonhada.

-Muito pelo contrário. Continue falando. - Marília arqueou uma sobrancelha.

-Bem, eu não entendi, mas tudo bem. Sou fácil em falar coisas aleatórias do nada. Isso me faz parecer louca? - ela perguntou, vendo Almira rir.

-Não, querida. - a mulher respondeu gentilmente.

-Marília, ande até a porta, por favor. - o homem pediu e Marília assentiu confusa. - Vá falando. - que espécie de louco aquele médico era? Marília resolveu acatar seu pedido mesmo assim.

-Eu não posso ficar falando sozinha, doutor. O senhor me pede para falar, mas é complicado e isso compromete a minha imagem na frente da Maiara.

-Repita o nome dela. - o médico disse com veemência.

-Está tudo bem, doutor? - Almira perguntou preocupada. O homem jamais fizera algo assim em todos os anos que estivera ali. Ele era apenas um interno quando foi apresentado ao caso e permaneceu até os dias atuais ao lado da família.

-Sim. Só preciso que Marília repita o nome da Maiara.

-Claro. Maiara, eu não sei porque o doutor quer que eu repita o seu nome, mas gosto de "Maiara". É um nome bonito e por isso repeti sem problemas.

O homem soltou uma risada animada e apagou a lanterna, olhando para Almira visivelmente comovido. Ele havia se apegado à garota e dizia que naqueles quatorze anos, Maiara lhe ensinava sobre perseverança todos os dias.

-Senhora Pereira, podemos trocar uma palavra? - ele perguntou e Almira olhou confusa e assustada para ele.

-Eu prefiro que Lila esteje comigo. - ela confessou. - Você sabe que eu não tenho... mais ninguém, Doutor. - os olhos negros do homem se direcionaram para Marília antes dele assentir.

-Tudo bem. - ele disse. - Senhora Pereira, de algum maneira a sua filha parece responder quando ouve. As pupilas se dilatam e se movem, porém...

-Oh meu Deus. - Almira disse, levando sua mão à própria boca. -Ela nos ouve? Oh meu Deus. Minha filha... - a mulher começou a chorar e o doutor respirou fundo.

-Preciso que se acalme, senhora. Ainda tem mais. - ele disse, vendo-a limpar algumas lágrimas e voltar a fitá-lo. Almira sentiu um aperto cálido em sua mão, virando-se apenas para ver que era Marília.

-Prossiga, Doutor.

-Bem, o mais estranho de tudo é que, bem...Maiara só responde à voz da Marília. Eu falei e nada, a senhora falou e nada, Marília falou e seus olhos a seguiram. Quando Maiara proferiu o nome dela, era como se seus olhos quisessem se aproximar dela.

-Está dizendo... - Almira foi cortada pelo doutor.

-A voz de Marília é o estímulo que procuramos todos esses anos para Maiara, Almira. - Marília piscou lentamente, tentando processar o que acabara de escutar.

Como raios seu dia se tornaria tão louco?

-

oi meuzamô, mais um cap pra vocês.

valorizem ele ein, meu braço tá todo doído aq de tanto escrever 😉

beijinhos de luz! <3

in the blink of an eye - MaililaOnde histórias criam vida. Descubra agora